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30/Jul/2025

Açúcar Orgânico: exportação aos EUA inviabilizada

O Brasil deve perder espaço no mercado de açúcar orgânico dos Estados Unidos, principal destino da exportação do produto. A combinação entre a elevação de tarifas para produtos brasileiros, que passam a 50% a partir de 1º de agosto, e o cancelamento de cotas para “açúcares especiais” a partir de outubro ameaça a atividade e deve provocar mudanças na produção das usinas. A produção brasileira de açúcar orgânico é de até 280 mil toneladas por safra, em relação à produção total de cerca de 40 milhões de toneladas, a maior do mundo. Apesar do pequeno volume, o produto é importante por causa do alto valor agregado. Enquanto o açúcar convencional vale cerca de US$ 500,00 por tonelada no mercado internacional, o açúcar orgânico é cotado entre US$ 800,00 e US$ 1.300,00 por tonelada.

Dados da Associação de Comércio de Orgânicos dos Estados Unidos (OTA) mostram que 44% do açúcar orgânico adquirido pelo país no último ano comercial (outubro de 2023 a setembro de 2024) teve origem no Brasil, seguido por Paraguai (17,2%) e Argentina (15,9%). Entre as exportadoras brasileiras, a Native embarcou 44 mil toneladas para os Estados Unidos no último ano fiscal. A Jalles Machado, segunda maior exportadora do País, produziu 105,8 mil toneladas na safra 2024/2025, com cerca de 60% desse volume destinado ao mercado externo. Goiasa e Adecoagro são os demais produtores e exportadores de açúcar orgânico no País. Os Estados Unidos têm uma importância gigante para o mercado brasileiro. Dependendo da usina, o país representa de 60% a 70% das exportações de açúcar orgânico.

Além da nova tarifa de 50% aplicada aos produtos brasileiros, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) anunciou o fim da cota de importação para açúcares especiais, regime que permitia a entrada de 210 mil toneladas de açúcar orgânico com isenção tarifária. Segundo a OTA, a decisão do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) de não renovar a Cota de Açúcares Especiais vai gerar mais de US$ 85 milhões em tarifas adicionais sobre as importações de açúcar orgânico, elevando a carga tributária total para cerca de 34% do custo final, ante 12% neste ano e apenas 4% no ano passado. De acordo com a Native, o impacto total pode ser ainda maior para as usinas brasileiras. A tarifa total pode chegar a 98%, somando os US$ 357,00 da tarifa-base com a nova sobretaxa de 50%.

A Native exporta para 74 países, mas não há outro mercado com a estrutura dos Estados Unidos para acolher a produção. Para a Jalles Machado, não há alternativa viável no curto prazo. Não há como compensar essa perda em outros países, porque o mercado do restante do mundo é muito pequeno. O mercado mundial é 50% Estados Unidos, 30% Europa e 20% o restante, como Coreia do Sul, Japão, China e Canadá. Diante da perspectiva de perda de competitividade, a Jalles já avalia mudanças no modelo de produção. Se o tarifaço for mantido, a empresa perde competitividade e terá que reduzir a produção, migrando lentamente para o manejo convencional, algo do qual a Jalles trabalhou muito para sair. A migração para o modelo convencional ainda não começou, mas está no radar da companhia.

A empresa pode processar a cana-de-açúcar orgânica de forma convencional na indústria, reduzindo o custo industrial, embora o custo agrícola, que é mais pesado, já tenha sido feito. A maior preocupação é com a tarifa adicional de 50%. A eliminação da cota de special sugars afeta também Colômbia, Paraguai e Argentina. Mas só o Brasil foi punido com a tarifa de 50%, enquanto os demais seguem com 10%. Hoje, o açúcar brasileiro fica 40% mais caro. O Brasil será gradualmente substituído, por dois motivos: o preço vai subir a ponto de reduzir o consumo, e os concorrentes terão condições mais competitivas. O mercado norte-americano se tornou essencial após o Brasil perder espaço na Europa por causa de vantagens tarifárias obtidas por concorrentes sul-americanos.

Com acordos comerciais firmados entre a União Europeia e países como Colômbia e Peru, esses concorrentes passaram a ter livre acesso ao mercado europeu, sem tarifa. Enquanto isso, o açúcar brasileiro paga um imposto de 419,00 euros por tonelada. O Brasil tem perdido participação no mercado europeu ano a ano. A Colômbia garantiu uma cota de 80 mil toneladas com isenção tarifária por estar fora do Mercosul e negociar bilateralmente com a União Europeia. O Brasil já chegou a exportar 22 mil toneladas para a Europa em 2017/2018. Hoje, são apenas 5 mil toneladas. A limitação do mercado interno também preocupa. A demanda está entre 35 mil e 40 mil toneladas.

A Native detém cerca de 50% e é o maior player. A Jalles é a segunda. Mas, parte desse açúcar é usado em produtos exportados para os Estados Unidos, como o açaí orgânico do Pará. Isso pode comprometer até a disponibilidade de açúcar orgânico no Brasil, porque a produção não se sustenta só com o mercado interno. No curto prazo, os embarques aos Estados Unidos devem continuar apenas até outubro, se nada mudar nos próximos dias. O Brasil ainda deve embarcar em setembro e outubro, porque não há estoque nos Estados Unidos. Mas, a partir de então, ficará muito difícil. Com as novas tarifas, os embarques para os Estados Unidos se tornam inviáveis, explicou a Native. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.