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02/Jun/2025

Carrefour Brasil decide fechar o capital e sai da B3

A decisão do Carrefour Brasil de fechar o capital e sair da B3 marca mais um capítulo na crescente tendência de empresas que optam por abrir mão do mercado acionário. Pressionadas por desvalorização, baixa liquidez e exigências regulatórias, companhias têm visto na saída da Bolsa uma estratégia para ganhar flexibilidade e atrair novos investimentos. Entre os casos mais emblemáticos recentes, está o da empresa de liquidação de transferências eletrônicas Cielo, que deixou a Bolsa após quinze anos listada. Outro exemplo é a ClearSale, que se despediu da B3 depois de concluir o processo de venda e incorporação pelo Serasa Experian. No caso do Carrefour, a liquidez em queda e o desinteresse dos investidores institucionais também contribuíram para a decisão. Mas pesou sobretudo o fato de o controle estar nas mãos da matriz francesa, que nunca cedeu o comando estratégico da operação brasileira e, em abril, teve a proposta de reorganização aprovada.

Pouco antes, a gestora Península vendeu sua participação por R$ 850 milhões, encerrando sua trajetória como acionista da varejista. Para o Carrefour Brasil, a saída da Bolsa permitirá à empresa tomar decisões com mais agilidade e reduzir a complexidade de processos internos. A estrutura de capital fechado dará mais velocidade para executar estratégias. O foco agora será crescer e com potencial de abertura de novas lojas a partir de 2026. O "gran finale" do Carrefour Brasil veio com a aprovação de dividendos. Na assembleia geral realizada no dia 28 de maio, a empresa decidiu distribuir proventos a 0,92 euros (cerca de R$ 5,90) por ação. Somado a isso, o início das negociações de BDRs da empresa na B3 está previsto para 2 de junho, data em que os investidores podem vender seus BDRs com direitos a dividendos. No dia seguinte, os BDRS passam a negociar ex-dividendos. Os investidores que tiverem ação da empresa até o dia do fechamento do capital também terão direito a receber o último dividendo que a companhia pagará.

Assim, o Carrefour Brasil deu adeus à Bolsa brasileira na sexta-feira (30/05), após uma passagem de oito anos marcada por desafios operacionais, expectativas não cumpridas e uma perda superior a 40% em valor de mercado. A decisão foi da matriz francesa, que já detinha 70% das ações e agora compra a fatia restante com o objetivo de simplificar a operação e acelerar decisões estratégicas. A estreia do grupo no mercado de capitais brasileiro, em 2017, chamou atenção. Com uma oferta pública inicial (IPO) de R$ 5,125 bilhões (o maior desde 2013), o Carrefour chegava com planos ambiciosos de digitalização e consolidação. A força do Atacadão, seu braço de atacarejo (cash&carry), era considerado o trunfo da empresa e sustentava a imagem da nova protagonista do varejo alimentar. Nesse sentido, especialmente após a aquisição do Atacadão, a operação brasileira se tornou muito relevante em tamanho, crescimento e geração de negócios para a matriz francesa.

A abertura do capital se deu justamente para financiar essa expansão na época, tanto do modelo Atacadão quanto da digitalização, que está feita. O objetivo da abertura de capital foi cumprido. A ação entrou na B3 negociada a R$ 15,00 e em abril de 2022, chegou à máxima histórica de R$ 23,17. O pico refletia um cenário favorável para o atacarejo, impulsionado por inflação elevada e perda do poder de compra, que levou grande parte dos consumidores a migrar para formatos de compra mais baratos. Contudo, o entusiasmo não durou. Ainda que o discurso da matriz aponte para eficiência e agilidade, o fraco desempenho das ações já vinha, na prática, empurrando o Carrefour para fora do radar dos investidores. O papel deixou a B3 com valor de mercado de R$ 17,8 bilhões, com a ação cotada a R$ 8,45 no fechamento do dia 29 de maio, uma queda de 44% frente ao valor da oferta inicial. A derrocada do papel na Bolsa foi puxada por uma combinação de fatores operacionais e estratégicos.

A aquisição do Grupo BIG (ex-Walmart Brasil), anunciada em 2021 por R$ 7,5 bilhões, empolgou o mercado inicialmente, mas a integração se mostrou lenta, custosa e complexa. A companhia estimava concluir o processo em cerca de 18 meses, mas enfrentou dificuldades com a conversão de 129 lojas de grande porte, além do fechamento ou venda de outras 123 unidades consideradas estruturalmente inviáveis. O esforço consumiu tempo, recursos e afetou os resultados financeiros: no primeiro trimestre de 2023, o Carrefour Brasil registrou o primeiro prejuízo desde o IPO, de R$ 375 milhões, e ainda viu sua margem Ebitda cair de 4,4% para 2,1%. Na época, a XP Investimentos afirmou que o resultado refletiu pressão de rentabilidade das conversões e legados do BIG, além de maiores despesas financeiras decorrentes do endividamento da empresa com a alta de juros.

Sendo assim, as margens do Carrefour começaram a reduzir sequencialmente diante da crescente inflação de alimentos e maior concorrência. O Assaí, desmembrado do Grupo Pão de Açúcar (GPA), acelerava sua expansão e o próprio GPA começava a se reposicionar no segmento premium. Foi então em meados de 2022 que os resultados do Carrefour Brasil passaram a decepcionar e as ações começaram a cair. A companhia parecia "travada", com uma operação robusta, mas dificuldade de se adaptar com a mesma velocidade dos concorrentes. Para o JPMorgan, a empresa acumulou falhas operacionais ao longo dos últimos anos e entrou em um ciclo de "visibilidade embaçada" com a integração do BIG. No final de 2024, o Carrefour também enfrentou uma crise após o presidente global do Grupo, Alexandre Bompard, anunciar que não compraria mais proteínas provenientes de países do Mercosul, alegando que não atendia às normas sanitárias francesas.

Os frigoríficos brasileiros, então, passaram a boicotar o fornecimento de carnes para as unidades da rede em todo o território nacional. A turbulência se estendeu e exigiu até mesmo que o embaixador da França no Brasil se reunisse com autoridades do Ministério da Agricultura para tratar do imbróglio. Ainda na ocasião, o Ministério da Agricultura avaliou que a crise entre a indústria de carnes e o Carrefour era uma questão que refletia mais na imagem do agronegócio brasileiro do que em impactos comerciais. No fim, Bompard recuou, enviando uma carta de retratação ao ministro Carlos Fávaro em que constava a menção de que a carne brasileira atende às normas sanitárias e aos padrões exigidos pela França. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.