03/Feb/2025
O atacarejo, formato de loja que combina atacado com varejo e oferece preços geralmente mais baixos que os de supermercados tradicionais, passa por transformações. Há algum tempo, essas lojas começaram a vender hortifrutigranjeiros, incorporaram padarias e adicionaram serviços como seções de frios fatiados e açougues. Mais recentemente, expandiram ainda mais, incluindo galerias ou alamedas comerciais que reúnem diversas lojas, restaurantes e até academias de ginástica. Algumas galerias foram herdadas da conversão de lojas de hipermercados em atacarejo. Mas, nos últimos tempos, esses espaços se tornaram parte do projeto de construção de novos estabelecimentos. A transformação dos atacarejos, na análise de especialistas, foi provocada pela forte concorrência, com a entrada de novas bandeiras na disputa pelo consumidor, e, sobretudo, pela redução no ritmo de crescimento de vendas desse formato, quando se considera a mesma base de lojas.
Em 2024, as vendas dos atacarejos no Estado de São Paulo, o maior mercado consumidor do País, perderam fôlego. O crescimento da receita das redes foi em um ritmo menor do que no ano anterior e também ficou aquém dos supermercados, quando se consideram as mesmas lojas. Levantamento da Varejo 360, empresa de pesquisa que projeta as vendas do autosserviço com base na nota fiscal de compra dos clientes, revela que em 2024 as vendas nominais (sem descontar a inflação) das lojas de atacarejo no Estado de São Paulo cresceram 3,34% em relação ao ano anterior, na mesma base de lojas. Em igual período e seguindo o mesmo critério, o avanço dos supermercados foi de 5,24%. Em 2023, a venda do atacarejo tinha crescido 4,22% e a dos supermercados, 5,14%, ante 2022. Em 2024, pelo segundo ano seguido, o aumento de vendas dos atacarejos no Estado de São Paulo foi inferior ao dos supermercados e menor do que o registrado em 2023, quando se consideram as mesmas lojas.
No entanto, se for considerado o número total de lojas, que aumenta a cada ano, as vendas do atacarejo paulista cresceram nominalmente 9,68% em 2024 ante 2023, superando o desempenho dos supermercados (7,59%). Poucos atacarejos mantêm hoje o conceito original de apenas focar no preço baixo das mercadorias. O Assaí, por exemplo, segundo maior atacarejo do País pelo ranking da Associação Brasileira de Atacarejo (ABAAS), está expandindo a operação de galerias dentro das lojas. A rede faturou R$ 72,8 bilhões em 2023. Dos 302 espaços de atacarejos da bandeira em operação, 104 já têm galerias. O nível de ocupação desses espaços chegou a 80% no terceiro trimestre do ano passado, com uma receita de locação de R$ 26 milhões e crescimento de 13% ante o mesmo período de 2023. A Assaí Atacadista faz estudos para avaliar se é viável a implantação de galerias nas demais lojas de atacarejo da companhia. É que as galerias acabam sendo um diferencial do negócio não só na atração de clientes, mas também para gerar renda por meio da receita com aluguéis.
Esse movimento de atrair e reter consumidores está ligado não só às galerias, mas também à maior oferta de serviços, mais opções de produtos, em um ambiente agradável, com ar-condicionado funcionando, por exemplo. No passado, esses atributos não eram muito relevantes no atacarejo e tudo estava muito focado em preço, lembra Basílio. O Atacadão, rede do Grupo Carrefour, líder do ranking da ABAAS, com vendas de R$ 79,1 bilhões em 2023, está empenhado em oferecer conveniência para atrair os clientes. E as galerias comerciais acopladas ao atacarejo fazem parte dessa estratégia, além da prestação de serviço dentro da loja. Das 379 lojas do Atacadão, hoje 79 têm galerias comerciais. A primeira galeria comercial na loja de atacarejo foi aberta em 2013. Esse negócio veio se desenvolvendo na companhia antes mesmo da aquisição das lojas do Big, que já tinham essa estrutura e foram convertidas em atacarejos. O grupo tem investido em pesquisas junto aos consumidores para identificar em quais lojas essa estrutura seria viável.
Com oferta de serviços, o empreendimento fica mais atrativo e a tendência é conseguir capturar o fluxo e trazer, obviamente, essas pessoas para dentro do atacarejo. Em um dos atacarejos do grupo, por exemplo, a decisão foi transformar pequenas lojinhas em uma área maior, locada para uma academia de ginástica. E a estratégia foi bem-sucedida. A academia ajudou no fluxo da loja e também no fluxo da própria galeria. O Max Atacadista, do Grupo Muffato, que ocupa a quarta posição no ranking da ABAAS, com vendas de R$ 15,6 bilhões em 2023, também instalou uma academia de ginástica na alameda comercial. Desde a primeira loja de atacado no início dos anos 2000, as lojas do Max já tinham espaço para alamedas comerciais e boa parte das lojas previstas para este ano já tem área reservada para essa finalidade. Apesar do avanço na prestação de serviços, Daiane ressalta que o principal atrativo do Max é o preço baixo. A força do preço no atacarejo continua. Mas o diferencial em relação ao preço cobrado em outros formatos de loja é menor do que foi no passado. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.