01/Aug/2025
A imposição de uma tarifa de 50% sobre o café brasileiro pelos Estados Unidos, com vigência prevista para 6 de agosto, deve provocar uma profunda reorganização nas rotas comerciais do setor. O Brasil, principal exportador global da bebida, ainda busca reverter a decisão, mas também se movimenta para ampliar embarques a destinos como Alemanha, Bélgica, Japão, Coreia do Sul, China e Austrália, mercados que já compram o produto brasileiro e que agora ganham força como alternativa à dependência norte-americana. Segundo a StoneX, o movimento esperado é de redirecionamento comercial, com exportadores de países como Colômbia, Honduras e Guatemala, que hoje enviam parte significativa do café arábica à Europa, direcionando esses volumes para os Estados Unidos, onde o preço tende a subir. E o Brasil passaria a ocupar o espaço deixado por esses países nos mercados europeus e asiáticos. Não se trata de abrir novos mercados do zero, mas de realinhar rotas já existentes.
Dados mostram que 16% das exportações brasileiras de café têm como destino os Estados Unidos, que por sua vez compram 34% do café importado do Brasil. É praticamente impossível substituir o Brasil como fornecedor ou os Estados Unidos como destino de 8 milhões de sacas de 60 Kg. O que teremos será uma distorção na cadeia global de suprimento. No curto prazo, o efeito tende a ser duplo: pressão sobre os preços internos no Brasil, com maior disponibilidade do grão no mercado doméstico, e aumento da inflação para o consumidor americano, que já enfrenta uma alta acumulada de mais de 30% nos preços do café nos últimos 12 meses. Os dois lados perdem. O Brasil venderá com desconto, e os americanos pagarão um prêmio. A indústria dos Estados Unidos será fortemente impactada nas margens. Apesar do movimento de diversificação, o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) avalia que o impacto da tarifa sobre a presença do produto no mercado norte-americano tende a ser limitado.
As características sensoriais do café brasileiro dificultam sua substituição. Mesmo que tenha que pagar mais caro, o consumidor final prefere isso a abrir mão do seu produto favorito. Mesmo com a tarifa, o café brasileiro tende a continuar competitivo frente a outros produtores. Enquanto a Colômbia vende com prêmio sobre a bolsa, o café brasileiro, mesmo com qualidade crescente, ainda é vendido com desconto. A tarifa acaba se diluindo sem mudar o hábito de consumo. Além da movimentação natural dos agentes de mercado, o governo brasileiro também atua para mitigar os impactos. Segundo o Ministério da Agricultura, junto com o Itamaraty e o MDIC, está mapeando destinos que possam absorver parte do café afetado pelas restrições. Uma das frentes envolve ampliar a promoção comercial do café na China e na Austrália. A estratégia inclui ações diplomáticas, articulação com câmaras de comércio e ativação da rede de adidos agrícolas para buscar novos importadores.
O Cecafé pondera que o redirecionamento das exportações não será imediato. Ampliar mercados e volumes leva tempo e exige investimento. O governo tem se proposto a isso. Mas, não é algo que muda do dia para a noite, como virar uma chave em 1º de agosto. Foi destacada a volatilidade da China como importador. Em 2022/2023, a China teve um crescimento de mais de 270% nas importações. Em 2023, tornou-se o sexto maior importador. Mas, em 2024, as compras da China caíram 35%, enquanto os Estados Unidos aumentaram em 34%. O cenário se torna ainda mais desafiador diante da redução na safra brasileira de arábica, prejudicada por condições climáticas adversas. A estimativa da StoneX é de 38,7 milhões de sacas em 2025, um dos menores volumes recentes. A reação do mercado dependerá também das condições climáticas nos próximos meses, especialmente em relação às chuvas que influenciarão a florada e o potencial da próxima safra.
É uma conjuntura que envolve fundamentos apertados, cenário climático incerto e um choque comercial com impactos ainda difíceis de mensurar por completo. Apesar da medida estar prevista para entrar em vigor, há crescente expectativa de que o café possa ser retirado da lista de sobretaxas. Negociadores e representantes da indústria apontam que a exclusão do produto da tarifa de 50% pode ser anunciada já nos próximos dias. O secretário do Comércio norte-americano, Howard Lutnick, reconheceu publicamente que o país pode reconsiderar a inclusão de produtos como café, abacaxi e manga. A pressão também parte da indústria local: a National Coffee Association (NCA) formalizou pedido ao governo norte-americano para que o café seja excluído das tarifas, independentemente da origem. Caso a tarifa seja mantida, o que se desenha é um novo mapa global para o café, com o Brasil reposicionando suas exportações e os Estados Unidos arcando com os custos de uma cadeia comercial tensionada. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.