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19/Mai/2020

Etanol: altas no petróleo elevam gasolina e diesel

As tímidas quedas da gasolina e do diesel sentidas pelos consumidores nos postos de abastecimento parecem estar com os dias contados. Impulsionado pelo otimismo da alta do petróleo no mercado internacional, a queda dos combustíveis começa aos poucos a diminuir nas refinarias, onde chegaram a cair quase 50% nos últimos dois meses. No acumulado do ano, o preço nas refinarias acumulava até o dia 18 de maio, quedas de 41,3% no caso da gasolina, após aumentos de 10% e 12% em maio, e de 39,6% no diesel, já considerando a alta divulgada nesta segunda-feira (18/05) pela Petrobras, de 8% a partir desta terça-feira (19/05). Para o consumidor, segundo levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) na semana de 10 a 16 de maio, o preço da gasolina registrava nos postos queda de 4,6% em relação há um mês, enquanto o diesel era vendido nos postos com redução de 5,9% na mesma comparação.

Mesmo com os recentes aumentos, o preço da Petrobras continua defasado em relação ao mercado internacional, mantendo fechadas as janelas de importação, mas beneficiando o consumidor interno. Para os importadores e produtores de etanol não é bom, mas está de acordo com a política da empresa, que reduziu os preços bem devagar e agora está retomando a alta também de forma mais lenta. Há vantagens para o consumidor brasileiro nesta política, que demorou a ver o preço cair os postos, mesmo que pouco, e que agora, com a recuperação do preço do petróleo, também não recebe a totalidade dos aumentos vindos do exterior. Para equiparar o diesel frente ao mercado spot (à vista) internacional, o aumento atual deveria ter sido de pelo menos R$ 0,20 por litro, e não de R$ 0,10 por litro como o anunciado pela Petrobras. A gasolina poderia estar entre R$ 0,15 a R$ 0,20 por litro mais cara nas refinarias da Petrobras.

A estatal perdeu market share em abril com a redução da utilização das refinarias para 60%, e agora tenta ser mais competitiva. Vendendo os derivados a preços abaixo do mercado internacional, a empresa consegue ao mesmo tempo ganhar mercado e não fazer estoque, uma questão que vem aumentando o custo da maioria das petroleiras no mundo todo. O setor do etanol está bastante insatisfeito com essa política de preços, porque está na abertura da safra. Para o setor sucroalcooleiro, seria mais favorável se a Petrobras repassasse logo todo o aumento. É difícil prever se o petróleo continuará sua escalada de preços e, mesmo que isso ocorra, com alguns sinais da volta da demanda no mercado global, não deverá garantir o retorno da commodity a patamares anteriores ao auge da crise da pandemia do novo coronavírus. O diesel, por exemplo, custava mais de R$ 2,00 por litro nas refinarias antes da crise, e agora custa cerca de R$ 1,40 por litro.

A indústria do petróleo nunca esteve nessa situação, o petróleo deve voltar para o novo normal, que não é o valor de antes da crise, mas até para isso depende de os produtores manterem corte de produção e não surgir uma segunda onda do coronavírus. Depois de ser cotado a menos de US$ 20,00 por em abril, o petróleo tem subido nos últimos dias e, nesta segunda-feira (18/05) fechou em alta de 7,1%, a US$ 34,81 por barril o tipo Brent, usado como parâmetro pela Petrobras, que concentra o refino no País. Os preços dos combustíveis estão subindo pela alta do petróleo, com a oferta se ajustando lentamente à demanda, após a queda abrupta por conta do Covid-19, mas também pela alta da taxa de câmbio. O petróleo deve mostrar alta até o final do ano, mas se estabelecer abaixo dos patamares de antes da crise, assim como os combustíveis, que não devem voltar para os níveis anteriores. Mas, o câmbio é o vilão e rouba o efeito desse novo patamar mais baixo do petróleo. A Petrobras deve continuar seguindo os movimentos do mercado, repassando altas e baixas, mas o câmbio é a grande incerteza.

O cenário interno não colabora, há projeções para o câmbio acima de R$ 6,00 e, nesse cenário, outras altas viriam. O aumento do diesel nesta segunda-feira (18/05) está de acordo com a paridade internacional que a Petrobras vem promovendo em sua política de preços. Os recentes aumentos do Brent e as flexibilizações globais das quarentenas também acabam adicionando proporcionalidade à medida. Ademais, os preços para o diesel, tal qual os da gasolina, são baseados no preço de paridade de importação somado aos custos (como frete e taxas portuárias). O aumento do diesel proporciona uma margem que cobre os riscos da companhia, como volatilidade de preços e volatilidade de câmbio, algo que ainda está bem presente diante das condições atuais de mercado. Para a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), a estatal deveria repassar toda a defasagem do mercado internacional. A defasagem observada no preço da gasolina é uma oportunidade para retornar o equilíbrio com o preço do etanol, sem aumento de impostos ou medidas protecionistas, uma referência à discussão iniciada no início do mês pelo setor sucroalcooleiro, que reclama da perda de vendas com a redução do preço da gasolina.

Apesar de qualquer tipo de subsídio já ter sido descartado pelo presidente Jair Bolsonaro, importadores de gasolina ainda temem alguma medida de proteção ao setor de etanol, como um aumento na alíquota da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide). A Petrobras refuta a tese de que não pratica a paridade internacional, informando que as importações de derivados nunca foram interrompidas por terceiros no mercado brasileiro. A empresa explicou que a importação não é um valor absoluto, único e percebido da mesma maneira por todos os agentes. De acordo com a estatal, os reais valores de importação variam de agente para agente, dependendo das características, como, por exemplo, as relações comerciais nos mercados internacional e doméstico, o acesso à infraestrutura logística e a escala de atuação. Segundo a ANP, no primeiro trimestre do ano foram importados 3,9 bilhões de litros de diesel e gasolina, sendo 2,8 bilhões de litros de diesel e 1,1 bilhão de litros de gasolina. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.