08/Jan/2025
Segundo levantamento do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) junto a 27 empresas associadas, que representam 75% das remessas totais ao exterior, os constantes atrasos e alterações de escala de navios para exportação, além de frequentes rolagens de cargas, fizeram com que o País acumulasse 1,615 milhão de sacas de 60 Kg (4.895 contêineres) do produto não embarcadas em 2024 até novembro. Devido a esses entraves na logística nos portos brasileiros, os exportadores de café tiveram um “prejuízo portuário” de R$ 11,930 milhões em novembro, que envolvem gastos extras com armazenagens adicionais, detentions, pré-stacking e antecipação de gates. Com um preço médio FOB de exportação de US$ 290,66 por saca de 60 Kg (café verde) e a média do dólar em R$ 5,80 em novembro, o não embarque desse café implica que o Brasil deixou de receber, nos 11 primeiros meses de 2024, US$ 469,53 milhões, ou R$ 2,726 bilhões, como receita cambial.
Os exportadores brasileiros de café seguem enfrentando intensos gargalos logísticos em função do aumento das exportações de diversos produtos que utilizam contêineres para o acondicionamento de seus embarques e da falta de infraestrutura adequada para cargas conteinerizadas nos portos do Brasil. Os entraves na logística e os prejuízos acumulados pelos exportadores externam que os principais portos brasileiros para exportação de café e demais cargas que demandam contêineres não acompanharam a evolução do agronegócio no País, sendo nítida a falta de infraestrutura portuária adequada. A demanda por capacidade de pátio e berço maiores, condições adequadas de rodovias, ferrovias e hidrovias para atender ao agronegócio brasileiro, assim como o aprofundamento de calado para o recebimento de maiores embarcações, são cada vez mais necessárias no Brasil.
O Cecafé vem mantendo diálogos com os diversos elos do comércio exterior, envolvendo autoridades públicas e o segmento privado, com o objetivo de buscar soluções que mitiguem riscos, minimizem os prejuízos aos exportadores e possibilitem a breve otimização da estrutura dos portos. A infraestrutura portuária brasileira vem apresentando sinais de esgotamento e é emergencial a ampliação de investimentos e adoção de medidas que visem atender à demanda crescente do agronegócio nacional, proporcionando mais eficiência e competitividade aos setores e possibilitando que um dos principais segmentos da economia do País permaneça gerando bilhões em divisas. Nesse sentido, o Brasil é o país no mundo que mais repassa o preço FOB da exportação de café a seus produtores. Portanto, o não embarque do café brasileiro, por conta de limitações de infraestrutura portuárias, reduz os repasses aos cafeicultores.
Conforme o Boletim Detention Zero (DTZ), elaborado pela startup ElloX Digital, 66% dos navios, ou 200 de um total de 304 porta-contêineres, tiveram atrasos ou alteração de escalas que impactaram no resultado das exportações de café, nos principais portos do Brasil, em novembro do ano passado. O tempo mais longo de espera no mês de novembro/2024 foi de 68 dias, registrado no maior porto do Hemisfério Sul, o Poto de Santos (SP). Além disso, 46 navios sequer tiveram abertura de gate no cais do Porto de Santos. Apesar do crítico cenário logístico portuário nacional, o Brasil registra recordes sucessivos nas exportações do produto graças ao empenho das equipes de logística dos exportadores associados, que saíram em busca de alternativas para realizar os embarques, e à contribuição dos terminais portuários, que vêm empenhando esforços para atender às demandas do comércio exportador de café. Com 46,4 milhões de sacas de 60 Kg exportadas no acumulado de 2024 até novembro, o Brasil já bateu o recorde anual de embarque, que era de 44,7 milhões de sacas de 60 Kg registrado nos 12 meses de 2020.
Nos 11 primeiros meses de 2024, observou-se, ainda, um crescimento de 24,6% nas exportações realizadas pelo Poro de Santos e de 53,2% pelo complexo portuário do Rio Janeiro. Isso, contudo, deve-se ao incansável trabalho das equipes de logística dos associados do Cecafé, que vêm buscando outros caminhos para conseguir embarcar, como break bulk, quando o café é remetido em big bags nos porões de navios, e ao apoio dos terminais portuários de Santos para a consolidação das cargas exportadas. Se o Brasil tivesse condições de infraestrutura portuária adequada, poderia ter exportado mais café, gerando mais divisas e renda ao País, além de evitar os prejuízos aos exportadores com o volume de 1,615 milhão de sacas de 60 Kg que permanecem paradas nos portos. De acordo com os dados do Boletim DTZ, o Porto de Santos, que responde por com 67,6% dos embarques de café no acumulado dos 11 primeiros meses de 2024, registrou um índice de 78% de atraso ou alteração de escalas de navios em novembro, o que envolveu 125 do total de 160 embarcações.
Ainda em novembro, apenas 9% dos procedimentos de embarque tiveram prazo maior do que quatro dias de gate aberto por navios no embarcadouro do Porto de Santos. Outros 46% possuíram entre três e quatro dias e 44% tiveram menos de dois dias. O complexo portuário do Rio de Janeiro (RJ), o segundo maior exportador dos cafés do Brasil, com 28,2% de participação nos embarques no acumulado de 2024, teve índice de atrasos de 61% em novembro, com o maior intervalo sendo de 53 dias entre o primeiro e o último deadline. Esse percentual implica que 38 dos 62 navios destinados às remessas do produto sofreram alteração de escalas. Também em novembro, 13% dos procedimentos de exportação tiveram prazo superior a quatro dias de gate aberto por porta-contêineres nos portos do Rio de Janeiro; 24% registraram entre três e quatro dias; e 63% possuíram menos de dois dias.
O Cecafé e outras instituições do Agro têm se mobilizado, de maneira conjunta, para sensibilizar e cobrar das autoridades públicas medidas que ampliem os investimentos e venham a mitigar o cenário de gargalos logísticos, o qual interfere no desempenho do comércio exportador do Brasil. O anúncio do leilão do Tecon Santos 10 e dos investimentos que serão realizados no Porto de Santos foram bem recebidos pelo setor, pois visam ampliar e aprimorar a capacidade e a infraestrutura portuária em seus diversos aspectos. No entanto, ciente dos diversos desafios técnicos e burocráticos, ainda há muito a fazer e precisamos seguir trabalhando, de forma conjunta e colaborativa, através de diálogo permanente com todos os elos do comércio exterior e autoridades públicas, para dar celeridade aos processos de planejamento e execução, preparando o porto para ser cada vez mais eficiente. Fonte: Cecafé. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.