09/Oct/2024
A Copersucar, que nasceu há 65 anos como uma cooperativa de usinas para vender açúcar e hoje é uma plataforma multinacional de comercialização e logística de açúcar, etanol e energia, prepara-se para entrar de vez na descarbonização da economia. A companhia aposta em biocombustíveis de baixo carbono derivados da cana-de-açúcar para promover a transição dos transportes leves, do aéreo e do marítimo, numa estratégia em que o biometano deve ter papel central. Há oportunidades concretas de acelerar o desenvolvimento de novos mercados relacionados ao ‘core’ (a cana-de-açúcar), como biogás, biometano e combustível sustentável de aviação. O biometano é um substituto do gás natural fóssil feito a partir da biodigestão de matérias orgânicas e da purificação do biogás resultante, podendo ser usado em veículos, indústrias e residências. Nesse mercado, há possibilidade de a Copersucar atuar na comercialização, como já faz com outros produtos das usinas.
Assim como o setor apostou há 20 anos na cogeração de energia elétrica a partir da queima do bagaço de cana-de-açúcar, as usinas devem agora investir em conjunto na produção de biogás e biometano a partir dos resíduos industriais. No “ecossistema” da Copersucar, a projeção é que, em dez anos, todas as 38 unidades industriais tenham plantas de biometano com capacidade para ofertar 2 milhões de metros cúbicos de gás ao dia, considerando a tecnologia de biodigestão existente hoje, que utiliza vinhaça e torta de filtro. Já há testes de biodigestão de resíduos agrícolas, como bagaço e palha de cana-de-açúcar, o que poderia multiplicar essa capacidade. Hoje, a Cocal, uma das associadas da Copersucar, tem uma planta de uma biometano em funcionamento e outra em construção. A Associação Brasileira do Biogás (Abiogás) estima que todo o País terá daqui dez anos uma produção de 7 milhões de metros cúbicos de biometano ao dia. A perspectiva, portanto, indica que a Copersucar pode responder por 30% dessa oferta.
Isso não significa que todo esse volume iria ao mercado via Copersucar. A própria companhia tem um alto consumo de diesel para movimentar ao ano 6 milhões de toneladas de açúcar das usinas a terminais, portos e clientes. Dentro de casa, há demanda para ter cinco a seis fábricas exclusivas de biometano só para substituir o diesel na frota da empresa. As usinas também devem usar o biometano para substituir seu próprio consumo de diesel nas operações agrícolas. Se o biometano das empresas associadas for usado para substituir todo o diesel consumido na Copersucar e 40% do diesel consumido nas operações das usinas, será possível reduzir a demanda por diesel em 240 milhões de litros ao ano. Também há espaço para comercialização do biometano no mercado interno e até no exterior, embora, nesse caso, seja necessário criar uma logística de liquefação do biometano. O mercado de biometano deverá operar como o de geração distribuída de energia, com oferta para demanda local, dada as limitações da infraestrutura de dutos de gás no País.
Atualmente, metade das usinas de cana-de-açúcar tem acesso a dutos. Ainda assim, a infraestrutura do Brasil de dutos tende a se desenvolver. Uma planta de biometano poderá ter um portfólio de opções: venda por duto, para postos de combustível, uso na frota própria, geração de energia. Outra oportunidade é usar o produto como insumo para fabricar biofertilizantes, e assim substituir os adubos químicos usados nos canaviais. Além de diminuir custos, o uso do biometano para substituir diesel e produzir fertilizante reduz a pegada de carbono da produção de etanol, o que pode tornar o biocombustível brasileiro ainda menos intenso em carbono. Esse etanol de baixa intensidade de carbono tem múltiplas aplicações. E, no médio a longo prazo, o que vai ter valor na transição energética é a baixa intensidade de carbono das soluções. O etanol é visto como uma potencial matriz de produção de SAF, mas há mais alternativas. Em junho, a Copersucar firmou parceria com a Geo para desenvolver o SAF a partir de biometano, uma solução ainda inexplorada para a aviação, que terá produtos e subprodutos.
Os derivados da cana-de-açúcar também estão no radar como uma solução para a descarbonização do transporte marítimo. Por enquanto, esse ainda é o setor com menor avanço tecnológico, mas em três a cinco anos haverá uma tecnologia pronta para ser testada. As alternativas ligadas à cana-de-açúcar estudadas hoje são de combustível marítimo feito de etanol (biobunker), o próprio etanol e o biometano líquido. Tanto as novas tecnologias como o próprio uso do etanol nos carros devem assegurar ao etanol uma demanda global crescente, a despeito do avanço dos carros elétricos. Metade dos carros flex no Brasil ainda não abastecem com etanol. Além disso, há a expectativa com a possibilidade de elevar a mistura de etanol anidro na gasolina a 30%, como previsto na lei do Combustível do Futuro, o que ainda dependerá de testes. Fonte: Globo Rural. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.