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01/Set/2021

Cana: Índia eleva preço mínimo para ampliar oferta

O governo da Índia aprovou um aumento do preço mínimo da cana-de-açúcar para a safra 2021/2022 (outubro/setembro) em 1,8% para um novo recorde de 2.900 rúpias (INR) por tonelada (equivalentes a R$ 205,27 por tonelada), para um rendimento industrial, ou taxa de recuperação do açúcar, de 10%. A fim de garantir que o rendimento industrial seja adequadamente remunerado, a política de preço da cana-de-açúcar na Índia atribui um aumento de 1% no preço mínimo para cada aumento de 0,1% no rendimento industrial. Ou seja, caso o fornecedor de cana-de-açúcar entregue a sua matéria-prima com um rendimento industrial de 10,1%, o mesmo receberá 2.929 rúpias por tonelada de cana-de-açúcar. De modo análogo, caso o rendimento industrial caia 0,1%, para 9,9%, o preço da cana-de-açúcar cairá 29 rúpias por tonelada, para INR 2.981 por tonelada.

Contudo, o governo indiano limita essas deduções caso o rendimento industrial fique abaixo de 9,5%, ou seja, independentemente da situação, o fornecedor tem a garantia de receber 2.755 rúpias por tonelada. O preço da cana-de-açúcar evoluiu rapidamente nos últimos 10 anos, pois, em comparação, na safra 2009/2010 o preço mínimo da cana-de-açúcar era de 1.298 rúpias por tonelada. Tal política do preço mínimo da cana-de-açúcar foi introduzida em 1966 pelo governo indiano, embora alguns estados, como Uttar Pradesh e Punjab, também determinam preços mínimos da cana-de-açúcar, cujos valores costumam ser maiores do que o fixado a nível nacional. A título de comparação, considerando as atuais taxas no mercado cambial, o novo preço mínimo da cana-de-açúcar na Índia será de US$ 39,08 por tonelada ou R$ 205,27 por tonelada.

Em São Paulo, levando em conta o atual preço Consecana-SP de R$ 1,0573 por Kg de açúcares totais recuperados (ATR) no acumulado até julho, e um rendimento industrial de 138,50 Kg ATR/t de cana-de-açúcar no acumulado até 15 de agosto, o preço da cana-de-açúcar chegaria a R$ 146,44 por tonelada, ou seja, valor 40% abaixo do preço mínimo da cana-de-açúcar na Índia. Agora, resta saber se o governo indiano atenderá outro pleito da indústria, o de aumentar o preço mínimo do açúcar praticado no mercado interno, hoje fixado em INR 31.000 por tonelada. As usinas solicitaram que este preço mínimo deveria ser reajustado para algo em torno de INR 34.000 a 35.000 por tonelada. Todo este contexto deve ser posto em perspectiva diante dos esforços do governo indiano para desenvolver o seu programa de mistura de etanol na gasolina.

Ao proporcionar um novo aumento do preço da cana-de-açúcar, os agricultores estarão ainda mais incentivados a expandir o cultivo no país, compensando, portanto, o direcionamento da cana-de-açúcar para a produção de etanol. Para a safra 2021/2022 em questão, a produção de açúcar deverá se manter em nível elevado, acima de 31 milhões de toneladas valor branco, contra 30,90 milhões de toneladas produzidas em 2020/2021, a despeito de que 3,4 milhões de toneladas de açúcar equivalente deverão ser direcionadas à fabricação de etanol. Esta performance se deve a uma combinação de expansão da área cultivada e de um aumento no rendimento agrícola. Em outras palavras, caso não houvesse o programa de etanol, a produção de açúcar na Índia poderia ser ainda bem maior, e acima de 34,4 milhões de toneladas.

Para sorte da Índia e de produtores no resto do mundo, incluindo o Brasil, o balanço mundial de açúcar deverá convergir para um novo déficit em 2021/2022, o que permitirá que a Índia continue aproveitando melhores preços no mercado para exportar o seu açúcar, dessa vez provavelmente sem subsídio, já que o governo indiano sinalizou que não pretende renovar a política de subsídios tendo em vista os preços ainda elevados do açúcar no mercado internacional. De toda maneira, o governo indiano está comprometido com a expansão do uso de etanol, tanto em mistura com a gasolina, quanto na forma de etanol puro, com a recente autorização de sua venda que abre as portas para a introdução de veículos com tecnologia flex, à semelhança do que ocorre no Brasil desde 2003.

A meta de mistura de 20% de etanol na gasolina foi antecipada de 2030 para 2023, e dentro de dois meses é esperada a regulamentação que permitirá a introdução de veículos flex-fuel. Considerando que a demanda por gasolina cresce a passos largos na Índia, a demanda por etanol para mistura deve atingir 8,57 bilhões de litros em 2023, e 9,35 bilhões de litros em 2025, o que equivale a 15,6 milhões de toneladas de açúcar. Considerando que o consumo doméstico é em torno de 26 milhões de toneladas, ainda há espaço para que a Índia continue surpreendendo o mercado de açúcar, para cima ou para baixo. Fonte: Plinio Nastari. Agência Estado.