08/Sep/2025
Um estudo com mais de 12 mil brasileiros publicado no dia 3 de setembro, no periódico científico americano Neurology, um dos mais respeitados no campo da neurologia, mostra que o alto consumo de alguns adoçantes artificiais pode estar associado a um declínio mais rápido da cognição. A pesquisa, feita por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), acompanhou mais de 12 mil brasileiros por cerca de oito anos, monitorou o consumo de sete tipos de adoçante frequentemente presentes em alimentos e bebidas: aspartame, sacarina, acessulfame-K, eritritol, xilitol, sorbitol e tagatose. A sucralose não entrou no estudo porque não era amplamente disponível no País quando o trabalho foi iniciado, em 2008. O artigo, porém, ressalta que a sucralose já foi associada em estudos anteriores à redução do desempenho nos domínios de memória e função executiva.
Os participantes da pesquisa foram divididos em três grupos de acordo com o padrão de uso de adoçantes: o de consumo alto ingeria, em média, 191 miligramas diárias do produto (o que equivale à quantidade de adoçante presente em uma latinha de refrigerante diet, por exemplo). Aqueles classificados como de consumo médio usavam 65 miligramas por dia. Os de consumo baixo ingeriam 20 miligramas diárias. Ao longo dos oito anos de acompanhamento, os participantes realizaram testes cognitivos voltados para memória, fluência verbal, velocidade de processamento e raciocínio. Os resultados mostraram que o declínio cognitivo foi 62% mais acelerado entre aqueles que consumiam maiores quantidades de adoçantes em comparação aos que ingeriam menos, o que representaria um declínio um ano e meio mais acelerado.
No grupo de consumo médio, a queda cognitiva foi 35% mais rápida. Os efeitos se mostraram especialmente evidentes em pessoas com menos de 60 anos, com impacto mais claro nas habilidades de linguagem e no desempenho cognitivo global, e foram ainda mais acentuados entre participantes com diabete, sobretudo no domínio da memória. Dos sete adoçantes avaliados, seis estiveram ligados ao declínio cognitivo mais acelerado; tagatose não mostrou associação significativa. Já havia alguns estudos pequenos mostrando uma relação entre adoçantes e cognição, mas eram mais limitados. O estudo levanta um alerta sobre as escolhas alimentares. O conselho é moderar o que a pessoa adoça, parar ou reduzir o uso, reeducar o paladar para comer coisas com menos açúcar e buscar opções naturais de adoçante, como mel.
Em editorial publicado na Neurology comentando o estudo, o médico norte-americano Thomas Monroe Holland, do Rush Institute for Healthy Aging, dos Estados Unidos, destaca que a pesquisa brasileira se soma a um corpo crescente de evidências de que aditivos alimentares comuns em ultraprocessados, como os adoçantes artificiais, podem afetar a saúde do cérebro de formas que médicos e cientistas “só agora começam a compreender”. Ele diz ainda que os achados podem levar médicos a reconsiderar as recomendações dietéticas padrão. A suposição generalizada de que os adoçantes de baixa ou nenhuma caloria representam uma alternativa segura ao açúcar pode estar equivocada. Os consumidores precisam estar atentos aos rótulos de alimentos anunciados como saudáveis porque muitos deles são adoçados com produtos como o aspartame, que já foi ligado também a um maior risco de câncer. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.