25/Sep/2025
As montadoras chinesas tiveram um desembarque avassalador no Brasil. Menos de quatro anos depois de BYD e GWM começarem a vender seus primeiros modelos no País, as marcas chinesas já respondem por mais de 10% do segmento de carros de passeio. Dados de janeiro a agosto levantados pela consultoria K.Lume mostram que as marcas chinesas já chegaram a 11% do segmento. Aos poucos, concessionárias de carros chineses se espalham pelo País. Mapeamento da Neocom, empresa especializada em análises do mercado automotivo, mostra que BYD, GWM, Omoda & Jaecoo (O&J) e GAC têm, juntas, 347 pontos de venda, entre concessionárias completas e showrooms. A China tem levado larga vantagem na introdução dos carros híbridos e elétricos no mercado brasileiro. O apetite das empresas chinesas é grande, como mostram as metas anunciadas.
Enquanto a BYD mira uma posição entre as cinco maiores marcas do País (hoje, está no sétimo lugar em automóveis), a GWM fala em chegar a um volume entre 250 mil e 300 mil veículos no Brasil, embora sua fábrica em Iracemápolis (SP) arranque com capacidade de produção de 50 mil carros por ano. Essa ambição será desafiada, no entanto, por lançamentos programados pelas montadoras tradicionais, incluindo a chegada de automóveis híbridos das três representantes do pelotão de frente: Stellantis (dona das marcas Fiat, Jeep, Peugeot, Citroën e RAM), General Motors e Volkswagen. Pesquisa da Webmotors mostra que praticamente metade dos consumidores vê a insuficiência de pontos de recarga e a sensação de dificuldade na revenda como obstáculos à compra de carros elétricos e híbridos plug-in, aqueles cuja bateria é carregada na tomada. Nos últimos três anos, enquanto enfrentavam barreiras tarifárias nos Estados Unidos e na Europa, as marcas chinesas multiplicaram por sete suas vendas no Brasil.
Nas previsões da Bright Consulting, devem fechar 2025 acima de 260 mil unidades, o equivalente a 10% do mercado, quando se consideram carros de passeio e comerciais leves. Após pressão das montadoras tradicionais, representadas pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o imposto sobre as importações de carros híbridos e elétricos vem subindo gradualmente desde o ano passado, com retorno à alíquota máxima (35%) marcado para julho do ano que vem, o que atinge sobretudo os veículos da China. Montadoras com fábricas no Brasil, como a BYD, que está prestes a começar a produzir em Camaçari (BA), e a GWM, que já tem fábrica funcionando, têm à disposição cotas que somam US$ 463 milhões para trazer automóveis desmontados sem Imposto de Importação. Fora das cotas, poderão contar até o fim do ano que vem com Imposto de Importação mais baixo, 14%, ante alíquotas que variam entre 25% e 30% sobre carros totalmente montados.
A partir de janeiro de 2027, no entanto, o imposto será de 35% para todos os automóveis, incluindo os que terão montagem final no Brasil. Diante de tributos mais altos nas importações e com novos concorrentes pela frente, a desaceleração no crescimento dos carros chineses está sendo projetada por algumas consultorias. Entre elas, a Bright Consulting vê a participação de mercado deles estacionar em 13% a partir de 2027. Segundo a Neocom, a cidade de São Paulo (SP), maior mercado do País, já emite sinais de que as marcas chinesas não encontrarão a mesma facilidade para seguir crescendo de forma exponencial. Na capital paulista, quase metade da expansão das vendas de carros eletrificados de janeiro a julho foi explicada pelo Fastback, um híbrido da Fiat. A Fiat foi a marca que mais cresceu nesse segmento, o que evidencia o desafio que as montadoras chinesas enfrentarão à medida que as marcas tradicionais de grande volume lançarem seus produtos elétricos e híbridos.
Ainda que o mercado de veículos se torne mais concorrido no Brasil, analistas entendem que, salvo exceções, a prioridade das marcas chinesas no País continuará sendo obter lucro, algo que tem sido difícil na China, em vez de buscar volumes nos segmentos de entrada, cujos modelos são vendidos a preços abaixo de R$ 120 mil e com margens menores. Mesmo assim, a tendência é de que as marcas chinesas continuem dominando o mercado de novas tecnologias, no qual controlam toda a cadeia (dos minérios críticos à produção de baterias), contam com escala e têm preços imbatíveis. Conforme a K.Lume, a dinâmica vai mudar bastante nos próximos anos, mas é "factível" que os chineses fiquem com 15% do bolo. A Anfavea avalia que "não vai ser fácil enfrentar a turma". As marcas chinesas trouxeram tecnologias a uma equação de custo-benefício surpreendente, em especial carros elétricos e híbridos plug-in.
A saída das marcas tradicionais foi buscar parcerias com grupos chineses ou de outros países da Ásia, como a Leapmotor, cujos carros desembarcam no Brasil por meio de uma joint venture com a Stellantis, e a associação entre a General Motors e a coreana Hyundai, na qual as duas vão dividir a conta dos pesados investimentos na transição aos automóveis híbridos e elétricos. O horizonte automotivo do Brasil está mudando rapidamente, porque os consumidores gostaram das novas tecnologias", afirma a consultoria ZagWork. Para a Alvarez & Marsal (A&M), os chineses provavelmente vão dominar cada vez mais o segmento de carros acima de R$ 300 mil. Embora existam na China modelos compactos que poderiam ser vendidos no Brasil a R$ 100 mil, a estratégia chinesa tem foco na alta gama. É a faixa do mercado onde as montadoras obtêm melhor retorno. Existe a intenção de fazer com que o veículo se torne um carro de desejo. Depois, vai descendo. Os chineses ainda vão chegar ao carro elétrico de R$ 100 mil. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.