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21/Jun/2023

Ciclo Otto: previsão de consumo recorde em 2023

A decisão do governo federal de incentivar a venda de carros populares a partir de créditos tributários poderá elevar o consumo de combustíveis do Ciclo Otto (gasolina e etanol) no Brasil para patamares recordes em 2023. Antes da divulgação dos incentivos fiscais, a StoneX previa que o consumo de combustíveis no Brasil aumentaria em torno de 3% no ano, o que já seria o maior resultado da série histórica, com 55,6 milhões de metros cúbicos em gasolina equivalente. Com o programa, a perspectiva de alcançar o recorde se torna cada vez mais provável e a consultoria já considera revisar suas previsões. Visto o aumento no número de veículos e a redução de preços da gasolina, o consumo deve chegar próximos dos 57 milhões de metros cúbicos. A consultoria de açúcar e etanol FG/A aposta em um crescimento da demanda potencial de combustíveis que pode chegar a 5% na comparação anual.

A perspectiva passou a ganhar força com os incentivos à aquisição de veículos, embora ainda seja arrojada. É um número bastante elevado para mercados mais estáveis. Com uma visão mais conservadora, a consultoria Datagro pretende manter as estimativas de Ciclo Otto para o ano, apesar do incentivo tributário à renovação da frota, pois não se sabe ainda qual é a consistência e por quanto tempo esses descontos vão vigorar. Mesmo sem tanto otimismo, a consultoria calcula que haverá uma expansão de 3,5% da demanda neste ano. Os especialistas reforçam que o avanço do consumo de combustíveis era esperado em 2023, mesmo antes do anúncio dos incentivos fiscais para a aquisição de veículos. O impulso era puxado pela recuperação do setor no pós-pandemia e pela retomada econômica do Brasil. A StoneX avalia que a participação do etanol no total do consumo de combustíveis também deve aumentar no ano, saindo do patamar de 26,5% de 2022 para até 28% em 2023.

Apesar da recuperação, o percentual segue baixo. Por exemplo, em 2021, que foi um ano fraco para os combustíveis, houve quase 30% de participação do etanol e, no período pré-pandemia, ficava acima de 30%. Embora estime participação maior do etanol na demanda total por combustíveis, em torno de 35%, a consultoria FG/A também considera que esse percentual poderia ser bem maior. Se houvesse mais etanol sendo produzido, esse número poderia ser o dobro, porque teria competitividade (preços proporcionalmente menores do que a gasolina). A adoção do ICMS em regime monofásico, que adicionou R$ 0,40 por litro à gasolina, poderia ajudar o etanol hidratado a ficar mais competitivo em relação ao combustível fóssil. No entanto, a oferta do biocombustível não acompanhou o impulso à demanda.

O Brasil avança na moagem da cana-de-açúcar da safra 2023/2024 (iniciada em abril), principal matéria-prima para produção do combustível sustentável, mas os prêmios para fabricação de açúcar estão mais de 10,00 centavos de dólar por libra-peso acima do etanol, o que fez com que a indústria priorizasse um mix mais açucareiro e menos alcooleiro no ciclo. A produção de etanol está inferior do que era esperado, o que neutraliza parte da melhora da paridade provocada pela adoção do novo regime do ICMS), afirmou a FG/A, ressaltando que o aumento da fabricação de etanol previsto para 2023 (entre 10% e 15%, na comparação anual) é pequeno para influenciar na competitividade do biocombustível. Para Datagro, os fundamentos do mercado caminham na direção de uma recuperação da competitividade do etanol na bomba nos próximos meses que, de forma combinada, pode chegar entre 5% e 7% em relação à gasolina.

A consultoria Datagro estima que o ICMS em regime monofásico pode impulsionar a competitividade do etanol ante a gasolina em cerca de 4%, nas próximas quatro ou seis semanas (quando se imagina que os efeitos do tributo chegarão oficialmente nas bombas). Já a retomada da cobrança de PIS/Cofins sobre combustíveis em julho tende a fazer com que os preços da gasolina fiquem R$ 0,30 por litro acima do etanol, o que representaria um diferencial equivalente a 3%, para a Datagro. A tributação federal foi zerada há um ano e recuperada parcialmente em fevereiro de 2023. Considerando as mudanças nos regimes de tributação e o avanço da moagem da cana-de-açúcar no Centro-Sul do País, a FG/A espera que o preço do etanol hidratado saia dos atuais 72% e se aproxime de 67% do preço da gasolina.

Como o mercado adota a “regra dos 70%” (que prega que o biocombustível deve custar até 70% do preço da gasolina para ser economicamente vantajoso), a mudança pode ajudar nas vendas do etanol. Mesmo assim, ainda seria uma paridade mais pontual e localizada em São Paulo. A expectativa da Datagro é de que o mercado de etanol volte a ser competitivo ante a gasolina nos próximos dois ou três meses nos Estados mais tradicionais para o mercado: Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso do Sul. Para a StoneX, é possível que entre julho e agosto, no pico da safra, a paridade alcance 66%. No entanto, tudo dependerá de como a Petrobras realizará reajustes nos preços de combustíveis, uma vez que se descolou da política de Preço de Paridade de Importação (PPI). O mercado ainda está no escuro, incerto de como esses reajustes na gasolina e no diesel vão acontecer. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.