ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

03/Ago/2021

Biomassa: crise hídrica deverá elevar a demanda

A crise hídrica pela qual passa o Brasil e o baixo nível dos reservatórios de hidrelétricas podem aumentar a demanda por energia a partir do bagaço de cana-de-açúcar. No entanto, o tempo seco também pode prejudicar a oferta dessa energia, já que a falta de chuvas prejudicou canaviais brasileiros e a expectativa é de quebra de safra de cana no Centro-Sul, principal região produtora do País. A biomassa representa 8,2% da capacidade instalada no Sistema Interligado Nacional (SIN), segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), e 77% da biomassa vem do bagaço da cana-de-açúcar. De acordo com números da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), a geração de energia elétrica para a rede pela biomassa caiu 2,65% neste ano até 16 de julho em comparação com o mesmo período de 2020. Boa parte desse recuo se deve à menor disponibilidade de cana-de-açúcar.

As usinas do Centro-Sul processaram 7,36% a menos de cana-de-açúcar no acumulado da safra 2021/2022, que começou em abril, na comparação com o ano anterior. As geadas que atingiram canaviais nas últimas semanas também podem ter efeito na produção de bioeletricidade, porém, ainda não há uma estimativa sobre o tamanho do dano. A influência desse evento tanto sobre a safra quanto a geração de energia deve ficar mais evidente na segunda quinzena de julho e no mês de agosto. Mesmo com menor oferta, o setor tem capacidade de geração extra ao planejado inicialmente. Entre as possibilidades para se oferecer mais energia, estão a compra de cana-de-açúcar de outros fornecedores e a aquisição de materiais como casca de arroz e de amendoim, cavaco de madeira e pó de serra, que podem ser acrescentados ao bagaço de cana-de-açúcar para formar um blend.

Segundo a Tereos, embora espere cerca de 10% a menos na cana-de-açúcar disponível para moagem nesta safra, a empresa tem investido fortemente em tecnologias para aumentar o rendimento agrícola, assim como em projetos de eficiência energética, a fim de disponibilizar mais bagaço para cogeração, mantendo o potencial de cogeração da empresa e as projeções para atendimento da demanda de energia. O Ministério de Minas e Energia (MME) publicou, semana passada, portaria com diretrizes para oferta adicional de energia elétrica vinda de usinas à biomassa para atendimento ao Sistema Interligado Nacional (SIN). O objetivo é conferir maior viabilidade a uma possível geração adicional, com otimização dos recursos energéticos, aumentando a confiabilidade e a segurança no atendimento energético, com menores custos, proporcionando iniciativas dos agentes para ampliar sua geração de energia e contribuir de maneira complementar para o suprimento de energia ao SIN.

A Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen) estima que a energia vinda das usinas pode economizar entre 1% e 2% de água nos reservatórios de hidrelétricas no subsistema Sudeste-Centro-Oeste. Este ano, a geração vinda das usinas estará firme, sem intermitência, inclusive nos meses mais críticos do 2º semestre, ajudando o SIN. A maior previsibilidade trazida pela portaria do MME, principalmente para a próxima safra de cana-de-açúcar, já que as medidas têm como prazo dezembro do ano que vem, foi elogiada pelo setor sucroenergético. A Unica espera que a regulamentação contribua para o reconhecimento de que a biomassa funciona como um seguro, com uma geração não intermitente para o setor elétrico brasileiro, e deve ser estimulada para ganhar escala e evitar o 'stop and go' visto no desenvolvimento dessa fonte renovável nos últimos anos.

Num prazo mais longo, o Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) vê a possibilidade de evolução da energia via biomassa de cana-de-açúcar já que o setor sucroenergético como um todo está vivendo momento melhor com a melhora nos preços de açúcar e de etanol. A biomassa de cana-de-açúcar é um subproduto, ninguém planta cana-de-açúcar e constrói usina para gerar energia. Então, a dinâmica da geração de bioeletricidade tende a estar associada ao próprio ciclo de crescimento da indústria sucroalcooleira, em que os principais produtos são açúcar e álcool. Para a Tereos, o cenário atual evidencia a importância do investimento em outras fontes de energia para diversificação da matriz energética brasileira e a biomassa da cana-de-açúcar tem amplo potencial de contribuir para essa transformação. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.