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14/Jun/2023

Entrevista: Gastón Diaz Perez - CEO da Robert Bosh

Gigante global do ramo de autopeças e a maior empresa do setor no Brasil, a Robert Bosch, com mais de 10 mil funcionários no País, se prepara para atender à demanda de qualquer tipo de tecnologia que seja adotada no País no processo de eletrificação. O foco atual da companhia é nos carros híbridos flex, que estão sendo cotados por várias montadoras. A discussão não é a eletrificação, mas a descarbonização, diz o CEO e presidente da empresa na América Latina, Gastón Diaz Perez. O argentino de 47 anos, que assumiu o comando da multinacional no País e na região no ano passado, ressalta que o uso de etanol no carro flex já reduz em 60% as emissões de CO² na comparação com a gasolina, o que coloca o Brasil à frente de vários países no cumprimento de metas de descarbonização. Segue a entrevista.

Que avaliação o sr. faz das medidas do governo para ampliar as vendas de veículos?

Gastón Diaz Perez: Toda medida que ajude nosso produto a ficar mais acessível é bem-vinda. Por outro lado, acho que, pelo curto tempo em que serão aplicadas, deve ocorrer uma antecipação de compras. Se fosse por tempo maior, seria possível ampliar o mercado.

Haverá algum impacto para a Bosch?

Gastón Diaz Perez: Sim. Os clientes (montadoras) avisaram para nos prepararmos para um aumento de encomendas e alguns já estão concretizando esses pedidos.

O estoque da indústria aumentou, pois houve reforço na produção na expectativa de vendas maiores. Já não há muitos carros nos pátios?

Gastón Diaz Perez: Acho que o aumento de estoque foi puxado, principalmente, pela expectativa do consumidor à espera dos benefícios do programa.

Um dos três quesitos que determinam o tamanho do desconto é o de conteúdo de peças locais. Isso é importante para o setor de autopeças?

Gastón Diaz Perez: É positivo que se valorize o conteúdo local para que a indústria continue investindo. Não vamos vender mais peças por causa disso, mas pode ajudar a motivar mais empresas a ampliarem a nacionalização.

Alguns analistas dizem que o mercado deveria ser aberto às importações, pois geraria redução de custos e melhor qualidade das peças.

Gastón Diaz Perez: É uma afirmação muito polêmica. Olha o que ocorre em outros países, como os Estados Unidos, que liberou um pacote enorme de incentivos para localização de componentes, especialmente semicondutores e baterias para carros elétricos. Não vejo isso como protecionismo, mas como maior independência ao trazer mais tecnologias para o país e ficar menos dependente de importações, principalmente depois do que vimos durante a pandemia com os semicondutores. O mundo está indo no caminho de favorecer a localização para que as novas tecnologias sejam produzidas e desenvolvidas nos próprios países.

Como está a Bosch no processo de eletrificação no País?

Gastón Diaz Perez: Acho que a discussão não é eletrificação, mas descarbonização, porque o grande inimigo é a emissão de poluentes. Há várias opções para descarbonização, como carro a bateria, híbrido, hidrogênio, matriz energética verde, biodiesel, etanol, biogás, biocombustível. Cada uma dessas possibilidades é uma carta. Muitos países têm só uma carta. O Brasil tem o baralho completo. Temos muitas alternativas para descarbonizar e isso pode virar uma oportunidade. Estamos trabalhando com várias montadoras para o híbrido flex.

A hibridização é a melhor opção para o Brasil?

Gastón Diaz Perez: O híbrido flex faz muito sentido no Brasil, especialmente quando se fala da infraestrutura que já está pronta. É uma solução de transição. Como já temos uma frota flex, não vamos ter o carro elétrico massivamente de imediato.

O Brasil, por enquanto, não precisa do carro elétrico para atender as metas de descarbonização?

Gastón Diaz Perez: Temos de entender esse caminho como uma transição, e o que puder ser usado de nossos recursos e de nossa matriz energética é bem-vindo. Hoje um carro elétrico custa três vezes mais que um a combustão. Se partíssemos logo para essa solução, demoraríamos mais para substituir nossa frota. Temos outras opções até o carro elétrico ter preço mais acessível. Mas, no médio e longo prazos, o hidrogênio seria bárbaro. O Brasil pode ser o maior produtor mundial de hidrogênio.

Fonte: Broadcast Agro.