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05/Mai/2020

Usinas: nova consolidação com unidades fechadas

25% das usinas de açúcar e álcool em operação no país corre o risco de fechar as portas até o fim do ano por causa da crise do coronavírus. Sem capital de giro para pagar as contas de curto prazo, parte dessas empresas tem sido abatida pela forte queda de demanda pelo combustível. O caso foi ainda mais agravado pelo derretimento do preço do petróleo – a cotação do etanol tem como referência a gasolina. São dois choques. A principal é a queda do consumo e, depois, a de preços. Com 350 usinas sucroalcooleiras em operação no país, o setor viu as cotações do álcool recuarem de R$ 2,00 para R$ 1,30 o litro (valor líquido) e a demanda cair mais do que 50%. Grupos mais capitalizados têm fôlego para armazenar sua produção de etanol e até mudar o mix da indústria, passando a produzir mais açúcar, para passar o momento mais agudo da crise. Mas este não é o caso de cerca de 100 unidades produtoras, que não têm condições de estocar etanol – e acabam vendendo a baixos preços – e, também, não apresentam saúde financeira para aguentar os próximos meses.

Um quarto das empresas do setor vai passar por muita pressão para garantir sua sobrevivência, segundo a Diretoria de Agronegócios do Itaú BBA. Na região Centro-Sul, que concentra a maior parte da produção do país, a moagem de cana teve início em abril. Contudo, já há dúvidas se muitas empresas vão ter fôlego para continuar. Há duas semanas, o grupo Adecoagro, que tem três usinas – duas no Mato Grosso do Sul e uma Minas Gerais -, divulgou um comunicado a seus colaboradores informando que iria suspender os contratos de parte deles sul-mato-grossense. A situação fica ainda mais delicada para usinas que só possuem destilarias. Das 267 unidades produtoras do Centro-Sul, 80 usinas só produzem etanol. Do total de cana colhida no país na temporada 2019/2020, 35% foram para a produção de açúcar. Neste ano, a fatia poderá chegar a 45% com a mudança no mix. Com receita de R$ 100 bilhões, o setor sucroalcooleiro conseguiu reduzir nos últimos anos seu endividamento – hoje está em torno de R$ 90 bilhões. Um grupo grande de usinas acumula a maior parte dessas dívidas.

No Brasil, há 104 unidades produtoras em recuperação judicial, das quais 81 no Centro-Sul. Desde 2005, 95 usinas foram fechadas na região. Com as incertezas provocadas pela pandemia, boa parte das empresas que já estão em dificuldades financeiras vai para o mesmo caminho. Até fevereiro deste ano, o setor tinha um cenário positivo pela frente: os preços de açúcar e etanol estavam competitivos. As usinas mais capitalizadas já tinham travado as cotações do açúcar (hedge) e a demanda pelo combustível estava firme. Os preços do açúcar estavam em 15 centavos de dólar por libra-peso em fevereiro, ante uma média de 12 centavos de dólar por libra-peso no ano passado. Hoje, a cotação está abaixo de 10 centavos de dólar por libra-peso. Empresas com maior capacidade de estocagem, casos da Raízen (joint venture entre Cosan e Shell) e São Martinho, por exemplo, estão conseguindo segurar sua produção de etanol para voltar a vender quando a demanda retomar.

A Raízen sempre teve muita disciplina na gestão de risco e o fato de o grupo ser integrado – a Raízen também é distribuidora de combustíveis -, ajuda nesta atual crise. Neste momento, fica clara a importância de fazer a fixação de preços da commodity, não só açúcar, como também do etanol. O grupo São Martinho fixou os preços do açúcar quando estavam cotados entre 14 centavos de dólar por libra-peso e 15 centavos de dólar por libra-peso. O grupo também uma capacidade de armazenar 70% de sua produção. Diferente do movimento de consolidação que o setor viveu entre 2003 e 2010, as grandes companhias não deverão incorporar empresas em dificuldade. Não ser verá uma nova onda de fusões e aquisições. Podemos ver áreas agrícolas de usinas sendo adquiridas. O fechamento de unidades deficitárias por conta da crise deverá ser benéfico para o setor no longo prazo, com o reequilíbrio da oferta da matéria-prima no país. A produtividade poderá se elevar sem a expansão da área plantada.

O setor sucroalcooleiro está aguardando definição de um pacote de ajuda às usinas para enfrentar a crise provocada pela pandemia de coronavírus. Além de uma linha de financiamento para estocagem de etanol, as usinas estão solicitando ao governo o aumento da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), tributo cobrado sobre a gasolina vendida, para R$ 0,40 o litro (hoje, o valor é de R$ 0,10), além da suspensão temporária da cobrança de PIS e Cofins sobre o etanol hidratado, que é de R$ 0,24 por litro. O Ministério da Economia deu sinal verde para que a Cide seja aumentada em R$ 0,20 por litro para a gasolina – passando de R$ 0,10 para R$ 0,30 cobrados por litro – e as importações do combustível sofram taxação de 15%. A expectativa era de que o anúncio da decisão fosse feito na sexta-feira (1º/05), para passar por aprovação do presidente Jair Bolsonaro ser publicada no Diário Oficial da União até a segunda-feira (04/05), o que não aconteceu. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.