10/Ago/2022
Os estoques certificados de café na Bolsa de Nova York, após a redução do mês de julho, renovaram mínimas em quase 23 anos, atingindo níveis não registrados desde 1999. Naquela ocasião, os estoques certificados vinham de uma recuperação após alcançarem volumes praticamente nulos até 1998. Os estoques na ICE US recuaram este ano de aproximadamente 1,5 milhão de sacas de 60 Kg para cerca de 700 mil sacas de 60 Kg, uma intensa queda de 837 mil sacas de 60 Kg, ou de 54,5% em seu volume. Se for considerado desde o momento em que os estoques iniciaram a trajetória de forte declínio, em meados de setembro de 2021, quando os armazéns da ICE US tinham mais de 2,1 milhões de sacas de 60 Kg, a queda observada é de mais de 1,4 milhão de sacas de 60 Kg, ou 67,6%. Em meio a este quadro, uma pergunta que tem sido feita pelos agentes é até onde estes cafés podem recuar, e se podem repetir o ocorrido há mais de duas décadas atrás.
No caso da ICE US, a bolsa tem regras para certificar café, que pode aplicar um ágio ou um desconto sobre o valor cotado na bolsa para os cafés enviados, a depender da origem do produto. Tomando como foco os principais fornecedores de cafés para a Bolsa, Brasil e Honduras, no caso brasileiro, historicamente, o breakeven, ou seja, o diferencial entre preços domésticos e Bolsa para que a certificação de um café passe a ser atraente, costumava ficar em torno de -14,00 centavos de dólar por libra-peso, em um cálculo que considera os descontos que seriam aplicados pela bolsa para o café brasileiro (-6,00 centavos de dólar por libra-peso) e os encargos logísticos para a realização da entrega, estimados até então em -8,00 centavos de dólar por libra-peso. Para o café de Honduras, não há deságio imposto pela bolsa, e os custos logísticos para certificação ficavam em torno de -4,00 centavos de dólar por libra-peso. A realidade desde meados de 2021, porém, tem se mostrado bastante diferente.
Em virtude dos severos gargalos logísticos provocados pela pandemia, o custo do frete para exportação decolou. Neste contexto, os diferenciais de breakeven recuaram para patamares significativamente menores. Atualmente, o breakeven para a certificação de um café brasileiro na ICE é de cerca de -33 centavos de dólar por libra-peso (FOB), podendo ficar em patamares ainda mais baixos. O cenário não é diferente em muitas outras origens. Nessas condições, torna-se improvável que novos cafés sejam certificados, caso os diferenciais se mantenham nos patamares atuais. Adicionalmente, os custos logísticos de importação pelos países consumidores, apesar de terem recuado um pouco nas últimas semanas, permanecem em níveis significativamente maiores que o período pré-pandemia. Enquanto esta situação permanecer, é mais provável que novos cafés sejam descertificados, à medida que esses cafés tendem a ser os mais baratos. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.