21/Jan/2025
Uma forte escalada do preço do petróleo no mercado internacional, desta vez impulsionada por um novo pacote de sanções contra o setor energético russo, chega ao Brasil em um momento em que a Petrobras está com os preços bastante defasados, atingindo patamares que em 2023 obrigaram a companhia em agosto a reajustar o diesel em 25% e a gasolina em 16%. Um eventual aumento agora, para reduzir ou anular essa defasagem, teria impacto na inflação de 2025, principalmente a de fevereiro, mas traria alívio para importadores e produtores de etanol, que estão perdendo espaço nos postos de abastecimento diante dos preços estagnados dos dois combustíveis. Segundo dados da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), a defasagem média do diesel nas refinarias da Petrobras, em relação ao preço praticado no Golfo do México chegou a 22% no dia 17 de janeiro, enquanto na gasolina ficou em 13%.
Mesmo na Refinaria de Mataripe, que reajusta seus preços semanalmente, o óleo diesel está sendo vendido 11% abaixo do mercado internacional, e a gasolina a um preço 7% inferior. O preço do diesel não é reajustado há 383 dias nas refinarias da estatal, e da gasolina, há 188 dias. No dia 1º de janeiro, a estatal elevou o querosene de aviação (QAV), cujos reajustes mensais são por contrato, em 7%. Segundo a Abicom, não é necessário a Petrobras trabalhar com uma defasagem tão alta, pois isso prejudica não só importadores como produtores de etanol. O câmbio não tem expectativa de redução enquanto não houver equilíbrio fiscal, e o petróleo só aumenta. Se a companhia praticar um preço um pouco abaixo da defasagem já ganha muito dinheiro. Para a Fundação Getúlio Vargas (FGV), será difícil a petroleira evitar um reajuste diante dessa defasagem por muito tempo. A expectativa é de que os combustíveis sejam reajustados em breve, o que vai pesar na inflação de janeiro e principalmente de fevereiro.
No caso do índice oficial de inflação, IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), a maior preocupação é a gasolina, que compromete 5% do orçamento familiar no Brasil. Várias pressões inflacionárias estão se acumulando, já teve aumentos importantes no transporte público, alta nas mensalidades escolares e no IPVA (Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores). A gasolina, que compromete 5% do orçamento familiar, terá reajuste em breve. A desvalorização cambial acumulada e a nova tendência de alta do petróleo indicam que isso deve acontecer. Porém, em janeiro o impacto inflacionário não será tão grande, graças ao bônus da Usina Hidrelétrica de Itaipu que permitirá a conta de energia cair 13% em média. Isso fará o IPCA recuar algo em torno de 0,50% em janeiro, o problema será em fevereiro, quando as mensalidades escolares terão subido e a conta de luz voltará ao normal. O IPCA de janeiro poderá ficar em torno de 0,2% e a de fevereiro acima de 1%.
O cenário da inflação dos próximos meses também dependerá do comportamento do câmbio, que se por um lado estimula as exportações, o que é bom para a balança comercial do País, por outro turbina os preços internos. Ao exportar, a oferta doméstica reduz o que pressiona a inflação, e torna mais caro tudo o que importamos, como trigo e gasolina. De acordo com a StoneX, o petróleo atingiu o maior patamar desde outubro do ano passado, puxado pelo pacote de sanções contra o setor de energia da Rússia. Na tentativa de restringir e limitar os ganhos que o governo russo tinha com as exportações de petróleo, derivados e gás natural, as novas restrições acabam englobando produtores de petróleo e gás importantes, além de adicionar 183 navios, traders, seguradoras e outros agentes que estão envolvidos na movimentação de produtos russos no comércio internacional a essa lista de sanções. Esse movimento aumenta os riscos e a dificuldade de se negociar os produtos russos no mercado internacional.
Já existe uma preocupação da disponibilidade do petróleo russo no mercado internacional, num contexto de um balanço de oferta e demanda global apertado, considerando que Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) tem feito restrições sobre a oferta do grupo no começo deste ano. Há preocupações de que os países que dependem muito do petróleo russo, como Índia e a China, se voltem para outros fornecedores nesse curto prazo para atender a necessidade doméstica, enquanto se tem um cálculo ou esperam maiores direcionamentos dos próprios governos e buscam também alternativas para as novas sanções. O movimento contra a Rússia era especulado há um tempo no mercado, e já se tinha preocupações de que o novo governo de Donald Trump poderia endurecer sanções contra países como a Rússia, Venezuela e Irã. No final do ano passado, quando o petróleo ainda não tinha batido os US$ 80,00 por barril, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, afirmou que não havia intenção em mexer nos preços e que a empresa estava ganhando dinheiro mesmo com os preços "abrasileirados".
O conselho de administração da Petrobras tem uma reunião marcada para discutir essa pauta de impacto daqui a dez dias: os reajustes dos preços dos combustíveis. Caberá ao colegiado fazer a avaliação anual do cumprimento da política de preços pela diretoria da estatal (essa apreciação também é feita trimestralmente, mas desta vez o olhar será sobre 2024). Em tese, se as regras da política de preços não estiverem sendo executadas, o conselho determinará que a política de preços seja estritamente observada. Neste caso, indicará a necessidade de reajustes. O governo detém maioria no conselho. E, preocupado com a inflação que já estourou o teto da meta no ano passado, vai pressionar os seus integrantes para maneirar. Sobre todos os conselheiros, no entanto, recaem os chamados deveres de diligência e fiduciários. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.