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13/Mar/2025

Entrevista: Magda Chambriard-presidente Petrobras

A Petrobras pode baixar os preços caso os combustíveis no Brasil fiquem muito mais caros do que os patamares praticados no mercado internacional, de acordo com a presidente da estatal, Magda Chambriard. Recentes pressões, incluindo ações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, têm empurrado o petróleo para baixo. Atualmente, a cotação do Brent está em cerca de US$ 70,00 por barril, abaixo dos US$ 83,00 por barril previstos no plano da Petrobras, divulgado em novembro/2024. "Se o preço ficar muito acima do mercado e enxergarmos que a tendência é essa, vamos mexer certamente.

Da mesma forma, se ficar abaixo, vamos mexer também", disse Magda. "Hoje, nós não estamos pensando em mexer (nos preços) a curto prazo", acrescentou, sem precisar qual seria esse horizonte. Quanto à aprovação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para o plano de limpeza da sonda que será utilizada na Margem Equatorial, Magda afirmou que é um indicativo de que a Petrobras está no caminho certo para começar a explorar a área, considerada uma espécie de 'novo pré-sal', mas que divide ambientalistas e o setor de óleo e gás no Brasil. segue a entrevista:

É a sua primeira vez como presidente da Petrobras na CERAWeek, que acontece em meio a um chacoalhão do presidente dos EUA, Donald Trump, no mundo, e, em especial, no setor de energia. Quais foram as suas impressões?

Magda Chambriard: A grande mensagem dos representantes dos Estados Unidos foi 'olha, nós estamos querendo que vocês sejam bem-vindos, que produzam muita energia'. Essa é uma boa mensagem e que acolhemos de uma forma muito benéfica. No Brasil, é a mesma coisa. A gente também diz bem-vindos para quem quer investir, fazer geração de energia no Brasil. Energia é desenvolvimento, ainda mais agora, que estamos abraçando a inteligência artificial, aumentando a demanda de energia pelo mundo.

Como a Petrobras se posiciona neste cenário?

Magda Chambriard: Fornecemos 31% de toda a energia primária do País. Olhando para os próximos 25 anos, para mantermos a nossa relevância, a Petrobras precisa crescer no passo do Brasil. Vamos ter que crescer pelo menos 60% nos próximos 25 anos. E aí muitos vão dizer assim, ah, mas isso é muito desafiador, isso é difícil de acontecer, e eu digo, não, não é tão difícil.

Por quê?

Magda Chambriard: Porque, na verdade, estamos aumentando a produção do pré-sal. Pretendemos agregar mais 400 mil barris por dia de petróleo até 2030. Grande parte desse crescimento ainda virá do pré-sal, mas vamos precisar complementá-lo para manter a relevância da Petrobras em um País muito mais demandante de energia. Nós precisamos inserir novas fontes de energia que virão principalmente das renováveis, mas também das térmicas.

Qual a ambição da Petrobras nos Estados Unidos? Há interesse de voltar a ter mais presença no Golfo do México, como no passado?

Magda Chambriard: Nós ainda temos ativo no Golfo do México, pouca coisa. Como lidamos com uma energia não renovável, precisamos repor reservas para manter o patamar de produção. Vamos buscar repor reservas no Brasil e no exterior também.

Quais são as praças de interesse?

Magda Chambriard: O que eu gosto de dizer é que quando somos bons no que fazemos, fazemos de novo e de novo. Somos bons na Margem Atlântica do Brasil que guarda muita similaridade com a africana. O que aparecer de oportunidade do porte da Petrobras, acessível, e preço compatível com o mercado, nós temos interesse.

E nos BRICS?

Magda Chambriard: Estão aparecendo oportunidades nos BRICS. A Índia está abrindo áreas exploratórias que estavam fechadas há muito tempo. Uma delas é a décima rodada de licitação com blocos de ótimos tamanhos. Vamos dar uma olhada na Índia também. Se vamos entrar lá, se vamos gostar ou não, eu não sei.

A senhora sentiu alguma pressão dos investidores estrangeiros em relação aos investimentos em energia renovável com a volta do Trump?

Magda Chambriard: O que temos ouvido de alguns investidores é: esses projetos de energias renováveis têm a mesma taxa de retorno que E&P (exploração e produção)? Não é melhor investir em E&P? Dificilmente, nós vamos ter o retorno do pré-sal, mas o pré-sal também não é infinito. Precisamos de uma cesta de negócios que garanta a perenidade da empresa. Alguns vão ser imensos em termos de retorno, outros nem tanto, mas todos precisam ser rentáveis em três cenários: otimista, moderado e pessimista.

Como a Petrobras recebeu a aprovação do Ibama para o plano de limpeza da sonda que será utilizada na Margem Equatorial?

Magda Chambriard: Com muita alegria, estávamos esperando por isso há muito tempo. Entregamos a última demanda do Ibama no fim de novembro, respondendo a todos os questionamentos. Estamos concluindo a obra do segundo Centro de Despetrolização da Fauna, no Oiapoque (Amapá), no fim de março, promovemos energia no local, que não tinha, conservamos o aeroporto, e atribuímos tudo isso à autorização do Ibama para mover a sonda e começar a limpeza.

Quanto tempo demora esse processo?

Magda Chambriard: Essa sonda está furando na Bacia de Campos e vai levar dois meses para limpar o casco. Temos que garantir que não vá nenhuma espécie invasora. É uma sonda de primeira qualidade, compatível com todos os níveis de segurança para perfurar no Amapá, em águas profundas. Estamos promovendo um plano de emergência individual único no mundo. É o maior que eu já vi para águas profundas, inclusive contando com monitoramento de eventuais derrames com tecnologia em parceria com a NASA.

Qual o próximo passo? A senhora está otimista com a obtenção da licença para a Margem Equatorial?

Magda Chambriard: Com certeza. Apesar do presidente do Ibama dizer que, olha, isso não é garantia de licença, eu acho que, no mínimo, é um excelente indicativo de que nós estamos no caminho certo.

Sobre pressões nos preços...

Magda Chambriard: Olha só, a pressão vem mais pelo jornal, pelos jornalistas e pelo mercado. Porque o governo mesmo está entendendo como correto o posicionamento da Petrobras. No ano passado, logo que eu assumi, eu disse: esse preço não está legal. E tivemos toda a liberdade, sem nenhuma pressão, nenhum constrangimento, para colocar o preço no patamar que entendemos como correto.

Qual é o momento agora?

Magda Chambriard: No começo do governo Lula, a Petrobras fez um movimento de abrasileiramento dos preços. Construímos um cenário, no qual acompanhamos a tendência no mercado internacional, evitando trazer para o Brasil a volatilidade, seja a flutuação do preço do Brent ou do câmbio, e sem cobrar custos inexistentes. O Conselho de Administração, com representantes governamentais e privados, acompanha essa performance todo mês. Fechamos 2024, e ninguém reclamou. Acho que nós estamos no caminho certo. Preço não foi um problema, não oneramos o caixa da empresa com questões de preço, e no começo do ano aumentamos o preço do diesel de novo.

O ministro de Minas e Energia disse que, considerando os preços mais baixos do petróleo no mercado internacional e a queda do dólar, é o momento de analisar uma redução do preço dos combustíveis no Brasil. A senhora concorda?

Magda Chambriard: Analisamos o preço no mínimo a cada 15 dias. Isso aí faz parte da nossa obrigação, olhar esses preços toda hora.

E já está na hora de baixar?

Magda Chambriard: Se o preço ficar muito acima do mercado e enxergarmos que a tendência é essa, vamos mexer certamente. Da mesma forma, se ficar abaixo, vamos mexer também. Monitoramos isso e o market share. O que não é interessante para nós é ficar com o preço muito alto porque perdemos mercado. Com preço muito baixo, perdemos dinheiro. O que fazemos é olhar o tempo todo se essas coisas estão equilibradas dentro do que a Petrobras se propõe.

Hoje, estão equilibradas?

Magda Chambriard: Hoje, nós não estamos pensando em mexer nos preços a curto prazo.

Fonte: Broadcast Agro.