07/Jan/2020
A tensão no Oriente Médio após a morte do general iraniano Qassim Suleimani e a consequente alta do petróleo e da gasolina podem fazer com que os preços do etanol no Brasil também aumentem. Como o País está na entressafra de cana-de-açúcar e praticamente toda a produção já foi processada, um aumento na demanda pelo biocombustível pode causar alta dos preços nas bombas. Já não é mais possível, por exemplo, transformar em etanol parte da cana-de-açúcar que estava destinada à fabricação de açúcar. O cenário pode fazer, também, com que o Brasil aumenta as importações do biocombustível. O mercado aguarda para que se tenha uma ideia de quanto tempo durará a alta dos preços do petróleo e qual será a intensidade do avanço. Na última reunião de acompanhamento de estoques, em dezembro, governo federal, produtores e distribuidoras avaliaram que o volume disponível do etanol seria suficiente para o consumo durante a entressafra no Centro-Sul do Brasil, que vai até abril.
Qualquer aumento pontual de demanda poderia ser suprido pela importação do biocombustível dos Estados Unidos e pela alta nos preços, com a consequente migração do consumo para a gasolina. No entanto, a reunião ocorreu antes de eventuais altas nos preços da gasolina, com o avanço do petróleo após a crise entre Estados Unidos e Irã. Há uma preocupação no governo de que a demanda pelo etanol siga firme, pois o biocombustível permaneceria vantajoso nos postos, após o avanço dos preços da gasolina. É preciso saber quanto tempo vai durar o avanço do petróleo para estimar o efeito no etanol. Pode ser de curta duração. Já houve situações parecidas que acabaram se resolvendo de maneira mais rápida do que se imaginava. Segundo a União da Indústria de Cana de Açúcar (Unica), há possibilidade de avanço do biocombustível caso não haja interferência nos preços da gasolina. O período é de entressafra da cana-de-açúcar, então não é possível aumentar mais a oferta. Se houver incremento na demanda, haverá estresse de preço.
As únicas formas de se tentar incrementar a oferta de etanol seriam a importação do biocombustível, a transferência de etanol anidro para hidratado ou o aumento de produção de etanol de milho no País. Para essa última opção, porém, pode não haver tanta margem para maior produção no curto prazo. De acordo com o mais recente relatório de acompanhamento de safra do Ministério da Agricultura, os estoques físicos de etanol (anidro e hidratado) no País até 15 de dezembro estavam em 9,73 bilhões de litros, leve alta de 0,38% ante os 9,70 bilhões de litros do mesmo período de 2018. Mesmo assim, o consumo do biocombustível no País está em níveis altos, o que sustenta o aumento do estoque é, principalmente, o avanço da produção, que subiu 6,77% no Centro-Sul no acumulado da safra 2019/2020 até 16 de dezembro. Nesta terça-feira (07/01), a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) publicará o preço de combustíveis no período entre 29 de dezembro e 4 de janeiro, quando ficará mais clara a competitividade do etanol com a gasolina. O levantamento vai considerar o início do efeito da crise no Irã.
Em dezembro de 2019, antes da escalada de tensões no Oriente Médio, o gasto com importação de etanol pelo Brasil já havia avançado ante o mesmo período do ano anterior, de US$ 72,65 milhões para US$ 77,82 milhões. Em volume, o avanço foi de 5,93%. No acumulado do ano, entretanto, o valor do biocombustível importado recuou 18,95% ante 2018, para US$ 602,42 milhões. O volume importado no ano caiu 17,68% na mesma comparação. Pode haver uma janela para aumento ainda maior das importações. Não significa que vai acontecer, mas se houver esse cenário de estoques muito apertados e o consumo não refrear, não haverá outra solução. O avanço nos preços do etanol pode contribuir para a maior inflação geral do País. O Índice de Preços ao Consumidor - Semanal (IPC-S), medido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), já registrou avanço nos preços do biocombustível de 3,61% para 4,71% nas últimas duas quadrissemanas de dezembro de 2019. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.