04/Jun/2024
A queda do preço do petróleo no mercado internacional favorece a nova presidente da Petrobras, Magda Chambriard, dando um alívio em eventuais pressões para reajustar os combustíveis nos seus primeiros dias no cargo. Mas, a perda de valor da commodity pode começar a preocupar os acionistas da estatal, caso o preço se afaste muito dos US$ 80,00 por barril. Por volta das 15h desta segunda-feira (03/06), o preço do contrato de petróleo do tipo Brent para agosto caía 3,13%, cotado a US$ 78,15 por barril. A queda reflete a decisão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) de estender os cortes de produção até 2025. Em reunião do grupo no último final de semana, ficou determinado que os cortes voluntários de 2,2 milhões de barris por dia (bpd) irão se reduzir gradualmente a partir de outubro de 2024, até serem completamente eliminados em setembro de 2025. De acordo com a Moody's, a queda em reação à decisão da Opep não terá um impacto maior nas ações da Petrobras, que nesta segunda-feira (03/06), operavam com em leves perdas, de 0,26% as preferenciais e de 0,66% as ordinárias.
A Moody's não alterou a perspectiva para preços de petróleo com base nessa decisão, portanto não deve ver impactos significativos para a Petrobras. O cenário para preço de petróleo continua favorável com oferta restrita e a Petrobras deve continuar reportando margens sólidas nesse contexto. Para o Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), para o acionista da estatal o petróleo alto é bom, e para o governo deveria ser bom também, já que é o maior acionista da Petrobras. Quando o petróleo cai de preço é bom para a Petrobras e bom para o governo, porque vai no sentido de que não precisa aumentar o preço da gasolina e do diesel, e vai até reduzir a atual defasagem da gasolina, quem sabe reduzir para um nível mais estável do que está agora. Mas, para a empresa em si e para o acionista, não é bom negócio, porque petróleo caro é mais lucro, mais pagamento de dividendo. Segundo levantamento do Cbie, a defasagem do preço da gasolina da Petrobras em relação ao mercado internacional já atinge quase 18%, enquanto o diesel Petrobras, principal produto vendido pela estatal, estaria apenas 0,36% abaixo dos preços externos.
O preço dos combustíveis tem dinâmica própria, influenciada, mas não definida pelos movimentos do petróleo. Nos combustíveis, a tendência de curto prazo é a defasagem aumentar em função da 'driving season' nos Estados Unidos e da apreciação do dólar frente ao Real com um cenário fiscal mais deteriorado. A "driving season", a temporada de férias norte-americana, quando as famílias viajam e o consumo de gasolina e diesel aumentam, começou na semana passada e vai até o início de setembro, pressionando os preços do derivado em todo o mundo. Normalmente, os Estados Unidos já respondem por 25% do consumo mundial de gasolina e qualquer variação mexe com a conjuntura mundial da commodity. Em 2023, porém, esse efeito das férias de verão nos preços foi menor do que em anos anteriores, o que pode se repetir esse ano justamente em função do cenário de juros altos, inflação e hipotecas mais caras.
A Warren considera a queda do petróleo um movimento especulativo de curto prazo, e explica que para a Petrobras, o melhor cenário é a estabilidade do petróleo ao redor de US$ 80,00 por barril e câmbio estável, para permitir a continuidade na geração de caixa e dividendos, sem gerar instabilidade política e represamento de preços de combustíveis. Movimentos de curto prazo ocorrem para os dois lados, mas com petróleo ao redor de US$ 80,00 por barril, a Petrobras continua fazendo bastante dinheiro. Para a Suno, a queda do petróleo é um movimento natural, diante da queda de demanda, e o mercado como um todo está mais pessimista diante da demanda menor do que o esperado. Por conta da queda da demanda, espera-se uma queda na oferta, um controle da oferta para conseguir manter os preços. O cenário, principalmente da China, traz esse pessimismo para o mercado. Se pegar os cortes anunciados, ainda não é um cenário muito atrativo para a Opep, que gostaria que estivesse acima de US$ 80,00 por barril. O fundamento definidor dos preços do petróleo à frente não será a oferta influenciada pela Opep, mas sim a demanda.
Para o IBP, a tendência para o barril do petróleo tipo Brent nos próximos meses é de estabilidade pouco acima dos US$ 80,00 por barril justamente em função de uma demanda sem perspectiva de crescimento, ligada a um cenário de juros altos e inflação que freiam o consumo no mundo todo, além dos esforços crescentes de eletrificação e geração renovável, que tiram cada vez mais mercado do petróleo. Há de fato uma pressão baixista no preço, mas mais ligada a uma demanda que não tende a crescer. Sobre a oferta, os países da própria Opep, como Venezuela e Irã, já não vinham cumprindo as cotas estabelecidas, o que amenizava a lógica dos cortes agora abortados mais precocemente do que se esperava. Além disso, é crescente a produção fora da Opep, o que já tem ajudado a neutralizar a política do cartel. A produção de Brasil, Guiana, e os Estados Unidos com o "shale gás" (gás de xisto) já vêm crescendo. Ainda vai entrar o Suriname. E dentro da própria Opep+, alguns países como Rússia e Irã vão tentar manter ou aumentar a produção para fazer frente a gastos militares. A oferta tende a aumentar, mas sem uma demanda garantida, o que deve fazer o preço flutuar, mas sem perder o patamar dos US$ 80,00 por barril. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.