12/Set/2019
O RenovaBio, como foi batizada a nova política nacional de biocombustíveis, está dentro do cronograma e deve entrar em vigor nos últimos dias deste ano. O principal ponto desse programa prevê metas anuais individuais e compulsórias de redução de emissões para as distribuidoras de combustíveis, calculadas a partir das vendas de combustíveis fósseis e poluentes no ano anterior. Para 2020, portanto, as metas terão como base os volumes negociados em 2019. Para compensar o descumprimento nas metas, as distribuidoras terão de comprar os chamados Créditos de Descarbonização (CBIOs). Esses títulos serão emitidos pelas usinas de etanol e biodiesel, cujo ciclo de produção retira gases causadores do efeito estufa da atmosfera. Ou seja, quanto mais gasolina e diesel venderem, maior será a meta a ser cumprida pelas distribuidoras e maior será o dispêndio com os CBIOs. E vice-versa: quanto mais biocombustíveis comercializarem, menor será o volume comprado desses títulos.
O governo brasileiro acredita que as distribuidoras já desenharam a estratégia para enfrentar esse novo cenário em 2020. Mesmo com preços, em média, até 20% maiores na compra do etanol das usinas, e com uma margem de venda ao consumidor 7% menor até agosto deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado, o mercado do etanol está superaquecido no País. O consumo do hidratado cresceu 30% este ano e as compras das distribuidoras junto às usinas avançou 15% desde o início da safra, em abril. Por que as distribuidoras compram maiores volumes, pagam mais caro e ganham menos para revender o etanol? O aumento da proporção de etanol hidratado na matriz de combustíveis, mesmo em um cenário menos favorável ao biocombustível, aconteceu como estratégia das distribuidoras para diminuir suas metas no RenovaBio para o próximo ano.
Com metas menores, essas companhias precisarão comprar menos CBIOs em 2020. Ao mesmo tempo, as usinas não poderão reclamar, no próximo ano, por venderem um volume menor de títulos do que o esperado. A estratégia das distribuidoras criou uma demanda de 3 bilhões de litros só de etanol, uma receita extra de R$ 5 bilhões nos oito primeiros meses deste ano, valor que deve crescer até o fim do ano. Mas, pela crise enfrentada pelo setor produtivo, esse recurso antecipado em 2019 será destinado ao saneamento, mínimo que seja, nas finanças das companhias e não investido para o aumento de produção a partir de 2020. E se a estratégia das distribuidoras der certo, o primeiro ano do RenovaBio pode ser marcado por um aumento no volume de combustíveis fósseis e uma queda na venda dos biocombustíveis. Fonte: Gustavo Porto. Agência Estado.