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25/Abr/2023

Nova política de preços da Petrobras deve demorar

A diretriz da nova gestão da Petrobras de abandonar a política de preços de importação (PPI) e perseguir o aumento da sua capacidade de refino, se executada, vai encurtar o espaço dos importadores de combustíveis no País. Mas, analistas e agentes desse mercado ainda têm dúvidas sobre a disposição da Petrobras em "abrasileirar" seus preços, para cumprir a promessa de campanha do presidente Lula (PT). A estatal levará tempo para aumentar de forma relevante sua produção, sobretudo de diesel, combustível mais sensível devido à parcela de consumo importada, entre 25% e 35% do total. No caso da gasolina, a fatia importada do consumo brasileiro é inferior a 10%. Há um consenso de que pelo menos nos próximos anos, o País ainda vai conviver com combustível importado. Com um cenário de preços menos turbulento, esse período, estimado entre um ano e meio por importadores pessimistas, e cinco anos ou mais pelos otimistas, deve ser definido pela corrida da Petrobras para turbinar o refino nacional.

A estatal anunciou a assinatura de contrato para a ampliação e melhoramento da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco, um projeto antigo no Plano Estratégico, e considerado chave para o aumento da produção de diesel no País. As chamadas "tradings" do setor viveram pelos menos cinco anos de forte expansão, a partir de outubro de 2016. Então, a Petrobras equiparou os preços da gasolina e diesel que fabrica com aqueles praticados pelos importadores, ou seja, considerando, para além dos custos locais de produção, fatores como cotação internacional do petróleo, câmbio, frete marítimo e seguro de cargas. Com os preços da Petrobras alinhados com os de importação, uma janela se abriu para as importadoras, que conseguiram disputar mercado com a estatal e crescer. Entretanto, quando a guerra da Ucrânia começou, a cotação do óleo bruto disparou, chegando à casa dos US$ 120,00 por barril, o que pressionou o preço dos combustíveis e, por consequência, a inflação oficial.

O fenômeno foi acompanhado de forte pressão política do governo de Jair Bolsonaro (PL) sobre a Petrobras para reduzir preços, o que reinaugurou na companhia períodos de preços abaixo do PPI. Agora, sob Lula, em que pese o discurso de abandonar o PPI, há, na prática, continuidade com relação às últimas gestões da Petrobras. No fechamento do mercado de quarta-feira (19/04), segundo a Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom), a gasolina da Petrobras estava alinhada com o PPI e o diesel ainda mantinha prêmio de 9%, ou R$ 0,31 por litro com relação ao PPI, mantendo aberta a janela para os importadores atuarem. É fato que o governo Lula ainda não tem amplos poderes na Petrobras, com a diretoria indicada por Prates empossada há pouco mais de 20 dias e um conselho de administração de maioria herdada do governo Bolsonaro.

Mas, os agentes do mercado já não acreditam mais em guinada nos preços. O próprio Prates tem falado em revisão, mas mantendo a referência internacional. A Abicom não acredita em mudança radical na precificação da estatal. Se a Petrobras optar por praticar preços artificiais, os importadores vão se afastar do mercado e o governo e a estatal terão problemas para evitar o desabastecimento do País. Será difícil a aprovação pelo Conselho de Administração de uma política de preços que seja baseada somente nos custos da companhia. A Petrobras precisaria importar um volume ainda maior e pode não ter a capacidade de, junto com as distribuidoras privadas, atender a demanda plena. Se a Petrobras praticar preços desalinhados com os da importação, isso potencializa o risco do desabastecimento. Para além da questão do desabastecimento, a nova diretriz deve parar nas instâncias decisórias da empresa por ser antieconômica.

Essa orientação no sentido de “abrasileirar” o preço com base em custo não deve ser aprovado pelo Conselho. O Conselho e a direção da empresa têm o objetivo principal de dar o melhor resultado para os acionistas, seja governo ou minoritário. No ano passado, o preço mais baixo praticado pela Petrobras no Brasil em relação ao mercado internacional inibiu a atuação das importadoras associadas da Abicom, que representaram menos de 1% das compras de derivados no mercado externo. Metade do volume importado foi trazido pela própria Petrobras e a outra metade das importações teve participação majoritária das três grandes distribuidoras privadas: Vibra, Raízen e Ipiranga. Para a consultoria Argus, a questão dos preços parece pacificada, e mesmo antes da atual gestão, já se havia chegado a um meio termo capaz de evitar ao mesmo tempo problemas políticos com o governo federal (de choque inflacionário) e não afastar investidores, mantendo a rentabilidade do negócio.

Nesse cenário, a Petrobras tem atendido o mercado com o volume que pode produzir e o restante se tornou um mercado secundário, de precificação mais livre e pouco ameaçada. Com isso, a preocupação deixa de ser o preço em si, e passa a ser o volume, o quanto do mercado a Petrobras vai conseguir atender. Um aumento do volume de produção de combustíveis da estatal, principalmente de diesel, poderia minar a concorrência dos importadores independentes. Na prática, esse movimento pode vir de um aumento real ou relativo da participação da companhia. O primeiro caso diz sobre expansão efetiva do parque de refino, enquanto o segundo considera queda no consumo total do País, que faz a parcela atendida pelo volume Petrobras aumentar, diminuindo o espaço dos fornecedores de produtos importados.

A importadora Nimofast é uma das que aposta na manutenção do espaço para importação no período dos próximos três a cinco anos. A leitura é de que a importação de volume entre 30% e 40% do que é consumido no País vai continuar nos próximos anos. Nessa previsão, considera-se o crescimento econômico e, com o tempo, até a expansão efetiva do parque de refino da Petrobras. Se o País crescer 2% ou 3% nos próximos anos, a demanda por combustível vai crescer e o País vai precisar de cargas do exterior. Com atuação em toda a costa brasileira, mas, sobretudo no Porto de Paranaguá (PR), a Nimofast vem aproveitando a janela de importação deixada pela Petrobras, inclusive importando diesel russo com preço abaixo do valor de referência do mercado internacional. A empresa tem trazido entre 200 mil e 250 mil metros cúbicos de diesel russo por mês, o que perfaz cerca de sete navios de carga com o produto.

A confiança no espaço da importação no Brasil é tamanha, que a empresa não atua no mercado spot e fechou contratos de prazos maiores com os fornecedores estrangeiros. Sobre possíveis expansões dos volumes refinados pela Petrobras, qualquer movimento nesse sentido deve levar anos. Um projeto novo de refinaria para ser validado e formado leva de três a dez anos. Não há certeza de que a Petrobras vai fazer esse movimento, porque o momento atual é de conversão e não expansão da velha economia (combustíveis fósseis). Por outro lado, o perfil do parque de refino da estatal pode ser radicalmente diferente dentro de um ano e meio ou dois anos. O volume de diesel, inclusive diesel verde, poderia ser turbinado por meio da conclusão do projeto original da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco; a retomada do Polo Gaslub (antigo Comperj) no Rio de Janeiro, e o chamado "revamp" (melhoramento) de outras unidades pelo País.

Assim, não seria necessário construir uma refinaria do zero para aumentar dramaticamente os volumes produzidos. Essas expansões e melhoramentos têm execução bem mais rápida. Até porque, no caso da Rnest, os equipamentos já estão comprados. Reforçam essa leitura as informações divulgadas pela Petrobras sobre a assinatura de contrato para a ampliação e modernização de unidades já em operação na Rnest. Após a conclusão das obras, esperada para o quarto trimestre de 2024, a refinaria terá um aumento na capacidade total de processamento do Trem 1: dos atuais 115 mil barris de petróleo por dia (bpd) para 130 mil bpd, conforme previsto no Plano Estratégico 2023-2027. As modernizações são estratégicas para viabilizar o incremento da oferta de diesel para o mercado brasileiro a partir de 2025. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.