ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

11/Sep/2023

Petróleo em alta pressiona combustíveis no Brasil

O preço do petróleo do tipo Brent fechou no dia 6 de setembro a US$ 90,60 por barril, o maior patamar desde novembro do ano passado. Os analistas já esperavam que o preço voltasse a passar a casa dos US$ 90,00 por barril em 2023, mas esperavam que isso acontecesse mais próximo ao fim do ano. O novo rali do petróleo coloca mais pressão sobre os preços dos combustíveis no Brasil, com o aumento da defasagem em relação aos valores do mercado internacional, já que a Petrobras não segue mais, desde meados de março, a fórmula da Paridade de Preços de Importação (PPI). No dia 15 de agosto, a Petrobras reajustou os preços dos combustíveis no Brasil depois de um hiato de três meses. Mesmo assim, o reajuste não havia sido suficiente para zerar a defasagem em relação aos preços internacionais.

De acordo com a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), no caso do diesel (que foi reajustado em 25,5%), essa defasagem, que à época era de 30%, estava, no dia 6 de setembro, em 14%, o que equivale a R$ 0,62 por litro. Nas contas do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), essa defasagem chegou a 13,1%, ou R$ 0,58 por litro. No caso da gasolina, que tem uma menor necessidade de importação, a defasagem da Petrobras calculada pela Abicom segue em um dígito desde o aumento de 16,2% nas refinarias, em 15 de agosto, ficando em 5%, ou R$ 0,17 por litro. Nas contas do CBIE, essa distância é maior, chegando a 11,6%, ou R$ 0,38 por litro no momento. Essa alta do petróleo vai pressionar a Petrobras a realizar novos aumentos, mas a tendência é que eles sejam represados, como da última vez, que só ocorreu pela iminência da escassez de diesel importado no mercado nacional.

Com os preços da Petrobras muito abaixo dos preços internacionais, as margens dos importadores despencam e eles têm dificuldades de operar, ameaçando o abastecimento do País. Hoje, o Brasil importa entre 20% e 30% do diesel que consome. O aumento dos preços do petróleo pode, por um lado, ser benéfico para a Petrobras, já que o Brasil é hoje um exportador da commodity. Mas, um eventual reajuste dos preços no mercado interno, se for inevitável, terá impacto direto na inflação, pressionando o Banco Central, que iniciou no mês passado o ciclo de redução das taxas de juros, hoje em 13,25% ao ano. Para analistas, a tendência dos preços do petróleo no mercado internacional segue em rota de valorização. O movimento atual tem como pano de fundo a manutenção dos cortes de 1,3 milhão de barris de petróleo diários por mais três meses, até o fim do ano, definidos pela Arábia Saudita e Rússia. A decisão colocou de vez a oferta como o fator preponderante para a dinâmica dos preços este ano.

A demanda global por petróleo até avançou este ano, mas teria atingido um teto, parando de puxar os preços por si só. Hoje, essa demanda está em dos 100 milhões de barris por dia. Segundo a S&P Global, em função do protagonismo excessivo da Arábia Saudita no mercado internacional de petróleo, novos cortes de produção ou extensões desse prazo de três meses são possíveis, o que pressionaria ainda mais os preços. A consultoria global Rystad Energy já prevê déficit no balanço entre oferta e demanda no quarto trimestre, com o mundo consumindo 2,7 milhões de barris por dia a mais que o ofertado pelos produtores. A consequência óbvia são estoques menores e preços mais altos. Os especialistas dizem que a escalada de momento já era esperada no segundo semestre, mas veio de forma precoce pelo movimento unilateral encabeçado pela Arábia Saudita. Ainda assim, algumas casas resistem a alterar previsões. O CBIE, por exemplo, manteve a previsão de US$ 93,00 por barril para o preço médio do segundo semestre, com máxima de US$ 95,00 por barril a ser alcançada no quarto trimestre.

A demanda mundial para petróleo bate níveis recordes, mas o aumento, porém, vem abaixo do que se esperava, sobretudo em função do avanço tímido da economia chinesa. O mercado se balizou numa recuperação de demanda da China, que já veio e agora se estabilizou abaixo das expectativas. Observa-se um certo platô na demanda global por petróleo e agora o que vai fazer a diferença é a oferta. Quem apostava em US$ 100,00 por barril (de Brent), acreditava na retomada forte da economia chinesa. A demanda vinha se fortalecendo, mas acabou não se materializando como previsto. O que sobra agora para aumentar preço é aperto na oferta. Destaque para a influência da Arábia Saudita nos preços. Hoje, os sauditas produzem 9 milhões de barris por dia, podendo reduzir esse volume rapidamente em 1 milhão ou 2 milhões ou aumentá-lo em até 3 milhões induzindo o preço. Movimentos desse tipo, no caso da Arábia Saudita, estão muito ligados à receita do País, 90% dependente de petróleo, enquanto para a Rússia importa mais o jogo geopolítico de pressionar as economias da Europa e Estados Unidos.

Por essa razão, mais cortes ou prorrogação dos cortes atuais até o primeiro trimestre de 2024 não seriam surpreendentes. O CBIE observa que dificilmente os dois países que lideram a Opep+ vão aceitar voltar a conviver com preços do Brent abaixo de US$ 85,00 por barril no curto prazo. É cada vez mais claro que a lógica desses países é a busca de aumento da receita via valorização de preços por meio de redução da oferta. Eles têm influência crescente no preço e seguirão atuando para manter esse preço, no mínimo, entre US$ 85,00 e US$ 90,00 por barril. A saída seria equilibrar o aumento da produção de petróleo por países fora da Opep+, o que não é factível no curto prazo. É o caso do Brasil, que poderia renovar reservas e aumentar a produção com a Margem Equatorial. No Brasil e em todo o mundo, porém, essa possibilidade se mostra cada vez mais remota ante o rigor ambiental crescente e os esforços de transição energética dos países. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.