05/Nov/2024
As fazendas brasileiras de café poderão dispor de pelo menos 15 milhões de toneladas de carbono nos próximos anos, um ativo que poderá se transformar em receita financeira a partir da regulamentação desse mercado, ainda em discussão no Congresso Nacional. Uma plataforma que está sendo desenvolvida em parceria entre o setor público e a iniciativa privada promete dar a produtores de todos os tamanhos a possibilidade de quantificar o potencial de captação de carbono em suas propriedades. O projeto tem o objetivo de oferecer ao setor uma metodologia própria para o cálculo do inventário de créditos de carbono. A E2Carbon, startup envolvida na iniciativa, explica que os parâmetros atuais do mercado ainda seguem uma ótica florestal, na qual os créditos são reconhecidos quando práticas específicas resultam em captura de carbono adicional, ou seja, superior ao que ocorreria em um cenário convencional. O princípio é conhecido como “adicionalidade”.
Nesse contexto, o projeto, feito em parceria com o Sebrae e a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), vai oferecer um modelo de medição adaptado à produção agrícola brasileira. A plataforma vai considerar inicialmente o carbono capturado pelo próprio cafeeiro e pelo solo onde ele está. Em um segundo momento, entrará na conta o modelo de manejo, ou seja, os tipos de fertilizantes e defensivos e demais itens utilizados na cultura. O manejo tem um peso relevante no cálculo, motivo pelo qual a estimativa de potencial de créditos de carbono pode variar significativamente. Quando se troca o fertilizante e a ureia por outra fonte de fertilizante, já está contribuindo para a redução da emissão. Quando se planto o café junto com outras culturas, e não de forma isolada, dá para acumular também, exemplifica a Embrapii IFSuldeMinas.
No caso específico do café, estudos feitos em fazendas do sul de Minas Gerais já demonstraram que a produção é negativa em carbono, ou seja, a captura é superior à emissão. Isso quer dizer que os produtores já detêm um ativo que ainda não pode ser precificado e comercializado, por falta de parâmetros para o cálculo e de um mercado consolidado de créditos. Apesar de já existirem alguns modelos desenvolvidos no exterior que podem ser usados para quantificar o carbono na produção agrícola, eles só funcionam para fazendas de milhares de hectares, raras na cafeicultura brasileira. Para um produtor médio pensar em projeto de carbono com as metodologias pensadas no exterior, a barreira de entrada é altíssima e o custo é inviável. Com a plataforma que está sendo desenvolvida, fazendas de todos os tamanhos poderão ter seus projetos de carbono inseridos e auditáveis por critérios internacionais. A ideia é que até o fim de janeiro de 2025 o software já esteja pronto para ser comercializado.
O objetivo é criar a patente e, então, oferecer aos produtores. A ideia é de que a ferramenta funcione como um aplicativo. As propriedades serão monitoradas em tempo real, via satélite. A produção de café ocupa hoje algo em torno de 1,8 milhão de hectares, divididos entre as espécies arábica e conilon, e pode capturar cerca de 15 milhões de toneladas de carbono. Esse volume poderia representar até R$ 1 bilhão em créditos, mas a conta depende de uma série de variáveis. Além das questões metodológicas específicas para cada cultura, a regulamentação do mercado de créditos é outro entrave. O projeto de lei que trata da regulamentação e da comercialização dos títulos está travado no Congresso. O texto escolhido pelo governo, relatado pela senadora Leila Barros (PDT-DF), acabou rejeitado na Câmara, que apresentou a primeira versão da matéria. A negociação, agora, é de um acordo para que um texto de consenso possa ser votado. Fonte: Globo Rural. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.