20/Dec/2024
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), a indústria nacional de café torrado e moído atravessa momento extremamente delicado provocado pela alta dos preços da matéria-prima. O setor encontra dificuldades para manter estoques em níveis razoáveis (seis meses, em média, ante atuais três meses) e vai ter de repassar imediatamente preço ao varejo. A cotação do café arábica tipo exportação mais que dobrou nos 12 últimos meses, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, que acompanha diariamente os preços do produto. Atualmente é de R$ 2.221,00 por saca de 60 Kg. No período, sucessivos recordes históricos foram observados para o preço do café conilon, muito consumido pela indústria torrefadora nacional na composição de seus blends (mistura) de grãos torrados e moídos. A cafeicultura nacional atravessa período "muito complicado". Em 2021, uma severa geada severa atingiu o cinturão produtor, como o Sul de Minas Gerais, com reflexos negativos até hoje.
Em 2024, houve uma estiagem prolongada, com temperaturas acima da média. As chuvas vieram em outubro, mas o volume da produção de café em 2025 ficou comprometido. Os problemas climáticos, no entanto, são globais, prejudicando a produção de café em boa parte dos principais países produtores, exacerbando a queda na oferta. Além disso, os estoques de segurança são baixos, nos países produtores e nos consumidores. A indústria nacional normalmente negocia a compra de café para entrega futura e se abastece por meio de estoque regulador próprio. Essa realidade não é mais verdade desde o último ano e meio. A indústria, em particular a pequena e média, que representa 83% dos associados da Abic, queimou o estoque, à espera de queda dos preços. Sem caixa, passou a negociar "da mão para boca". Hoje, o capital de giro da torrefadora não é suficiente para comprar a mesma saca de 60 Kg de café do início do ano.
Para contornar a dificuldade de aumento dos custos, o setor tem a necessidade premente de repassar, de modo escalonado, em média, 40% ao preço no varejo, para retomar o equilíbrio financeiro. Seria preciso aumentar em 20% o preço do café ao consumidor, de imediato. Ressalta-se que a Abic não tem a prerrogativa de definir quanto o industrial deve elevar seu preço. Caso contrário, sem reajuste, a indústria torrefadora corre risco de baixar as portas. É preciso se adaptar rapidamente às condições atuais de mercado; fortalecer a marca; estreitar relação com o cliente, entre outras iniciativas, para superar o atual momento, nunca observado no passado. A alta de preço do café no varejo deve provocar uma reação do consumidor final. No entanto, o setor aposta na resiliência do consumo da bebida e em uma nova realidade cultural do café. As pessoas têm procurado conhecer mais sobre o café, sobre sua função social e para a saúde, o que tem levado ao crescimento do consumo de produtos gourmet, mais sofisticados. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.