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24/Jun/2021

Cana: impacto limitado do clima seco no Centro-Sul

O clima atipicamente seco no Centro-Sul do Brasil não deve afetar a qualidade de crédito dos emissores brasileiros do setor de açúcar e etanol. A estiagem vai afetar a safra atual de cana-de-açúcar na região e reduzir o volume de moagem em pelo menos 5% em 2021/2022 em relação ao ciclo anterior. Os fabricantes de etanol de milho também serão afetados, já que a expectativa é de uma 2ª safra de milho de 2021 reduzida em importantes regiões de cultivo. No entanto, o atual cenário positivo de preços tanto para açúcar quanto para etanol deve compensar o impacto da menor utilização da capacidade de emissores brasileiros, particularmente processadores de cana-de-açúcar. Os preços internacionais de açúcar continuam em torno de 17,00 centavos de dólar por libra-peso e os produtores vêm aproveitando o dólar mais forte ante o Real para acelerar a fixação de preços.

Mais de 90% dos volumes de açúcar para 2021/2022 já foram fixados, e as companhias também estão avançando com a fixação para 2022/2023, em um nível médio acima de R$ 1.750,00 por tonelada, ou 70% acima da média móvel de 10 anos. Além disso, a combinação de altos preços de petróleo e um dólar mais forte em um mercado apertado vai manter os preços de etanol em níveis elevados em 2021. Em São Paulo, o etanol hidratado deve ficar entre R$ 2,80 e R$ 2,90 por litro, em média, na temporada 2021/2022, um aumento de mais de 50% ante o valor médio de R$ 1,80 por litro de 2020/2021. Atualmente, o etanol hidratado está cotado a R$ 3,00 por litro nas usinas de São Paulo, alta de 46% ante o início deste ano. Questões logísticas não são uma preocupação, já que os produtores brasileiros usam transporte rodoviário e/ou ferroviário. O uso de hidrovias é mais comum no transporte de etanol de milho para a Região Norte, onde os rios não foram afetados pela seca.

O impacto de um possível aumento das tarifas de energia elétrica também deve ser neutro. Os produtores geralmente são autossuficientes em energia e devem se beneficiar pouco de preços mais altos, já que contratos de longo prazo representam a maior parte dos volumes de energia vendidos por empresas de açúcar e etanol para a rede brasileira. O volume de moagem de cana-de-açúcar no Centro-Sul deve ficar abaixo de 575 milhões de toneladas em 2021/2022, ante 605 milhões de toneladas em 2020/2021, mas as projeções podem ser revisadas para baixo à medida que a safra avança. O impacto do clima seco sobre o volume moído deve variar bastante de empresa para empresa. Enquanto a moagem na usina Jalles Machado não deve ser afetada, companhias com operações concentradas no estado de São Paulo, como Açucareira Quatá e Biosev, devem registrar reduções em linha ou maiores do que a média do setor. Isso não deve afetar seus ratings.

Diferentemente de processadoras de cana-de-açúcar, os produtores de etanol de milho costumam comprar 100% de suas necessidades de originação, o que os deixa mais expostos à volatilidade de preços do mercado à vista. No entanto, grandes companhias como a FS Agrisolutions Indústria de Biocombustíveis costumam se beneficiar de grande capacidade de armazenagem e compram milho pelo menos um ano antes do início da temporada de cultivo, evitando essa volatilidade. A crise hídrica brasileira deve impactar a produção de cana-de-açúcar e etanol, mas em menor escala do que o esperado e sem impacto significativo na qualidade de crédito das empresas brasileiras. A safra da cana-de-açúcar, em 2021/2022, deve ser pelo menos 5% menor do que a percebida em 2020/2021. A seca também afetará o etanol à base de milho. Apesar disso, a valorização do açúcar e do etanol devem suavizar os efeitos climáticos. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.