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04/Abr/2022

Cana: incertezas sobre os preços, mix e demanda

A safra 2022/2023 de cana-de-açúcar no Centro-Sul do Brasil começou na sexta-feira (1º/04) e há quase um consenso de que a região deve processar mais produto do que na temporada anterior, mas há fatores de incerteza. Como a commodity é fortemente influenciada por fatores voláteis como câmbio e petróleo, e a guerra entre Rússia e Ucrânia acrescenta ainda mais imprevisibilidade, é difícil apontar uma tendência para os preços e a demanda, tanto no Brasil quanto no exterior. Embora o início oficial da safra seja em 1º de abril, a leitura do mercado é de que o início da moagem vai atrasar, o que se reflete nos preços de futuros.

O contrato da commodity na Bolsa de Nova York com vencimento em maio é negociado a um valor mais alto do que o contrato seguinte, que vence em julho. Levando em consideração que maio é mês de entrada de safra do Centro-Sul, se ele é mais caro é porque a quantidade de produto ofertado na visão do mercado não vai ser suficiente. Na quinta-feira (31/03), o contrato maio terminou a 19,49 centavos de dólar por libra-peso na Bolsa de Nova York, enquanto o julho ficou em 19,32 centavos de dólar por libra-peso. A moagem deve começar em meados deste mês.

A cana-de-açúcar sofreu muito no ano passado, então o produto do começo da safra tende a ter qualidade ruim. Por isso, deve haver um atraso, porque usinas esperam para ver se a produtividade melhora. As principais projeções indicam recuperação parcial da moagem após uma temporada 2021/2022 marcada pelo forte recuo no volume de cana-de-açúcar processado em decorrência de seca e de geadas. Rabobank e Itaú BBA estimam a moagem em 560 milhões de toneladas. A oferta de açúcar, tanto no Brasil quanto no mundo, deve ser farta.

As perspectivas para a fabricação no Centro-Sul giram em torno de 32 milhões de toneladas. Na Índia, segunda maior produtora do mundo, a moagem de cana-de-açúcar também pode alcançar altos patamares, embora parte da produção deva ser encaminhada para a crescente indústria de etanol do País. A Tailândia, importante exportadora, vê recuperação nas lavouras. A estimativa de superávit na safra global 2021/2022 (outubro a setembro) foi elevada, podendo superar 1 milhão de toneladas. Quanto ao consumo, a guerra no Leste Europeu causou "panic buying" (corridas às compras) principalmente na Rússia.

Não há açúcar nas lojas, as pessoas estão em pânico e comprando todo tipo de alimento. A capacidade de produção está principalmente na região oeste da Rússia, e o transporte é difícil especialmente em razão da área extensa do país. Para a Rússia abastecer toda sua demanda pelo açúcar é necessário apenas importar 300 mil toneladas, pois os russos produzem beterraba, e o país já encomendou navios com o produto vindos do Brasil. O consumo global de açúcar este ano tende a ter o mesmo crescimento dos anteriores: algo em torno de 1% ou 1,1% ao ano.

Para o etanol, dados do Ministério da Agricultura indicam que os estoques físicos totais do biocombustível em 15 de março estavam em 3,999 milhões de m³, dos quais 1,79 milhão de m³ de anidro e 2,21 milhões de m³, de hidratado. Os estoques do Brasil estão confortáveis. No final de abril, serão cerca de 1,6 bilhão de litros de hidratado e 700 milhões de litros de anidro armazenados. Isso pode segurar um avanço maior dos preços. Porém, há relatos de que os contratos para exportações do biocombustível à Europa em março e abril teriam sido mais agressivos.

Até isso se concretizar não é possível saber o volume total, mas pode puxar os preços e deixar os estoques mais enxutos. No entanto, também há relatos de reserva de navio para importação, o que pode neutralizar o efeito dos embarques para o exterior. A compra de etanol norte-americano ficou mais fácil com a retirada, até o fim do ano, da tarifa de importação, que era de 18%. Mesmo assim, não deve entrar no País um volume significativo, mas o total pode acabar sendo maior do que o esperado atualmente, de 300 milhões de litros.

Importante salientar que as dificuldades macroeconômicas do Brasil dificultam um ganho relevante para o preço do biocombustível. O que determina o quanto o etanol pode subir é a demanda, que no momento está patinando. A previsão é de alta de 0,5% do consumo do Ciclo Otto este ano. É pouco espaço para o etanol crescer, ainda que se espere que a participação do hidratado cresça para cerca de 25% do total do consumo. O biocombustível tende a ter parcela maior no Ciclo Otto enquanto o petróleo continuar em patamares elevados e a Petrobras mantiver a atual política de preços de paridade internacional.

A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) informou em seu último levantamento que, apesar de o etanol ter subido 5,38% no mês até a semana passada, a paridade com a gasolina ainda é de 68,68%, o que o torna mais competitivo do que o derivado do petróleo. O mix da safra ainda é incerto. Há alguns meses, as expectativas eram de maximização da produção de açúcar; mas algumas consultorias vêm alterando suas estimativas para o mix, tornando-o mais alcooleiro.

No momento, o açúcar está um pouco mais lucrativo para as usinas do que o etanol, mas muitas unidades devem aguardar para definir no mercado spot como alocar a cana que ainda não foi fixada. O biocombustível deve remunerar mais ao longo desta safra. Principalmente em função do novo patamar do petróleo e, no médio/longo prazo, de uma mudança na matriz energética da Europa, que passa por escassez de energia em razão da guerra no Leste Europeu. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.