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02/Ago/2021

RAÍZEN: IPO é visto com ceticismo pelo mercado

A oferta pública inicial de ações (IPO) da Raízen promete figurar entre as maiores da história da B3, mas tem sido encarada com ceticismo entre analistas e gestores. Os documentos enviados ao mercado pela controlada de Cosan e Shell mostram uma das maiores empresas do País, com forte potencial de crescimento diante da transição do mundo dos derivados de petróleo para combustíveis renováveis e menos poluentes. Mas, as fortes ambições da Raízen parecem ter criado um risco relevante para quem apostar na companhia. A Raízen quer emitir ações preferenciais, aquelas que não têm direito a voto, e definiu que sejam vendidas em uma faixa de preço entre R$ 7,40 e R$ 9,60. Se os lotes extras também saírem, o IPO pode movimentar até R$ 9,1 bilhões, considerado o preço médio da indicação. Esse dinheiro será aplicado na construção de novas usinas, na melhoria da produtividade das fábricas de bioenergia (etanol, biogás e energia elétrica) e em armazenagem e logística de combustíveis e açúcar.

O preço das ações será definido nesta terça-feira (03/08), e as ações chegam à Bolsa na sexta-feira (06/08). Quarta maior empresa em faturamento no País, atrás apenas de Petrobras, Vale e JBS, a Raízen teve receita de R$ 114,6 bilhões no ano passado e atua em várias frentes. Entre outras atividades, é a segunda maior distribuidora de combustíveis do País, a principal fabricante de etanol de cana-de-açúcar (mas não a mais eficiente do setor) e a maior exportadora de açúcar no mercado internacional. Tem um modelo de negócios verticalmente integrado em etapas que incluem plantio, colheita, processamento, armazenamento, logística, distribuição e venda de produtos e serviços até o consumidor final. Por consequência, apresentou perspectivas de crescimento de diferentes negócios em seu IPO. Tanto ligados à Raízen Energia (cultivo de cana-de-açúcar, produção e venda de açúcar, etanol, e energia elétrica), quanto à Raízen Combustíveis (distribuição de combustíveis para automóveis, caminhões e aviação).

Uma das principais teses de crescimento diz respeito ao chamado etanol de segunda geração (E2G). Esse tipo de combustível é produzido a partir do bagaço gerado pelo processamento da cana-de-açúcar. É para essa área, inclusive, que irá grande parte dos recursos captados no IPO. O E2G exige menos área plantada para a produção de mais combustível, ou seja, é mais rentável, e sua queima emite menos gás carbônico. A Raízen afirma ter tecnologias próprias, que pode licenciar no futuro. No último ano, a empresa produziu 24 milhões de litros de E2G, mas já fechou contratos para fornecer ao menos 300 milhões nos próximos anos. Para atender a esses clientes, terá de expandir a capacidade. Devido ao controle de matéria-prima e tecnologias proprietárias, há possibilidade de atingir até 20 plantas de E2G operacionais até 2030/2031, afirma a empresa no prospecto da oferta. Analistas dizem que a meta é factível, mas arriscada. A empresa tem expectativa muito forte de crescimento no E2G, com a construção de duas fábricas por ano. Há risco de execução significativo.

Esse é um projeto bastante ambicioso, visto que ainda existem diversos desafios relacionados à viabilidade do E2G, e até o momento há pouca entrega de resultados e quase nenhuma divulgação dos números dessa operação. Os problemas são: muita ambição e risco de o planejamento não ser cumprido. Entre entrar na nova oferta e investir na Cosan, que já tem uma história consolidada e está no mesmo setor, a sócia da Raízen é mais atraente. Outra vertente que a Raízen quer explorar é a de varejo de proximidade, tanto nas lojas de conveniência dos postos de combustíveis quanto fora. A empresa tem uma parceria com a engarrafadora de bebidas FEMSA para operar no País a marca Oxxo. Dos 7,3 mil postos de combustíveis da Raízen, apenas 1,3 mil têm lojas de conveniência, o que, segundo a companhia, prova haver espaço para crescer. Com a Oxxo, a ideia é desenvolver e consolidar o varejo de proximidade, que tem menor importância na estratégia de supermercadistas como GPA e Carrefour. Ao todo, a Raízen quer abrir mais de 5 mil lojas nos próximos dez anos. Esse apetite é compartilhado com as rivais.

Na semana passada, a Ultrapar, dona da Ipiranga, disse que pretende abrir de 200 a 300 lojas da bandeira AmPm por ano nos próximos cinco anos, o que quase dobraria a rede. O plano da Ipiranga foi visto com reservas. O BTG Pactual, por exemplo, disse que esse tipo de loja, ainda muito dependente de produtos de validade curta, pode significar um nó logístico, especialmente para empresas não especializadas em varejo. O Bradesco BBI afirmou que o setor tem forte concorrência, o que pode complicar planos mais ambiciosos. Com tudo isso, apareceram alguns senões, nas indicações aos investidores. A Eleven, por exemplo, recomendou a entrada no IPO apenas até o ponto médio da faixa de preço, de R$ 8,50, por conta dos riscos de execução. A casa de análises Suno, por sua vez, considerou que o preço das ações pedido pela Raízen está alto. Ainda que a empresa seja qualificada, o valuation pouco atrativo faz não recomendar a entrada no IPO. Os elogios seguidos de uma visão pouco empolgada são uma constante. O negócio da Raízen é promissor, mas vale mais a pena comprar a ação da Cosan, que embute os ganhos de todas as demais empresas do grupo e as sinergias entre elas. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.