04/Dec/2025
O CEO da Zilor, Andre Inserra, afirma que o atual patamar de preços do açúcar não é sustentável por estar próximo ao custo de produção brasileiro, considerado o mais competitivo do mundo. Em entrevista ao Broadcast Agro, ele avaliou que o setor pagou o preço da própria eficiência, levando os mercados internacionais a reduzirem estoques e pressionarem as cotações para baixo. Apesar do ambiente desafiador, a companhia mantém estratégia açucareira para 2026/2027, com 72% do volume já fixado a R$ 2.535,00 por tonelada. Inserra destaca que a entrada expressiva do etanol de milho na próxima safra representa um cenário novo para o setor sucroenergético, mas avalia que, no médio e longo prazos, a demanda internacional por descarbonização deve absorver a oferta adicional. O executivo citou compromissos globais com bioquerosene e aumento do teor de etanol na gasolina como fatores de suporte. Segundo balanço divulgado nesta quarta-feira (03/12), a Zilor registrou lucro líquido de R$ 195,5 milhões no segundo trimestre da safra 2025/2026, alta de 81,8%. A moagem totalizou 5,794 milhões de toneladas, crescimento de 25,2%. Excluindo a Usina Salto Botelho, que começou a ter o seu resultado contabilizado nesta safra, ainda haveria alta de 9,2%, na contramão da queda de cerca de 5% no Estado de São Paulo e 2% no Centro-Sul. Segue a entrevista:
O preço do açúcar está em nível muito baixo. Esse patamar é sustentável ou deve haver uma correção?
Andre Inserra: Estamos bastante atentos ao que está acontecendo no preço do açúcar. É um número muito baixo e não é sustentável, porque fica quase no limite do custo de produção no Brasil. E você sabe que o custo de produção do Brasil é o mais baixo do mundo. A diferença para o segundo colocado é grande. Os mercados internacionais perceberam que o Brasil tinha uma gestão muito eficiente e que era muito confiável. Com isso, acabaram diminuindo um pouco os estoques. Então, por incrível que pareça, o preço está baixo e os estoques também estão. Pagamos um pouco esse preço da nossa eficiência. Houve também o movimento dos fundos apostando no preço do açúcar, o que impactou bastante.
Como a Zilor tem se protegido diante dos preços baixos? A empresa realizou hedge e fixou preços?
Andre Inserra: O hedge é fundamental. Temos uma política bem definida, com limites claros. Fazemos hedge da safra e de mais um ano à frente. Entramos tanto neste ciclo quanto no próximo bastante seguros. Temos um modelo muito interessante: tanto o volume de cana de terceiros quanto os arrendamentos estão indexados ao Consecana. Isso funciona como hedge natural. Quando o preço está muito positivo, dividimos o bolo; quando é negativo, dividimos esse impacto também. É um modelo de parceria muito bem estabelecido na Zilor há mais de 20 anos. Além disso, trabalhamos muito casados com a Copersucar, que tem grande conhecimento de mercado. Para a safra 2025/2026, fixamos 266 mil toneladas a R$ 2.427,00 por tonelada, representando 80% da exposição. Para 2026/2027, já fixamos 287 mil toneladas a R$ 2.535,00 representando 72% do plano de produção.
O mix açucareiro de 50,1% no trimestre prossegue ou pode ser revisto diante dos preços baixos?
Andre Inserra: Nesta safra, além do desafio do clima, também tivemos de lidar com o preço do açúcar e o câmbio. A Copersucar sinalizou logo no início da safra que haveria um prêmio interessante para açúcar branco. Tivemos um benefício automático da Salto Botelho, que é mais açucareira. O que pudemos mudar do mix para açúcar, mudamos. O acumulado está em 48,1%, o que é alto para nós. O etanol reagiu e está num nível estável, com leve tendência de alta. Estamos acompanhando para a próxima safra, preparando orçamento. Acredito que sigamos com tendência de mix mais açucareiro porque o prêmio é diferenciado. Mesmo com o preço mais baixo do açúcar agora, ainda é mais remunerador que o etanol. Olhando o filme, e não a fotografia, e entendendo que esse número não é sustentável por muito tempo, achamos favorável manter o mix mais açucareiro.
Qual é a visão para o mercado de etanol nos próximos meses, especialmente com o aumento da produção de etanol de milho?
Andre Inserra: Existe um cenário novo. O volume de etanol de milho que vai entrar na próxima safra é representativo. Acreditamos que parte desse incremento pode ser absorvido por outros mercados, dependendo da região. É um volume excedente, e nós, usineiros de cana, vamos ter de lidar com isso. Hoje somos 100% cana. Pensando a médio e longo prazo, estamos confortáveis nesse mercado. Vemos demanda internacional crescente por descarbonização. Há vários compromissos globais para ampliar o consumo de combustível sustentável - RenovaBio, bioquerosene, aumento do teor de etanol na gasolina em diversos países. No curtíssimo prazo, seguimos acompanhando e definindo o mix passo a passo.
Vocês aumentaram a moagem enquanto o Estado de São Paulo reduziu em cerca de 5% e o Centro-Sul em 2%. O que explica esse desempenho acima da média?
Andre Inserra: Nosso trabalho no canavial é muito forte, porque tudo começa ali. Usamos ferramentas e tecnologia; ampliamos o uso de fertirrigação, da vinhaça, o que tem ajudado muito na produtividade. Fizemos também um plano de entressafra muito robusto nas usinas, com todos os equipamentos. Não economizamos nisso, porque se houver um problema numa moenda durante a safra para a operação inteira. As chuvas de junho atrapalharam, mas mitigamos com logística forte e parceiros. E a diversificação ajudou. Sofremos um pouco mais em Lençóis, mas a Salto Botelho foi muito bem, com um canavial que surpreendeu positivamente. Quatá foi a grande surpresa: houve melhora muito significativa na qualidade da cana, com aumento de 24,2% no TCH, e a eficiência da usina foi excelente.
A Usina Salto Botelho contribuiu com R$ 35,7 milhões no trimestre. A unidade já atingiu o desempenho esperado ou ainda há sinergias?
Andre Inserra: Fizemos um trabalho muito estruturado para aproveitar tudo que havia de bom na Salto Botelho. Trouxemos valores importantes para nós, como segurança, e incorporamos também muito da cultura do dono - eficiência, otimização. Parte das sinergias já alcançamos. Estamos terminando a integração do SAP no fim de dezembro; depois virão outras sinergias para integrar tudo ao nosso sistema. O ramp-up foi bem superior ao que eu imaginava. Atingimos em setembro o número previsto de moagem para a Salto Botelho e vamos superar o planejado.
Quando vocês vão parar a moagem e qual deve ser o fechamento da safra 2025/2026?
Andre Inserra: Fechamos a moagem em Lençóis no fim de novembro, praticamente no nível planejado. Em Quatá e na Salto Botelho, como a disponibilidade de cana foi melhor e o clima menos impactante, decidimos esticar até meados de dezembro. Faço parte do Conselho Consultivo da Copersucar e quase metade das usinas do Sistema também esticaram até dezembro. Vamos entregar acima do planejado em moagem e bem acima da safra anterior, mesmo excluindo Salto Botelho da conta.
Como o senhor vê a estrutura de capital da Zilor após a emissão de R$ 300 milhões em CRA?
Andre Inserra: A emissão de CRA foi estratégica para alongar o perfil da dívida, com vencimentos entre 7 e 10 anos. Isso nos dá tranquilidade para seguir investindo em produtividade e eficiência. A alavancagem caiu de 1,67 vez para 1,44 vez, refletindo nossa geração de caixa e disciplina financeira. Fizemos a lição de casa: fortalecemos governança, profissionalizamos modelo, trouxemos conselheiros independentes, investimos nas usinas, na lavoura, em cogeração. Estamos confortáveis com esse nível e preparados para cenários mais desafiadores de preços.
Fonte: Broadcast Agro.