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02/Sep/2025

SAF: estimativa para a demanda no Brasil em 2037

Segundo o Itaú BBA, o Brasil poderá demandar entre 2,8 bilhões e 5,5 bilhões de litros de combustível sustentável de aviação (SAF) em 2037. O volume corresponde a até metade do consumo estimado de querosene de aviação (QAV) no País naquele ano, previsto em 11 bilhões de litros. A grande variação na estimativa, no entanto, não reflete incerteza sobre a demanda de voos, mas sim a sensibilidade do mercado ao tipo de SAF produzido. Como as metas de descarbonização são definidas por redução de emissões e não por volume, combustíveis menos eficientes (com maior intensidade de carbono) exigirão volumes muito maiores para cumprir as mesmas metas. É por isso que a demanda pode variar tanto. A meta do Programa Nacional de Combustível Sustentável de Aviação (ProBioQAV) exige que os voos domésticos reduzam suas emissões em 10% até 2037.

Para cumprir a meta doméstica, serão necessários entre 600 milhões de litros de SAF produzido pela rota HEFA (ésteres e ácidos graxos hidroprocessados) a partir de óleo de cozinha usado (UCO), o mais eficiente, e 1,7 bilhão de litros do HEFA coprocessado com óleo de soja, menos eficiente. O desafio será ainda maior, e mais complexo, nos voos internacionais, regulados pelo esquema global Corsia (Esquema de Compensação e Redução de Carbono para a Aviação Internacional). Esse programa entra em fase obrigatória em 2027. Caso a redução de emissões seja atendida exclusivamente com SAF, seriam necessários volumes elevados, como 2,2 bilhões de litros de HEFA a partir de UCO. Contudo, a demanda internacional não é garantida para o Brasil. O Corsia é um mercado global, e as companhias aéreas tendem a concentrar suas compras nos países onde o SAF oferece a melhor relação preço versus redução de emissões.

O sistema privilegia a produção e o consumo do SAF na origem da matéria-prima, o que ajuda os mais eficientes a centralizar a demanda global. Para atrair essa demanda, o Brasil precisará não só de matéria-prima, mas também de preços competitivos e regulamentação alinhada. A produção brasileira de SAF ainda não começou, mas o País reúne vantagens competitivas fundamentais, como a vasta disponibilidade de etanol, óleos vegetais e resíduos de baixa pegada de carbono. Um sinal do potencial interesse é que uma chamada pública conjunta de BNDES e Finep em 2024 recebeu 43 propostas de projetos para biocombustíveis sustentáveis, somando R$ 120 bilhões em investimentos. Entretanto, o caminho está cheio de obstáculos. O Brasil ainda precisa criar um modelo de incentivos, com subsídios e isenções fiscais, para viabilizar economicamente os projetos e equilibrar o custo mais alto do SAF em relação ao querosene fóssil.

A incerteza regulatória e o risco de atrasos nas metas, como os observados recentemente na União Europeia devido ao custo mais alto das passagens, são apontados como ameaças concretas ao cronograma. Além disso, é crucial que o governo e a indústria trabalhem para que as matérias-primas brasileiras, como o etanol de milho com caldeira à biomassa e o óleo de macaúba, tenham sua baixa pegada de carbono reconhecida e certificada pelas metodologias internacionais do Corsia, um processo demorado e essencial para transformar a vantagem natural em vantagem de mercado. O sucesso do uso do SAF no mundo dependerá do acesso a matérias-primas de baixo custo e baixas emissões. Para esse objetivo, o Brasil exercerá um papel crucial, mas dependerá dos esforços conjuntos do governo, academia, agronegócio e indústria para viabilizar que esse potencial seja aproveitado. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.