19/Nov/2025
Na edição mais recente de seu relatório Perspectivas para a Energia Mundial, a Agência Internacional de Energia (AIE) estima que a demanda global por petróleo e gás pode continuar crescendo até 2050. No ano passado, a mesma AIE previu que o pico da demanda por combustíveis fósseis se daria em 2030, visão amplamente contestada por grupos como a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Ressalte-se que, entre um relatório e outro, mudou o presidente dos Estados Unidos, que sozinhos respondem por 18% do orçamento da AIE, criada nos anos 1970 em resposta ao choque de preços do petróleo. Com o retorno do republicano Donald Trump à presidência, o estímulo à exploração de combustíveis fósseis voltou a ser a política energética preferencial dos Estados Unidos, em detrimento da agenda verde do ex-presidente democrata Joe Biden. Além de eliminar subsídios federais a carros elétricos, Donald Trump vem pressionando petroleiras a produzirem mais e agências como a AIE a pararem de defender a energia renovável.
Pressões políticas à parte, o mais recente relatório da agência internacional parece mais realista do que o anterior, que decretava que a demanda por petróleo atingiria o pico de 102 milhões barris por dia (mb/d) em 2030 e, a partir daí, passaria a cair. Sob o atual cenário político, a AIE prevê que a demanda por petróleo pode alcançar a marca de 113 mb/d em 2050, 13% a mais que em 2024. Para chegar às conclusões da publicação, a AIE voltou a traçar cenários com base em políticas energéticas efetivamente adotadas, e não apenas em compromissos declarados. O modelo que leva em conta as políticas de fato adotadas soa mais racional do que o que considera apenas as aspirações climáticas dos países. Como se sabe, anunciar e realizar são coisas completamente distintas. No mundo real, para além do negacionismo climático de Trump e do alarmismo apocalíptico de alguns ativistas do clima, tanto a exploração de fontes fósseis quanto o desenvolvimento de energias renováveis têm crescido significativamente, por uma infinidade de razões.
Grande consumidora de petróleo, a China, por exemplo, vem procurando reduzir essa dependência por meio do desenvolvimento de carros elétricos, cada vez mais presentes em todo o mundo, além de ser uma grande produtora de painéis solares. A Guiana, até pouco tempo atrás um pequeno e esquecido país da América do Sul, tem visto seu PIB crescer vertiginosamente nos últimos anos graças à exploração do petróleo. Embora tenha se dado amplo destaque ao alerta que a AIE faz sobre o aumento da temperatura global, uma vez que a crescente demanda por combustíveis fósseis dificulta o cumprimento do Acordo de Paris, a agência também tratou de questões complexas no universo das fontes renováveis. Na seção do relatório que trata da América Latina, a AIE destaca que o rápido crescimento das energias eólica e solar obrigou tanto o Brasil quanto o Chile a cortarem a geração de energia e a desligarem usinas ao longo de 2024. A contribuição de fontes renováveis à adição de capacidade energética na América Latina saltou de 40%, em 2010, para 90% em 2025 (acima da média global), o que obviamente é positivo.
No Brasil, porém, o consumidor vive a absurda realidade de pagar caro por energia abundante e, ao mesmo tempo, enfrentar riscos de apagão por sobrecarga elétrica. O momento, portanto, exige equilíbrio, e não catastrofismo. A demanda por energia, independentemente do tipo, voltou a acelerar após a pandemia de Covid-19. No caso do petróleo, paradoxalmente, o aumento da exploração pode levar a um enfraquecimento de preços, o que por si só inviabiliza projetos mais custosos e, em consequência, a produção. Em relação às fontes renováveis, é necessária toda cautela do mundo para que a necessária transição energética não seja mera desculpa para o pagamento perpétuo de subsídios injustificáveis. A realidade é que fontes fósseis e renováveis coexistem e a chamada energia limpa só suplantará a velha gasolina quando questões como preço e oportunidade assim o permitirem. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.