04/Oct/2024
Shell, Raízen e Senai vão investir R$ 120 milhões na construção de um Centro de Bioenergia, em Piracicaba (SP), para o desenvolvimento de soluções de descarbonização a partir da cana-de-açúcar. O objetivo é acelerar os projetos voltados para transição energética e escalar a produção de etanol de segunda geração (E2G), tecnologia brasileira que tem um mercado imenso. Nos cinco anos iniciais, as pesquisas do Centro focarão em ganhos de eficiência e sustentabilidade no processo de produção do E2G, atualmente já produzido em escala comercial no País em duas plantas da Raízen. Outras sete unidades estão em estágio de construção: Univalem (Valparaíso/SP), Barra (Barra Bonita/SP), Vale do Rosário (Morro Agudo/SP), Gasa (Andradina/SP): Caarapó (Caarapó/MS), Tarumã (Tarumã/SP) e Jataí (Jataí/GO). A previsão é de que o Centro fique pronto em 2026, e vai contar com laboratório e plantas piloto projetados para mimetizar operações industriais.
Do total investido, R$ 72 milhões virão da Shell, pela cláusula de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Segundo a Raízen, a decisão da construção do Centro visa avançar na produção de E2G e demais produtos que serão utilizados no futuro, atrás da maior eficiência e redução de emissões. Para fazer esse tipo de teste em uma planta de escala industrial, é muito complexo. Então, o Centro é um marco muito importante para o Brasil manter a liderança nessa tecnologia. Há potencial para avançar em pesquisas para reduzir o consumo de enzimas, reaproveitar subprodutos, entre outras soluções. O etanol de segunda geração é produzido a partir do bagaço da cana-de-açúcar após a produção do etanol, por isso é considerado um combustível ainda mais sustentável do que o original. A demanda já ultrapassa a produção de E2G da Raízen.
O novo combustível emite 30% a menos Gases de Efeito Estufa (GEE) do que o Etanol de Primeira Geração (E1G) e 80% menos do que a gasolina. Quando se coloca o etanol de segunda geração numa planta de cana-de-açúcar, aumenta em 50% a produção de etanol, sem precisar de um pé de cana-de-açúcar a mais. Então, não tem nada mais sustentável que fazer de um resíduo (bagaço da cana) um produto que tem uma pegada de carbono muito baixa. O Brasil já é hoje o maior produtor mundial de etanol de segunda geração e vai se firmar na liderança. Vai ser um grande exportador, e não só do produto, mas espera também exportar a tecnologia. Ressalta-se que boa parte da biomassa proveniente da cana-de-açúcar é destinada para gerar vapor para as usinas. Então, se houver uma maneira de eletrificar as usinas, por exemplo, e sobrar mais biomassa, é possível aumentar muito a produção de etanol de segunda geração.
O papel do Senai será organizar a complexidade do desenvolvimento tecnológico das pesquisas, investir e organizar a infraestrutura, além de orquestrar as diversas disciplinas e tecnologias necessárias para desenvolver esse “gap” tecnológico, informou Senai-SP. Há uma complexidade em desenvolver o etanol de segunda geração. Exige múltiplos conhecimentos, não só no pré-processamento da biomassa, mas também na parte da fermentação, conhecimento em materiais. Para a Shell, “o carro elétrico do Brasil se chama etanol”. A cláusula de PD&I da ANP é um incentivo eficiente para a evolução tecnológica do País. A Shell aposta não apenas na exportação do etanol segunda geração, como ocorre atualmente, mas também no mercado brasileiro para consumir o biocombustível e demais futuros produtos decorrentes das pesquisas do Centro. Além do setor automotivo, há espaço para o uso do etanol nos setores bioquímico, de bebidas, do bioplástico e para o Sustainable Aviation Fuel (SAF).
O hidrogênio é um produto muito caro. É fácil falar sobre produtos de baixo carbono, mas se eles não são acessíveis, ou estão muito caros, ou não existem no mercado, ou não são escaláveis, é um problema. O E2G é apenas um pouco mais caro que o etanol original. O Brasil tem um potencial enorme para desenvolver biocombustíveis do futuro. Para a próxima semana, está sendo aguardado o anúncio do governo sobre aumento da mistura de etanol na gasolina e do biodiesel no diesel, com a promulgação da Lei do Combustível do Futuro, marcada para o dia 8 de outubro. As empresas estão contribuindo com essa agenda de transição energética do governo do Brasil com produtos que são acessíveis para todos os brasileiros, e vão ajudar o Brasil a estar à frente no desenvolvimento de biocombustíveis no mundo inteiro. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.