ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

08/Set/2022

Açúcar: expectativas para safra global 2022/2023

O mercado global de açúcar fecha neste mês o ciclo 2021/2022 sinalizando para um aumento de produção na próxima temporada. Índia e Tailândia retomaram o ritmo após frustração da safra 2020/2021 pelo clima e o Brasil teve desempenho tímido com as geadas do ano anterior, o que fará com que a temporada 2021/2022 feche com déficit de cerca de 1 milhão de toneladas. Mas, para o ano-safra 2022/2023 (de outubro a setembro), a expectativa é que os países asiáticos surpreendam mais uma vez e que o Brasil mostre reação. Isso só não deve acontecer se o clima, sempre uma incógnita, não ajudar. Algumas das fontes consideram muito otimistas as projeções divulgadas pela Organização Internacional do Açúcar (OIA) na semana passada. A entidade estimou para 2022/2023 superávit de 5,571 milhões de toneladas de açúcar no mundo. O Rabobank, por exemplo, trabalha com saldo positivo de não mais que 3,5 milhões de toneladas ao final da temporada.

Esse excedente pode ser facilmente dobrado ou eliminado com algumas mudanças de produção ou consumo, então é preciso entender a vulnerabilidade desse número. A HedgePoint Global Markets avalia que qualquer adversidade climática pode levar o ciclo 2022/2023 a fechar no negativo. A expectativa é de um cenário de oferta global mais empatado, mais próximo do zero a zero. Mas, o La Niña poderia levar para o déficit. O clima seco, causado pelo fenômeno, pode até elevar o nível de sacarose medido pelo Açúcar Total Recuperável (ATR) em algumas áreas, o que seria positivo. Em outras regiões, se a estiagem se prolongar, causará perdas. Segundo a Paragon Global Markets, o cenário de instabilidade climática tende a ter efeitos mais permanentes nos canaviais nas safras futuras. Com a devastação das áreas de preservação e maior uso de combustíveis fósseis, principalmente pela crise energética com a guerra na Ucrânia, fica mais difícil ter períodos de seca e chuvas definidos.

Para a atual temporada, o mercado está focado nas monções irregulares na Índia e ao clima na Europa e no Brasil. Afinal, a Índia foi a surpresa da safra que termina neste mês. Com exportação recorde de 11,2 milhões de toneladas, equilibrou a oferta global sem derrubar os preços na Bolsa de Nova York. Para o Rabobank, a menor disponibilidade de açúcar no Brasil compensou o volume ofertado pela Índia. Analistas consideram difícil os indianos repetirem em 2022/2023 o desempenho do atual período. Por enquanto, a sinalização é de que o país mandará açúcar para fora em duas parcelas e a primeira estaria em torno de 4 a 5 milhões de toneladas apenas. Outro limitador para a oferta indiana é o clima. A HedgePoint cita as costumeiras adversidades em áreas produtoras de cana-de-açúcar. Se as regiões de Maharashtra e Karnataka sofrem com alagamentos, Uttar Pradesh enfrenta o déficit hídrico.

Na análise da HedgePoint, esse cenário adverso poderia colocar em risco a perspectiva de produção indiana de 35,5 milhões de toneladas para a temporada 2022/2023, ante safra atual de pouco mais de 35 milhões de toneladas. O volume já considera o direcionamento de 4,5 milhões de toneladas da matéria-prima para a fabricação de etanol. O Rabobank acrescenta que o programa de etanol indiano está ganhando força. Mesmo que encerrem a temporada com mais cana-de-açúcar produzida, a destinação para o etanol será maior do que na safra passada. O país quer atingir a meta de misturar 12% do biocombustível na gasolina no próximo ano e 20% até 2025. Atualmente, o percentual está em 10%. O Rabobank espera, assim, que a produção de açúcar indiana fique em linha com a de 2021/2022. Embora não seja determinante para os preços globais do açúcar, a Europa é observada pelo mercado, principalmente depois de a seca prolongada e as altas temperaturas, neste ano, prejudicarem a produção de beterraba açucareira.

A Hedge Point cita a queda de produtividade na Polônia, Alemanha e França, mas ressalva que o volume desses países ficou, ainda assim, acima da média dos últimos cinco anos. A Paragon Global, por sua vez, menciona números que vão de 15% a 30% de queda na produção europeia esperada, a depender da área. Isso está elevando o prêmio de açúcar branco (refinado) para níveis não vistos desde 2010 e 2011. O Rabobank completa ressaltando que o açúcar refinado, por ser consumido no final da cadeia, é um sinalizador: quando o prêmio dele está acima do açúcar bruto, a demanda é robusta. O Rabobank acrescenta que o desempenho agrícola dos países europeus segue sendo um ponto de interrogação para o mercado, devido à dificuldade de acesso a fertilizantes com a guerra entre Rússia e Ucrânia. Agora, acumulam-se questões também a respeito do período de processamento da beterraba (de outubro a dezembro) e os efeitos do conflito em commodities energéticas.

É importante destacar que, para uma boa parte da indústria, o combustível principal é basicamente gás natural e a Europa tem dependência do produto russo. Por fim, a recuperação da safra de cana-de-açúcar do Centro-Sul brasileiro é dúvida. O esperado aumento da produtividade média no campo ainda não aparece nos relatórios recentes da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica). A qualidade da cana-de-açúcar foi decepcionante também. Se antes se falava em produção de 551 milhões de toneladas da matéria-prima, analistas hoje estimam entre 530 e 540 milhões de toneladas de cana-de-açúcar para o ciclo. A HedgePoint pondera, no entanto, que ainda há tempo para uma recuperação, mas depende da chuva. A HedgePoint se mantém “conservadora” quando olha para o Brasil e estima fabricação entre 34 e 35 milhões de toneladas de açúcar em 2022/2023, ante temporada atual de 33 milhões de toneladas, de acordo com a OIA.

Outra grande pergunta direcionando à produção de açúcar é se a isenção de impostos federais sobre combustíveis fósseis, que influencia na competitividade do etanol no País, continuará em 2023. A ausência de impostos conta para uma boa parte dessa queda do preço na bomba e a ideia inicial era que voltariam a operar no primeiro dia de janeiro do ano que vem, mas pode não ser necessariamente assim. O problema disso é que o governo acaba retirando o incentivo de investimento no setor sucroalcooleiro do Brasil. Ninguém vai investir quando não se sabe qual vai ser o preço do álcool. Em oposição às incertezas, os bons ventos da temporada 2022/2023 devem vir do Sudeste Asiático. De acordo com o Rabobank e a HedgePoint, tudo indica que a safra da Tailândia vai superar em cerca de 20% a temporada atual, passando de 10 milhões de toneladas para cerca de 12 milhões de toneladas. O resultado está em linha com as 12,33 milhões de toneladas sugeridas pela OIA.

Isso é visto como um fator que vai aumentar a disponibilidade de açúcar para exportação. O volume ultrapassa de maneira expressiva os resultados das quebras de safra de 2019/2020 e 2020/2021, mas ainda está abaixo do recorde de 2017/2018, de 14,8 milhões de toneladas. Para a HedgePoint, se a Tailândia voltar a fazer um volume bem parecido com o que já fez no passado, representaria pelo menos 8 milhões de toneladas para exportação. Apesar do resultado positivo, a guerra na Ucrânia também deixou suas marcas na Tailândia. A Paragon Global afirma que regiões do país devem ter safra menor do que se espera devido à redução no uso de fertilizantes, em função da escassez provocada pela guerra. Mesmo em nível global, não há, ainda, como quantificar a ausência de insumos nos canaviais. Se o clima for perfeito, a falta de fertilizante não tem tanto impacto, mas, com clima irregular, pode ser maior. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.