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22/Jun/2021

Etanol: biocombustíveis e a transição energética

O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, anunciou, em abril, o lançamento do programa 'Biocombustível do Futuro', com a publicação de uma resolução do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). Com a iniciativa, o governo espera alinhar com os empresários do setor as políticas de estímulo ao desenvolvimento de combustíveis produzidos a partir de fontes renováveis, sobretudo para a mobilidade. Além de estimular o mercado interno, com uma solução à moda da casa, o governo vê oportunidades de formação de acordos energéticos nessa área, principalmente, com os Estados Unidos. A avaliação é que, com a eleição do presidente Joe Biden, negócios no segmento de renováveis ganharam relevância e devem crescer. O esperado é que a agenda de Biden abra espaço para parcerias, sobretudo, no segmento de etanol, uma vez que uma das políticas idealizadas pelo governo norte-americano é a elevação da mistura de etanol na gasolina.

Se essa ação for agressiva, às perspectivas de aumento da demanda americana do etanol brasileiro são bastante positivas. Atualmente, nos Estados Unidos, a maioria da gasolina comercializada não excede à mistura de 10% de etanol. A gestão Biden já se declarou contrária, por exemplo, à concessão de dispensas especiais que refinarias têm recebido para não precisarem misturar biocombustível na gasolina e no diesel. Medidas como essa animaram os empresários brasileiros. Para o Fórum Nacional Sucroenergético, há oportunidade de uma agenda importante do setor de biocombustíveis nos Estados Unidos. O etanol brasileiro tem uma vantagem em relação ao milho, principal concorrente no mercado norte-americano, a de ser menos poluente. Além da oportunidade no segmento do etanol, outra frente que os Estados Unidos estão adotando é a transformação, em alguns mercados, das suas refinarias em biorrefinarias.

A maior empresa do segmento no país, a Marathon Petroleum, está envolvida com duas iniciativas nesse sentido. A mais avançada é a usina a diesel renovável de 12 mil barris por dia (aproximadamente 550 toneladas por ano), em Dakota do Norte, cuja operação foi iniciada recentemente. Já a gigante do setor petróleo Chevron fez uma parceria com a Novvi, que se dedica ao desenvolvimento, produção, comercialização e distribuição de óleos básicos de alto desempenho de fontes renováveis em 2016. Um dos negócios da Novvi é a produção de bens, incluindo combustíveis, a partir de qualquer açúcar vegetal. Atualmente, a empresa utiliza como matéria-prima a cana-de-açúcar brasileira cultivada de forma sustentável. O insumo brasileiro é de alta qualidade e soma o benefício de sequestrar dióxido de carbono com grande eficiência. Estudos mostram que os produtos químicos da Novvi poderiam sequestrar até três toneladas de dióxido de carbono para cada tonelada de produtos químicos utilizados.

De olho na receptividade ao etanol e às particularidades do mercado interno, o governo brasileiro está cada vez mais decidido a apostar na cana-de-açúcar como o combustível renovável nacional, com selo de exportação. A intenção é desenvolver uma solução própria e singular, que aproveite os recursos naturais, e não repetir estratégias desenvolvidas em outras regiões do planeta. Existe o risco de o Brasil perder sua vantagem competitiva, na transição energética, se não desenvolver tecnologia automotiva que aproveite sua vocação natural. O País vai perseguir a 'bioletrificação' do sistema de transporte. O governo acredita que os biocombustíveis vão garantir sobrevida aos combustíveis fósseis, já que a mistura de ambos pode resultar em produtos menos poluentes. Não é possível suprir toda demanda brasileira com biocombustível ou combustível fóssil. Os biocombustíveis vão estender a vida dos combustíveis fósseis, que também são muito importantes para o Brasil, que é um grande produtor de petróleo e será cada vez mais.

O desafio, no entanto, é não limitar a inserção do Brasil na transição energética aos biocombustíveis ou à parceria com os Estados Unidos. A Petrobras, historicamente indutora de pesquisas no setor de energia no Brasil, já anunciou que vai focar na exploração e produção de petróleo e gás no pré-sal e que as fontes renováveis não são sua prioridade. Da mesma forma, poucas são as iniciativas inovadoras nessa área por parte das petrolíferas multinacionais presentes no Brasil. Em muitos casos, o fato de o Brasil ter uma matriz energética limpa até deixa essas empresas mais à vontade para fazer caixa no País com a produção de petróleo para investir em fontes renováveis em seus continentes. Na Europa, há severas críticas quanto à ideia de que o gás natural é o combustível da transição, que vai permitir à humanidade transitar da era fóssil à renovável. No Brasil, porém, as abundantes reservas de gás do pré-sal são motivo de ampla comemoração. Recai sobre o etanol toda responsabilidade de inserir o Brasil no mapa da transição energética. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.