27/May/2025
O impasse que envolve a Petrobras e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em torno da Margem Equatorial, considerada uma espécie de segundo Pré-sal, é o exemplo clássico da luta contínua para equilibrar a produção de energia e a proteção ambiental, diz o economista Kenneth Medlock III, diretor sênior do Centro de Estudos sobre Energia da Rice University. Se a licença para os testes exploratórios não for concedida, o País pode perder dos dois lados. O Brasil perderá a oportunidade de gerar riqueza monetizando seus recursos petrolíferos. Além disso, o apetite estrangeiro pelo Brasil também pode ser impactado. A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) realiza no mês que vem um leilão, no qual 47 blocos estão na Bacia da Foz do Amazonas, justamente onde a Petrobras tenta perfurar o primeiro poço após ter o seu pedido negado pelo Ibama, em 2023. Segue a entrevista:
As incertezas desencadeadas pelas tarifas de Donald Trump têm pressionado os preços do petróleo para baixo. Como as empresas do setor devem se preparar para esse novo ambiente?
Kenneth Medlock: As tarifas estão aumentando as incertezas e gerando uma perspectiva negativa para a economia global. Dada a centralidade dos Estados Unidos e da China, os dois maiores consumidores mundiais de petróleo, as perspectivas de demanda não são boas. Além disso, as ações da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) para flexibilizar as restrições à produção de petróleo ajudam a impactar o preço negativamente. As empresas devem se concentrar, no curto prazo, em manter a disciplina de capital e aprimorar a eficiência operacional. Outras inovações para redução de custos também devem ser aceleradas. Isso manterá os balanços patrimoniais saudáveis, permitirá que as empresas identifiquem oportunidades lucrativas de consolidação e viabilize o crescimento a longo prazo.
Como o senhor vê a importância da descoberta de novas áreas para o setor energético e o desenvolvimento econômico dos países, em especial, emergentes como o Brasil?
Kenneth Medlock: Isso é muito importante. Em períodos de pressão nas margens, os esforços de exploração mais inovadores facilitam o crescimento futuro. Mesmo que a demanda permaneça estagnada, novas descobertas serão necessárias para compensar o declínio na produção dos campos existentes. Portanto, novas áreas serão importantes para manter o equilíbrio do mercado.
No Brasil, a Petrobras tenta obter a licença ambiental para iniciar os testes exploratórios na Margem Equatorial. Como o senhor avalia esse impasse?
Kenneth Medlock: Este é um exemplo clássico da luta contínua para equilibrar a produção de energia e a proteção ambiental. A demanda por petróleo não está desaparecendo, portanto, a Petrobras precisa demonstrar que pode expandir sua produção e, ao mesmo tempo, ter um forte compromisso ambiental em suas atividades.
Quais são os riscos se a exploração na Margem Equatorial não for aprovada, considerando que esta é uma das novas áreas mais promissoras para o Brasil repor suas reservas de petróleo na próxima década?
Kenneth Medlock: O Brasil perderá a oportunidade de gerar riqueza monetizando seus recursos petrolíferos. Ironicamente, a exploração dos recursos petrolíferos estimados na região poderia fornecer financiamento para reduzir a remoção ilegal de madeira e outras mudanças no uso da terra, o que seria positivo sob a perspectiva ambiental.
O Brasil terá no mês que vem um novo leilão de petróleo, sendo a maioria na Bacia da Foz do Amazonas. O apetite do estrangeiro, caso o aval para a Margem Equatorial não venha, poderia estar em risco?
Kenneth Medlock: O capital estrangeiro não estará em risco, mas o País pode não ser tão atraente para esses investidores. Se a Margem Equatorial for liberada para exploração, o capital estrangeiro terá melhores oportunidades no Brasil. Sem o aval para a região, o interesse estrangeiro poderá se reduzir, voltando-se a áreas mais promissoras.
Levando em conta que a Guiana obteve sucesso do seu lado da Margem Equatorial, a região pode servir de catapulta ao desenvolvimento econômico do País?
Kenneth Medlock: As avaliações de recursos na área parecem positivas. Mas é preciso comprovar que esse potencial é comercialmente viável antes que possamos dizer se será transformador para o Brasil. Se a exploração e a avaliação mostrarem que o recurso é comercialmente atraente, será um enorme benefício para o Brasil.
O slogan do governo Trump, 'drill, baby, drill', é um retrocesso na agenda verde e sustentável do setor energético? Por quê?
Kenneth Medlock: Não. Não é um retrocesso porque é apenas um slogan. A indústria não vai explorar apenas porque um presidente sinaliza o desejo de fazê-lo. A indústria só o fará se for lucrativa. Não mudou nada se o presidente não tivesse dito isso. Em geral, a indústria busca maneiras de reduzir seu impacto ambiental devido às demandas dos investidores que buscam elevados retornos alinhados à questão ambiental, portanto, as futuras atividades de produção refletirão essa abordagem.
Fonte: Broadcast Agro.