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05/Mai/2020

Usinas: grandes fazem hedge de açúcar e etanol

Tradicionalmente uma empresa mais açucareira que a média do mercado, a gigante do setor de açúcar e etanol Raízen prevê elevar para 55% a destinação de cana para a produção do adoçante em 2020, em um momento em que a desvalorização da moeda no Brasil favorece negócios com o produto na safra atual e futuras, frente a concorrentes como Índia, Tailândia e Austrália. A afirmação é do presidente-executivo da Raízen, Ricardo Mussa, que está completando um mês no posto, numa situação jamais imaginada devido às consequências do coronavírus. A pandemia tem provocado maiores perdas no etanol, por queda na demanda e preços menores. Se no açúcar a expectativa da companhia é de que o consumo global venha a ser pouco afetado, uma vez que é um produto da indústria de alimentos com demanda mais inelástica, no etanol o mercado interno registra uma queda de até 50% nas vendas, por conta das medidas de isolamento. Mas a empresa espera minimizar os prejuízos graças a operações de hedge realizadas antes do surto da Covid-19 e com sua capacidade de estocagem, o que lhe permitirá escoar o etanol quando o consumo estiver melhorando.

A empresa já vinha fazendo um trabalho de gestão de risco muito bom, fazendo uma fixação de preços alta, com 85% da safra de açúcar já fixada, mas fez também algo que quase ninguém fez, que foi fixar o etanol. A empresa fez fixação do produto equivalente, que é a gasolina. 50% da safra de etanol já está fixada, e o impacto em termos do preço este ano é menor que a média de mercado. A indústria sucroenergética tradicionalmente faz vendas antecipadas de açúcar, uma commodity negociada em bolsa. Mas no caso do etanol tais operações são mais raras, devido à escassez de mecanismos. O hedge agora é possível, contudo, porque a Petrobras, dona de praticamente todo o parque de refino do Brasil, tem seguido nos últimos anos o mercado internacional para realizar reajustes da gasolina, o concorrente do etanol hidratado. Mussa, que atua no grupo Cosan - uma das donas da Raízen, juntamente com a Shell -, desde 2007, ressaltou que apesar dos desafios a empresa está preparada para uma grande safra de cana no centro-sul do Brasil, que tem mostrado boas produtividades em seu início.

A Raízen colocou em atividade, na semana passada, a última usina planejada para operar na temporada 2020/2021. A companhia, maior produtora global de açúcar e etanol de cana, vai operar com 23 das suas 26 usinas no atual ciclo, iniciado em abril - três unidades estão hibernadas para maximizar as operações das demais. E, dessa forma, em uma safra até o momento beneficiada por condições climáticas normais, a empresa prevê moer até 63,0 milhões de toneladas de cana, ante 59,6 milhões de toneladas no ciclo anterior - o total a ser processado pela Raízen gira em torno de 10% da safra do nacional. Aproveitando bons momentos anteriores no mercado de açúcar e de câmbio para fixar vendas ante os contratos futuros do açúcar, a empresa está confortável para elevar o mix de cana para açúcar de 49% em 2019/2020 para 55% em 2020/2021, um movimento que deverá ser registrado no mercado em geral, mas que beneficia especialmente a Raízen, que tem tradição de ser mais açucareira.

Na safra passada, na média do centro-sul, mais de 60% da cana foi destinada ao etanol. Este ano todo mundo está indo para produzir mais açúcar. O consumo global de açúcar sofrerá bem menos que o de etanol. O fato de a moeda brasileira ter se desvalorizado frente ao dólar cerca de quatro vezes mais do que a de outros países concorrentes na produção, como Índia e Tailândia, também deve favorecer o açúcar do Brasil em safras futuras. Nos quatro primeiros meses do ano, o dólar disparou 35,5% ante o Real. O preço em dólar inviabiliza a produção em outros países do mundo, Índia, Tailândia e Austrália, e viabiliza a produção no Brasil. Os preços do açúcar daqui a dois anos estão muito bons para o Brasil, e muito ruins para Índia e Tailândia. Se os preços ficarem onde estão, vão reduzir a produção nos países concorrentes e aumentar no Brasil. Em termos de custos, o brasileiro já é mais competitivo.

O cenário de longo prazo não é ruim, vai tornar a vida dos competidores muito ruim. O problema no Brasil é o curtíssimo prazo, é o etanol. No mercado interno, a Raízen, que também é uma das maiores distribuidoras de combustíveis do Brasil, ainda está vendo uma lenta recuperação do consumo, devido às medidas de isolamento para combater o coronavírus. A queda na demanda de gasolina e etanol ainda está em torno de 45% a 50%. A queda já foi maior do que isso, chegou até 70% e está se recuperando, mas é lento. No diesel, a redução no consumo foi menor em função da demanda dos caminhões e do agronegócio. A empresa tem cortado custos, mas não investimentos, e prova disso é a inauguração de um grande terminal de combustíveis em São Luís (MA), na semana passada. A empresa acredita que o futuro do negócio continua muito bom, apostando que, após a crise, o mundo deverá se voltar ainda mais para energias renováveis. Fonte: Reuters. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.