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26/Set/2022

Etanol: consolidação do mercado europeu é dúvida

Com a escassez energética desencadeada pela guerra entre Rússia e Ucrânia e a desvalorização do etanol no Brasil, a Europa se consolidou como o principal destino das exportações brasileiras do biocombustível em 2022. Usinas nacionais, estimuladas pelos preços mais atrativos do outro lado do Oceano Atlântico, exportaram volumes recordes ao continente. No entanto, embora a região tenha desbancado os Estados Unidos na primeira posição, o mercado vê a demanda como pontual e considera que a Europa pode não se consolidar na liderança das vendas do biocombustível. As vendas de etanol brasileiro para a Europa se aceleraram com a guerra entre Rússia e Ucrânia. Tradicionalmente, a Califórnia, nos Estados Unidos, era o principal destino dos embarques do País, mas o conflito no Leste Europeu virou uma ameaça à disponibilidade energética e os governos locais estimularam a adesão aos biocombustíveis como alternativa, o que alavancou os preços do etanol.

Dados da Datagro Price-Reporting Agency (PRA) mostram que o preço atual do etanol anidro de São Paulo está cerca de 30% abaixo do preço do biocombustível negociado pela União Europeia em agosto deste ano. A variação explica por que, naquele mês, o volume mensal de etanol enviado para a Europa atingiu o recorde de 119 milhões de litros, segundo a S&P Global Commodity Insights. Além das instabilidades geopolíticas, no mercado interno o estímulo ao biocombustível passou por um revés. Em junho de 2022, o governo federal reduziu a carga tributária do ICMS, principal imposto estadual sobre combustíveis, e zerou as alíquotas federais PIS/Pasep e Cofins. As medidas diminuíram o diferencial competitivo do etanol em relação aos combustíveis fósseis e desestimularam o consumo interno. Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) reunidos pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica) revelaram que, entre janeiro e agosto, cerca de 400 milhões de litros de etanol anidro deixaram o País com destino a Países Baixos (Holanda), Reino Unido, França e Turquia. O volume é quase quatro vezes superior ao registrado em igual período do ano passado (102 milhões de litros).

Os países europeus integram a lista dos dez principais destinos do etanol brasileiro em 2022, com mais de 30% do volume embarcado no ano. Países como a Holanda e o Reino Unido aumentaram os volumes adquiridos em, respectivamente, 352,4% e 654,9% de 2021 para 2022. A França, de janeiro a agosto do ano passado, não havia realizado compras e agora já tem quase 14 milhões de litros registrados. Na França, houve um aumento dos mandatos de mistura de etanol na gasolina e suportes financeiros do governo estimularam a procura por biocombustíveis. A S&P Global Commodity Insights afirma que, com os preços mais baixos dos biocombustíveis, os consumidores europeus alavancaram a demanda pelo etanol nacional, o que se tornou uma oportunidade, dado o cenário doméstico que fugia ao habitual. Antes, como o consumo interno crescia, o balanço entre oferta e demanda era, muitas vezes, de déficit e não havia margem para aumentar a exportação. Há espaço para mais exportações de etanol brasileiro, com o produto a partir do milho, que apresenta crescimento expressivo no País.

No entanto, a permanência do mercado europeu no ranking de compradores nacionais do biocombustível ainda é uma incógnita. Uma vez que o espaço de exportação europeu foi "achado", acordos comerciais poderiam estimular as negociações, mas será sempre o impulso da demanda que ditará a tendência de venda, o que, por enquanto, ainda é difícil prever. A percepção é de que é algo pontual. Existe uma elasticidade, mas não vai mexer nas estruturas do que o Brasil exporta. A visão é reforçada pelo fato de que o aumento das negociações com a Europa não alterou o volume total de vendas externas do Brasil no período, que continua muito próximo de um ano atrás (1,2 bilhão de litros até agosto de 2022 ante 1,3 bilhão até agosto de 2021). O que se nota neste ano é uma mudança de destino sem incremento no volume global, afirmou a Unica. As compras de etanol para exportação ocorrem apenas no mercado spot e poucos são os contratos de médio prazo. Importações e exportações, na maioria das vezes, dependem da arbitragem entre o preço interno e o preço externo. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.