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24/Jan/2020

Etanol: Brasil pode cooperar com Índia na produção

O setor sucroenergético está otimista quando aos possíveis resultados que a delegação brasileira pode trazer da Índia, principalmente em relação ao mercado de etanol, que, se crescer no país, deve garantir preços mais estáveis para o açúcar. A Índia é o maior exportador de açúcar e subsidia suas exportações, o que o Brasil está questionando na Organização Mundial do Comércio (OMC). Caso o país aposte mais na produção de etanol à base de cana-de-açúcar, a oferta global do açúcar cairia e os preços tenderiam a se estabilizar. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, chegou à Índia no dia 22 de janeiro e terá encontros com vários ministros indianos. A seu lado estará o ministro das Minas e Energia. No dia 25 de janeiro, o presidente Jair Bolsonaro se junta à comitiva. Entidades e empresas do setor sucroenergético ficarão no país até o dia 27 de janeiro. Um dos principais objetivos do grupo será ajudar a Índia a aumentar os investimentos em etanol.

Hoje, o percentual médio de mistura do biocombustível aplicado à gasolina é de cerca de 6%, com expectativa de aumento para 10% em 2022 e 20% até 2030. No entanto, para a Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), ainda não está claro se o governo local vai impor ao mercado esses percentuais. Este tema dever ser explorado com o governo indiano para que o mandato seja obrigatório, como acontece no Brasil. Quando é mandatório, dá estabilidade aos agentes que podem se preparar para produzir essa oferta. Caso a Índia alcance a meta de 10% de mistura, a produção de açúcar cairia até 4 milhões de toneladas, que seriam usadas para produção de etanol. O recuo na oferta global do açúcar reduziria a pressão da elevada oferta sobre as cotações internacionais da commodity nas bolsas. No final de 2019, os contratos de açúcar chegaram a trabalhar abaixo dos 13,00 centavos de dólar por libra-peso na Bolsa de Nova York. A média dos últimos cinco anos foi de 14,82 centavos de dólar por libra-peso.

A Associação de Produtores de Açúcar e Bioenergia (Novabio) e o Sindicato da Indústria do Açúcar no Estado de Pernambuco (Sindaçúcar-PE) acredita que, no Brasil, a estabilização dos futuros do açúcar ajudaria principalmente a Região Nordeste, onde o mix é historicamente mais açucareiro. A Região Nordeste não tem tantas usinas de etanol. Hoje, em torno de 60% da produção de cana-de-açúcar é direcionada ao etanol. A Região Centro-Sul usa cerca de 65% da cana-de-açúcar para produção de etanol. Nos últimos seis ou sete anos, os produtores nordestinos tiveram margens negativas por causa dos preços. A Região Nordeste vem investindo para melhorar sua estrutura de produção de etanol. Um incentivo à produção do biocombustível na Índia seria a redução nos índices de poluição. Hoje, o país é o quarto maior emissor de CO2 no mundo, atrás apenas de China, Estados Unidos e União Europeia. O etanol seria uma forma de reduzir tanto as emissões quanto a dependência de gasolina importada.

O uso do etanol para limitar emissões é uma opção mais realista para a Índia do que o investimento em carros elétricos, por exemplo, que necessitaria de infraestrutura muito grande. O Brasil poderia ajudar compartilhando exemplos de políticas públicas que funcionaram como estímulo à produção do biocombustível, como o RenovaBio, e contribuindo com tecnologia, como manejos agrícolas e práticas industriais. Caso aposte no etanol, a Índia não levaria muito tempo para se tornar um player expressivo no setor, que hoje é controlado basicamente por Brasil e Estados Unidos. A Índia já tem a cultura canavieira há centenas de anos e têm usinas que produzem açúcar. É possível fazer destilarias anexas sem muitas dificuldades. O importante é a política pública que dê segurança ao empresário. Recentemente, o governo indiano adotou medidas para incentivar a produção do biocombustível, como a autorização para que fosse feita tanto a partir do caldo quanto a partir do melaço de cana-de-açúcar.

Além disso, o preço do biocombustível no mercado local, que é controlado, foi elevado. No entanto, essa questão é principalmente política na Índia, até porque os produtores de cana-de-açúcar são um setor com peso importante nas disputas eleitorais. É preciso conhecer a realidade do país. Para a Índia aumentar expressivamente o uso de etanol, é necessária uma composição dos mercados locais. Há grupos que devem lutar contra o aumento da mistura do biocombustível, como as fábricas que dependem do melaço de cana-de-açúcar, resíduo da produção de açúcar que pode ser usado para fabricar o biocombustível e que na Índia também é usado por indústrias para uma série de produtos. A importância eleitoral dos produtores de cana-de-açúcar é um dos motivos para os subsídios do país, hoje alvo de painel na OMC. Há possibilidade de o etanol ajudar na disputa: O Brasil está uma alternativa à Índia, que poderá fazer com que não haja necessidade do nível de apoio atual. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.