23/Oct/2024
No atual cenário do agronegócio, a informação se tornou um dos ativos mais valiosos, e quem melhor gerencia esse recurso tem o poder de moldar o futuro desse importante segmento produtivo. Universidades e centros de pesquisa, como o Cepea, da Esalq/USP, desempenham um papel essencial ao definir os preços pagos pelas usinas de bioenergia para os produtores da cana. Mas essa responsabilidade vai muito além de simples números, ela exige precisão, transparência, eficiência e, acima de tudo, imparcialidade. Afinal, não estamos falando apenas de negócios; estamos falando do sustento de milhares de produtores e da sustentabilidade de uma das indústrias mais estratégicas do País. Agora, imaginemos o impacto que a inovação tecnológica pode ter nesse cenário. Ferramentas como inteligência artificial e big data estão transformando a maneira como tomamos decisões. Integradas a sistemas como os Indicadores do Sucroenergético do Cepea, essas tecnologias podem prever tendências de mercado com precisão jamais vista.
Você consegue imaginar os benefícios dos produtores antecipando flutuações de preço e clima, ajustando suas operações em tempo real? Esse avanço tecnológico, no entanto, só será eficaz se for guiado por transparência e ética, valores que estão no cerne das universidades. Diferentemente de muitas empresas privadas, que podem priorizar o lucro, as universidades têm o interesse público como sua principal missão. Isso significa tratar pequenos, médios e grandes produtores de maneira justa, levando em consideração as peculiaridades de cada operação, seja esta automatizada ou não. A verdadeira força das universidades está em criar indicadores que representem todos, sem exceção. E, com isso, estreitar os elos das cadeias e azeitar a criação de políticas públicas capazes de transformar a realidade do campo. Além de gerar e compartilhar informações publicamente, as universidades garantem a continuidade das pesquisas, permitindo que dados não sejam apenas estatísticas frias, mas poderosas ferramentas de mudança.
Com esses dados, políticas mais eficientes podem ser formuladas, capazes de impulsionar o setor agrícola e beneficiar toda a sociedade. Mas, aqui, surge outra provocação: será que o setor privado está preparado para lidar com o mesmo nível de rigor ético e transparência? As universidades contam com comitês de ética e revisões por pares, garantindo que as informações sigam os mais altos padrões de qualidade e confiabilidade, algo fundamental em um setor no qual dados podem definir o preço que milhares de produtores irão receber. Agora imagine o poder dessa colaboração. O setor privado, com seu dinamismo, e as universidades, com seu compromisso ético, trabalhando juntos para implementar inovações que não só acelerem o avanço tecnológico, mas também garantam que ele beneficie a todos, inclusive os pequenos produtores. Essa colaboração não só ampliaria o acesso a novas tecnologias, mas também tornaria o setor mais inclusivo.
Será que estamos prontos para construir essas pontes e transformar o setor agrícola em algo ainda maior? E aqui está o verdadeiro impacto de tudo isso: transparência na gestão das informações não só constrói confiança, mas também empodera os produtores. Saber como os preços são calculados e ter acesso a dados claros sobre as taxas de pagamento não é apenas uma questão de justiça; para muitos, é uma questão de sobrevivência. Especialmente para pequenos produtores, que dependem dessa renda e não podem se dar ao luxo de serem prejudicados por avaliações injustas. Capacitar esses produtores é outro ponto fundamental. Não basta fornecer dados, é preciso garantir que eles saibam interpretá-los e aplicá-los em suas operações. As universidades podem ser o elo que transforma conhecimento em prática, oferecendo treinamentos e cursos que capacitem agricultores a tomar decisões mais informadas.
Ao promover essas inovações e garantir transparência, as universidades também estão ajudando o Brasil a se posicionar de forma competitiva no cenário global. Em um mundo em que sustentabilidade e responsabilidade social são mais exigidas do que nunca, o setor agrícola brasileiro tem a oportunidade de se destacar. Com as práticas promovidas pelas universidades, o Brasil pode liderar essa transformação. Mas, novamente, a pergunta é: estamos prontos para assumir esse protagonismo? Ao implementar sistemas modernos, como os Indicadores do Sucroenergético do Cepea, as universidades não apenas oferecem dados, mas pavimentam o caminho para um setor mais justo e equilibrado. Plataformas de coleta de informações, como APIs, trazem inovação ao setor, mas é o compromisso com a ética e a transparência que realmente garante o sucesso a longo prazo. Além disso, os dados gerados nas universidades não apenas guiam o mercado, mas também embasam políticas públicas mais eficientes.
Com essas informações, é possível criar um ambiente de equidade, no qual os benefícios são distribuídos de forma justa entre produtores, empresas e a sociedade. O conhecimento acadêmico, assim, se torna uma chave essencial para moldar um futuro mais justo e eficiente para a agricultura. Então, a pergunta que fica é: é esse o cenário que queremos? Um cenário onde dados confiáveis e acessíveis empoderam os produtores, tornando suas decisões mais informadas e justas, e onde a transparência fortalece as relações entre todos os atores do agronegócio? Se a resposta for positiva, as universidades, com sua ética, neutralidade e capacidade de inovação, já estão mostrando o caminho. Ou são cenários sem pontes sólidas entre produtores de cana e usinas que levaram décadas para serem construídas? Existe alguém calculando os riscos dos cenários mais prováveis mediante a persistência de um impasse? Fonte: Heloisa Burnquist. Cepea.