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24/Out/2019

Açúcar: elevar o consumo na China seria favorável

As primeiras culturas agrícolas economicamente expressivas do Brasil têm dado aos produtores um desgosto danado há algum tempo. Preços do açúcar de cana-de-açúcar e do café batem recordes negativos de uma década nas bolsas mundiais pelo mesmo motivo: o excesso de oferta. Produção global em alta e estoques cada vez maiores nas principais nações produtoras são suficientes para garantir o cenário ruim aos dois produtos. Mas, as semelhanças param por aí. No caso do café, a oferta global só pode ser combatida com o aumento na demanda. Bonitas imagens de cafeeiros floridos no Brasil enchem os olhos de quem as vê. Mas, sinalizam para bolsos mais vazios de produtores. A safra recorde de 61,65 milhões de sacas de 60 Kg do Brasil obtida em 2018 pode ser superada em 2020. Uma política de formação de estoques é uma saída emergencial para esse setor, mas custa caro e o governo federal é cada vez mais restrito à ajuda pública e subsidiada para o agronegócio.

Para complicar, o Vietnã, segundo maior produtor mundial, começa agora a colher e vender também uma grande safra. No mercado futuro, o recuo do café é de 14% em 2019 e de quase 30% em 12 meses. Ao contrário do café, o açúcar tem a “sorte” de ser um produto obtido a partir da cana-de-açúcar e ter uma saída para controlar a oferta, pelo menos aqui. Há duas safras, o Brasil bate recorde de produção do etanol, feito da mesma matéria-prima. O mercado estima que até 10 milhões de toneladas de açúcar por safra deixarão de ser produzidas. A cana-de-açúcar que seria destinada a esse volume será transformada em álcool combustível, mais remunerador. O Brasil tem tecnologia e políticas públicas para transformar até 65% da cana-de-açúcar processada em etanol no parque industrial sucroalcooleiro. Mas, outros grandes produtores, como Índia, Tailândia e Paquistão, ainda não partiram para essa diversificação e, basicamente, só obtêm o açúcar da cana-de-açúcar moída. A União Europeia é também uma grande produtora, mas no bloco econômico a oferta vem de uma variedade de beterraba, cultura anual que pode ser trocada por outras quando o açúcar, como agora, bate recordes negativos.

A queda nos preços, de 7% em 2019 e 16% em 12 meses, é menor que a do café. Mas, seria muito pior se o etanol brasileiro não substituísse o açúcar que, se produzido, estaria disponível para exportação. Em recente conversa, o diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Antonio Padua Rodrigues, um veterano do setor, me repetiu sua fórmula pessoal para melhorar os preços mundiais do adoçante. “É só ir à China e convencer o chinês a comer arroz-doce”. A China, aliás, é também apontada com a saída para o mercado do café. A demanda naquele país cresceu mais de 1.000% em uma década, mas o potencial de alta é gigante, pois o consumo total do grão ainda é pequeno se comparado ao de grandes mercados. Então, em vez do arroz-doce do Padua, que tal convencer o chinês a tomar uma xícara a mais café e com uma colher mais açúcar por dia? Fonte: Gustavo Porto. Agência Estado.