19/Feb/2025
Depois de uma largada acelerada das petroleiras na direção das energias renováveis, algumas das principais empresas do setor começam a reavaliar seus planos, movidas pelo peso, no próprio bolso, do alto custo das novas tecnologias, e agora podendo ser contagiadas pelo discurso "drill, baby, drill" do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Mesmo mantendo o discurso de compromisso com a descarbonização, os grandes projetos de energias renováveis dessas empresas entraram em compasso de espera no Brasil. Empresas como BP, Shell e Equinor já deram os sinais de recuo, suspendendo ou pausando projetos, e até mesmo a brasileira Petrobras pisou no freio das suas eólicas offshore, estrelas da gestão anterior, mas que com Magda Chambriard no comando da estatal perdeu espaço para a produção de etanol, caminho escolhido pela executiva para substituir, no futuro, a gasolina.
Para especialistas, o discurso de Donald Trump deve contagiar ainda mais o setor de petróleo, e o momento atual é de reflexão. Os projetos de energia renovável dão menos retorno para as petroleiras do que o petróleo, combustível que ainda por muitos anos vai reger a economia, principalmente em países menos ricos, como o Brasil. A tendência é buscar alternativas mais coladas com a atividade, como a captura de carbono. A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) avalia que alternativas como o hidrogênio verde no Brasil não deve ficar na mão de petroleiras, como se supunha, porque é um combustível concorrente. Quem vai investir em hidrogênio não vai ser a petrolífera, porque isso é contra ela. Vai ser a Braskem, vai ser a JBS, vão ser as cimenteiras, as siderúrgicas.
A Shell confirmou que o projeto de hidrogênio verde no Porto do Açu, uma iniciativa de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) da companhia foi atualmente pausado. É importante diferenciar o que são projetos locais de P&D do negócio global de hidrogênio, que segue investindo segundo a estratégia Global da Shell, incluindo a construção de uma grande planta de hidrogênio na Holanda, afirmou a companhia, que segue no Brasil com investimentos em P&D, incluindo uma planta piloto na Universidade de São Paulo (USP), onde está sendo avaliada a viabilidade técnica e comercial de converter etanol em hidrogênio, com a finalidade de descarbonizar setores da indústria. A Equinor também reafirmou a intenção de atingir a neutralidade em carbono até 2050, mas que precisa se adaptar às realidades do mercado.
Nesse contexto, a companhia atualizou a sua estratégia global de negócios. No Brasil, é necessário ressaltar que, com os recentes avanços em renováveis, a Equinor já é uma companhia de energia diversificada. Para a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), o momento é de reflexão, com as empresas buscando o reequilíbrio econômico diante da mudança de cenário. Trata-se de um reequilíbrio em função das variáveis que vão mudando ao longo do tempo. Os projetos não foram abandonados, mas é preciso fazer estudos até chegar num conceito que faz sentido. Segundo o Instituto de Economia da PUC-Rio, existem questões conjunturais e estruturais para o recuo dos investimentos das petroleiras em energias renováveis.
Do ponto de vista conjuntural, tem o contexto, principalmente no Brasil, mas também em outros países, de que a rentabilidade dos projetos começa a diminuir, porque as melhores oportunidades de projetos já foram feitas, principalmente na Europa. Está havendo "um freio de arrumação", depois que os acionistas dessas petroleiras viram que não estavam ganhando com a energia renovável tanto quanto ganham com petróleo. Os projetos não devem ser totalmente abandonados, mas a pressão dos controladores deve pesar daqui para frente, principalmente depois da eleição de Donald Trump nos Estados Unidos. Com essa pressão dos stake-holders (acionistas), pode ser que isso faça sentido para fazerem esse freio de arrumação, buscar uma estratégia mais lucrativa. Na verdade, é só um freio de arrumação, e as coisas devem caminhar mais lentamente, mas caminhar mesmo assim, dependendo, claro, da rentabilidade. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.