22/Jan/2025
O aval do governo indiano para que usinas do país exportem 1 milhão de toneladas de açúcar foi amplamente interpretado como uma decisão política, já aguardada por analistas e operadores de mercado de futuros. Segundo especialistas, a medida visa principalmente proporcionar liquidez às usinas indianas, que enfrentam dificuldades financeiras em meio à queda nos preços internos do açúcar. Segundo a Datagro, essa cota de exportação foi uma forma de gerar receita adicional para as usinas pagarem seus compromissos com fornecedores, considerando que o preço interno do açúcar caiu nos últimos meses. A Índia lida atualmente com uma quebra de safra causada pela doença conhecida como "podridão vermelha" em três de seus principais Estados produtores de cana-de-açúcar: Uttar Pradesh, Maharashtra e Karnataka. Apesar disso, o país mantém estoques suficientes para permitir a liberação de exportações, mesmo com o aumento no custo da cana e a queda nos preços internos.
A avaliação é a de que a produção continuará a atender à demanda, sem comprometer o programa de etanol ou o mercado interno. Ainda que a decisão tenha gerado alívio financeiro às usinas indianas, o movimento não surpreendeu o mercado global. A liberação de exportações foi amplamente especulada e já havia sido precificada pelo mercado. O anúncio da Índia ocorre no momento em que o Brasil diminui suas exportações, em função da entressafra da cana-de-açúcar no Centro-Sul, após um ano de embarques vigorosos. Essa redução natural no ritmo de exportação abre espaço para o açúcar indiano, mas sem alterar de forma significativa a dinâmica para os produtores nacionais. Para o produtor brasileiro, esse 1 milhão de toneladas não tem um grande impacto, já que a produção está diminuindo por estar na entressafra. Esse volume entra no espaço deixado pela redução das exportações brasileiras.
Os efeitos da volta da Índia às exportações serão mais evidentes em mercados compradores próximos, como Bangladesh e Sri Lanka, afetando países produtores asiáticos, como a Tailândia. Essa ameaça de exportação tem sido discutida há tanto tempo que provavelmente o açúcar irá para mercados regionais, causando impacto limitado no Brasil. A StoneX destacou que o volume autorizado pelo governo indiano não deve alterar drasticamente os preços globais, mas pode provocar efeitos psicológicos no mercado. A entrada de 1 milhão de toneladas pode pressionar os preços ainda mais. Apesar de a liberação da Índia ser um movimento estratégico para suas usinas, a dinâmica do mercado global de açúcar ainda dependerá da reação de outros atores. O mercado pode ver algum impacto psicológico, mas o cenário de preços baixos deve persistir até que os fundos e especuladores decidam a direção a seguir.
Embora a Índia tenha autorizado a exportação agora, não há uma expectativa de que o volume de exportações seja ampliado no curto prazo. A projeção é de que, em 2025/2026, a safra possa ser maior, o que permitirá que a Índia direcione uma maior quantidade de açúcar para o mercado externo, além de atender à crescente demanda interna por etanol. O mercado global também está atento às expectativas de aumento de produção de açúcar na temporada 2025/2026 pela Índia, que podem ajudar a equilibrar a oferta no mercado mundial. Nesse momento, no entanto, é improvável que novas autorizações de exportação sejam discutidas antes do primeiro trimestre de 2026. Além disso, o custo de exportação do açúcar indiano coloca o país em uma posição desvantajosa no mercado internacional com os preços atuais. O ponto de equilíbrio para as exportações indianas está próximo de 22,00 centavos de dólar por libra-peso, o que torna essa operação um negócio deficitário. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.