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27/Mar/2024

Carro Elétrico: entrevista com Uallace Moreira-MDIC

Embora afirme que o governo não dará preferência à rota tecnológica (se para carros híbridos ou elétricos) no programa Mover, o secretário de Desenvolvimento Industrial, Inovação, Comércio e Serviços do Ministério da Indústria e Comércio (MDIC), Uallace Moreira, diz que os modelos híbridos flex (elétrico e à combustão, com gasolina e etanol) levam vantagem pelos critérios de avaliação das emissões. Ele admite, porém, que, no curto prazo, os elétricos serão beneficiados, isso porque o conceito “do poço à roda”, que considera o nível de poluição para a fabricação dos componentes, e não só do veículo pronto, só passará a valer em 2027. Segue a entrevista:

O governo vai elevar a exigência para as montadoras investirem em pesquisa e desenvolvimento (P&D)?

Uallace Moreira: Será gradual: começa em 2024 e fazemos uma escadinha até 2028. Tem de ter certo cuidado, porque o que se investe hoje, dependendo do ciclo tecnológico, não precisa investir nos próximos um, dois anos. Então, quando a gente estabelece um porcentual, tem de ter cuidado para não comprometer as decisões de investimento. Outra coisa que temos de diferenciar é o que são montadoras e o que são autopeças. Neste segundo setor, boa parte são pequenas e médias empresas. O ciclo é bem diferente também para ônibus e caminhões.

Onde serão usados esses recursos?

Uallace Moreira: A ideia é que seja nas novas rotas tecnológicas que promovam a descarbonização. Pode ser para processo, produto ou organizacional. Estamos identificando (o interesse em) investimentos em novas tecnologias, como desenvolver o carro híbrido flex. Hoje, só tem uma empresa que fabrica o híbrido flex (Toyota). As demais têm híbrido a gasolina. Eles vão possivelmente investir porque o Brasil tem um mercado específico. O carro híbrido flex, os estudos técnicos mostram que ele tem uma pegada de descarbonização do poço à roda maior do que um carro elétrico que tenha a bateria fabricada fora do País, por causa da fonte energética.

Pode explicar melhor?

Uallace Moreira: O que é do poço à roda? É você pegar (a emissão de gases) da origem, da fonte energética, até o final. Se você pegar uma bateria elétrica que é fabricada com a fonte energética do carvão, ele já sai em desvantagem quando você compara com o carro flex e híbrido a etanol.

Há a possibilidade de se fabricar baterias no Brasil?

Uallace Moreira: Tem empresas projetando fabricar, mas é uma decisão do setor privado. Tem empresas que afirmam que vão produzir. Mas se você pega a mensuração (de emissões), a partir de 2027, do poço à roda, se é uma bateria fabricada fora do Brasil que usa uma matriz não limpa, essa bateria tem um impacto ambiental maior do que o carro híbrido flex. Os estudos técnicos mostram que o híbrido flex, quando ele aciona o motor com etanol, a emissão de CO2 é muito mais baixa.

Isso explica por que o Mover dará vantagem ao híbrido flex em relação ao elétrico?

Uallace Moreira: O que vai diferenciar os dois será o IPI verde. No crédito financeiro, não fazemos diferenciação. Neste quesito, o que vale é a agregação de valor. Quanto mais você intensifica a produção no Brasil, mais você tem acesso a crédito financeiro. Não temos prioridade em nenhuma rota tecnológica, isso cabe às empresas. Por exemplo: tem empresa que fala que não vai investir agora no híbrido plug-in (que tem tomada para abastecimento), só no full (a bateria é carregada pelo motor a combustão), devido à questão territorial do Brasil. Porque, no plug-in, é preciso ter um lugar para recarregar; o full, não. Então, a decisão é das empresas; o importante é que estimule investimentos em novas rotas tecnológicas, como tem sido anunciado, nesse valor de R$ 93,6 bilhões.

Se exportar ganha pontos?

Uallace Moreira: Sim, tem uma cumulatividade para o crédito financeiro. Maior inserção nas cadeias globais de valor e maior agregação de valor gera uma cumulatividade de crédito.

No IPI verde, como será a diferenciação para quem produzir híbridos ou elétricos?

Uallace Moreira: Você leva em conta o consumo, mas também a eficiência, a potência, a reciclabilidade…então, quando se somam esses fatores, tem-se um IPI diferenciado. A ideia é estimular carros, caminhões e ônibus que promovam a descarbonização.

Um carro fabricado no Brasil, feito com a matriz mais limpa, pagará menos IPI do que um importado elétrico?

Uallace Moreira: Carro elétrico vai poluir menos do que um carro a gasolina, independentemente se ele produz aqui no Brasil ou não. Qualquer carro importado elétrico vai emitir menos do que um carro movido a gasolina.

E o peso da matriz?

Uallace Moreira: O conceito do poço à roda só será considerado a partir de 2027. Neste momento, é só do tanque à roda.

Então, os elétricos ganham vantagem no curto prazo?

Uallace Moreira: É bem possível, tem de pegar os dados de consumo energético publicados pelo Inmetro.

O Brasil tem preferência pelo híbrido flex, pela produção local de etanol?

Uallace Moreira: O Mover tem uma neutralidade quanto à rota tecnológica. Cabe às empresas decidirem; não é o governo que vai dizer: ‘Produza (carros a) etanol’. O governo promove todas as rotas tecnológicas; as empresas que avaliam as possibilidades de mercado.

Fonte: Broadcast Agro.