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28/May/2025

Carro Elétrico: entrevista Henry Joseph Jr - Anfavea

À frente da diretoria de Sustentabilidade e de Parcerias Estratégicas e Institucionais, criada no ano passado pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Henry Joseph Junior está entre os principais experts do Brasil em temas relacionados a combustíveis e emissão veicular. Ele diz acreditar que o espaço para veículos eletrificados no Brasil tem crescido de forma consistente, já atingiram 10,1% das vendas de veículos novos em abril, e que essa participação tende a subir ainda mais. Para ele, porém, a questão da infraestrutura ainda é um ponto que preocupa, principalmente no caso dos carros 100% elétricos. Não há uma expansão dos pontos de recarga na mesma velocidade do aumento das vendas. Henry atuou por 36 anos na engenharia da Volkswagen e foi um dos responsáveis pela criação da tecnologia flexfuel, hoje dominante na frota brasileira. Segue a entrevista:

Como está hoje o mercado de carros elétricos e híbridos no Brasil?

Henry Joseph Junior: Apesar dos poucos incentivos tributários, a participação de eletrificados nas vendas brasileiras de veículos novos já atingiu 10,1% no último mês de abril e continua crescendo mês a mês. Nos primeiros quatro meses de 2025, está em 9,8%. Em todo o ano de 2024 esta participação foi de 7,2%.

Boa parte desses veículos é composta por carros 100% elétricos, todos importados, e que precisam ser carregados em tomadas. Como está a infraestrutura de abastecimento?

Henry Joseph Junior: Certamente, a situação da infraestrutura preocupa, pois não vemos uma expansão dos pontos de recarga na mesma velocidade do aumento das vendas. Um exemplo é a situação das frotas de ônibus elétricos adquiridos na capital paulista e que estão parados nas garagens dos operadores por falta de condições de recarga. Mas acreditamos que este quadro possa se modificar rapidamente, à medida que investimentos privados aumentem.

A Anfavea defende que, no Brasil, a melhor opção são os híbridos flex que podem usar etanol. Diante do que vem ocorrendo em vários países, em especial na Europa e nos EUA, onde as vendas de elétricos estão caindo ou pararam de crescer, o sr. diria que a opção do Brasil é mais viável e que o País pode ser líder na descarbonização veicular quando for feito um balanço global dos resultados das políticas e estratégias adotadas por cada país?

Henry Joseph Junior: A Anfavea não defende nenhuma rota tecnológica específica. Defendemos a necessidade da descarbonização, seja por via da eletrificação ou dos biocombustíveis. Estudos nossos de 2021 e de 2024 mostraram claramente que ambas as rotas podem ser seguidas e são complementares. A decisão de qual rota seguir é dos fabricantes. Obviamente, dada a experiência que temos com o uso de biocombustíveis, a associação destes com a eletrificação nos veículos híbridos flex se torna uma solução muito adequada para o mercado local.

Praticamente todas as montadoras instaladas no País anunciaram investimentos para produção local de carros híbridos e híbridos plug-in (que podem ser recarregados na tomada). Já é possível projetar qual será a participação desses modelos nas vendas totais até 2030?

Henry Joseph Junior: Sim. O nosso último estudo mostrou que as vendas de veículos leves híbridos e plug-in serão de 29% a 38% em 2030. O quanto deste total será flex é difícil dizer, mas certamente será a maioria.

Há uma reivindicação da Anfavea para que o governo federal antecipe a cobrança integral do Imposto de Importação de carros elétricos e híbridos, cuja alíquota cheia de 35% está prevista para meados de 2026. Há alguma sinalização do governo?

Henry Joseph Junior: O governo tem se mostrado bastante sensível a esta reivindicação e acreditamos que o aumento da alíquota é somente uma questão de tempo. Certamente toda esta discussão internacional sobre tarifas de importação é um dos principais motivos do porquê esta decisão ainda não foi adotada.

O sr. pode explicar por que essa antecipação é necessária para o setor, já que, no caso dos elétricos, especificamente, é uma nova tecnologia e não há produção local desse tipo de veículo?

Henry Joseph Junior: A explicação é simples: não temos produção local porque não temos fornecedores locais dos principais componentes. E não temos estes fornecedores porque a importação dos veículos completos é mais barata do que investir para produzir os componentes localmente. Sem uma proteção tarifária, não há segurança para o investimento.

Fonte: Broadcast Agro.