14/Nov/2025
Um estudo conduzido pela Agroicone, em parceria com pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Politécnico de Torino, concluiu que o avanço da produção de etanol de cana-de-açúcar no Brasil não compete com alimentos nem compromete a segurança alimentar. Publicada na revista científica GCB Bioenergy, a pesquisa analisou mais de 5,4 mil municípios e três edições da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) para avaliar o impacto do crescimento de 159% na produção de etanol entre 2000 e 2010. O período coincidiu com uma das maiores expansões do setor sucroenergético e permitiu testar, pela primeira vez com dados de larga escala, o suposto conflito entre biocombustíveis e alimentos. Segundo os autores, não há evidências estatísticas que sustentem a relação "alimentos x biocombustíveis”.
Os principais fatores associados à segurança alimentar refletem as condições de vida das famílias, que determinam sua capacidade de obter alimentos em quantidade e qualidade adequadas. O estudo aponta que o avanço da cana-de-açúcar apresentou correlação positiva e estatisticamente significativa com o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), utilizado como referência de bem-estar, embora de pequena magnitude. Ou seja, não há prejuízo mensurável à segurança alimentar e, em alguns contextos, observa-se um efeito marginalmente positivo. A pesquisa também utilizou a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA), aplicada a mais de 100 mil domicílios em três edições da PNAD (2004, 2009 e 2013). Os modelos econométricos apresentaram alta capacidade preditiva, entre 74% e 79%. Os autores revisaram ainda estudos internacionais e encontraram apenas quatro análises causais sobre o tema, com resultados divergentes.
Na Indonésia, o biodiesel de palma melhorou a segurança alimentar; no México, o etanol de milho a comprometeu. Isso mostra que o impacto depende do tipo de matéria-prima e das condições locais. O trabalho indica que o crescimento da produção de etanol gera mais empregos e renda nas regiões canavieiras, com efeito positivo, ainda que pequeno, sobre a segurança alimentar. Uma maior produção de etanol resulta em mais oportunidades de trabalho e aumento salarial, criando o que os autores descrevem como um efeito multiplicador na economia local. As usinas, geralmente instaladas próximas às áreas de cultivo, intensificam esse impacto regional, promovendo desenvolvimento econômico nos municípios produtores. O estudo reforça que fatores sociais e programas de transferência de renda, como o Programa Bolsa Família, têm peso mais relevante na segurança alimentar do que a disponibilidade de alimentos.
Infelizmente, o debate ‘alimentos versus biocombustíveis’ tem se concentrado na oferta física de alimentos, ofuscando os fatores críticos do lado da demanda. Além de analisar os impactos sociais e regionais, o estudo contextualiza a relevância global do tema. Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), a demanda mundial por biocombustíveis chegou a 176 bilhões de litros em 2023 (61,5% de etanol) e deve crescer 19% até 2030, alcançando 215 bilhões de litros. Etanol e diesel renovável devem responder por dois terços desse aumento. Nesse contexto, o Brasil é apontado como exemplo de compatibilização entre segurança alimentar e transição energética. A experiência brasileira mostra ser possível produzir biocombustíveis em larga escala sem comprometer a segurança alimentar, em linha com as metas globais de sustentabilidade. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.