16/Jul/2024
A cidade de São Paulo (SP) tem sido palco de uma disputa acirrada no setor de supermercados premium. Com lojas diferenciadas e produtos e serviços exclusivos, St.Marche, Mambo e Pão de Açúcar travam uma briga por espaços físicos e pela preferência do consumidor, o que tem mudado a estratégia das empresas. St.Marche e Mambo, por exemplo, estão deixando o regionalismo de lado e espalhando suas marcas pela cidade. O St.Marche deixou de ser uma rede restrita à zona sul e o Mambo, à zona oeste da cidade. O grupo Pão de Açúcar, que estava fora do páreo, também se mexe para garantir seu espaço. Durante anos, a rede esteve praticamente sozinha nesse segmento na capital. Mas, com a crise societária que abalou o GPA nos últimos anos, as lojas do Pão de Açúcar perderam o glamour. Uma reestruturação da rede foi iniciada em abril de 2022. O Pão de Açúcar está no jogo e os resultados mostram isso.
Voltado para as classes de maior renda, A e B, esse segmento gira anualmente cerca de R$ 50 bilhões. É mais da metade do faturamento total dos supermercados instalados na capital paulista, que movimentaram R$ 80 bilhões no ano passado, segundo a Associação Paulista de Supermercados (Apas). Para tentar escapar da imagem de cobrar preços mais altos, as empresas falam em oferecer uma “experiência de compra” melhor aos clientes. A forte competição por esse filão é visível em alguns pontos da capital paulista. Quem passa, por exemplo, pela Avenida Rebouças, importante via da cidade que liga as avenidas Paulista e Brigadeiro Faria Lima, constata um lance da hiperconcorrência. Recentemente, uma loja do Mambo foi aberta a menos de 100 metros de uma nova unidade do St.Marche, que fica do lado oposto da avenida.
A loja do St.Marche, por sua vez, está a duas quadras de outra do Pão de Açúcar. Localizada na esquina da Rua Alves Guimarães, a unidade do Pão de Açúcar estava há muito tempo sozinha na região, mas nos últimos tempos foi até reformada. Apesar do embate entre Mambo e St.Marchet, o Pão de Açúcar ainda é visto no mercado como o competidor mais forte e com os melhores pontos de venda no segmento. São 66 unidades, 28 delas recém-reformadas. Também calibrou o mix de produtos, especialmente de perecíveis, e resgatou a posição de referência na prestação de serviços. O resultado da reestruturação da companhia tem aparecido nos balanços. Por nove trimestres seguidos, a empresa vem ganhando fatias de mercado, ampliando faturamento e, principalmente, o volume de vendas. No primeiro trimestre deste ano, por exemplo, a bandeira Pão de Açúcar, entre as demais do GPA (Minuto Pão de Açúcar e Extra Mercado), foi a que mais ampliou vendas em relação ao mesmo período do ano passado.
Comparando o desempenho das mesmas lojas e excluindo o efeito das mudanças nas datas festivas do calendário, entre janeiro e março deste ano a receita das lojas com a bandeira Pão de Açúcar avançou 6,7% ante o mesmo período de 2023, enquanto a do Extra Mercado cresceu 4,5% e a do Minuto Pão de Açúcar, 2,3%. A recuperação do Pão de Açúcar é um reforço de peso no movimento de hiperconcorrência por esse filão na cidade de São Paulo, algo que é mais consolidado em outras capitais do País. Na cidade do Rio de Janeiro (RJ), por exemplo, quem domina esse mercado é o Zona Sul; em Belo Horizonte (MG), é a rede Verdemar; e em Curitiba (PR), o Festval. Para a Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), o mercado nos próximos anos será bastante competitivo, com pelo menos três players concorrendo no maior mercado premium do País.
As medidas que solucionaram o endividamento do Pão de Açúcar e a melhora na gestão trouxeram a companhia para o mercado, paralelamente ao avanço do St.Marche e do Mambo. Estudo feito pela St.Marche identificou que, num raio de 150 quilômetros da capital paulista, há potencial para abrir mais de 100 lojas no formato premium. Entre julho de 2021 e agosto de 2023, em 25 meses, a companhia abriu 12 lojas, das quais nove St.Marche na capital paulista. Foram inauguradas também unidades com a bandeira St.Marche em Campinas (SP) e Santos (SP) e uma loja com a bandeira Santa Maria Empório, que pertence ao grupo. No total, foram investidos mais de R$ 100 milhões. A companhia aposta no rápido crescimento desse setor nos próximos 20 anos, ao lado do comércio online e do modelo de atacarejo. Neste ano, a varejista, que é controlada pelo fundo norte-americano Catterton, não planeja novos pontos de venda.
A empresa diz que a parada nas inaugurações é estratégica para se concentrar na qualidade da operação. O GPA vê a maior concorrência pelo segmento premium como “natural”. Assim como o St.Marche, a preocupação do GPA é oferecer uma boa experiência de compra aos clientes. O Pão de Açúcar vai estar muito bem, apesar dos concorrentes. Entre os diferenciais da bandeira em relação aos competidores, o GPA aponta a marca forte e o grande porte da companhia. Isso permite uma negociação melhor com as indústrias e preços mais competitivos na ponta. Segundo especialistas do setor, ser tachado de supermercado careiro é um dos riscos que as bandeiras que atuam no segmento premium correm. O Pão de Açúcar carrega essa fama há muito tempo. O St.Marche, por exemplo, tenta apagar essa imagem substituindo a designação de mercado premium por mercado de experiência. É uma grande falácia essa história de mercado premium.
Seria um mercado premium no sentido de oferecer uma experiência melhor de compra. Mas, parte das pessoas acredita que, pela experiência melhor, essas lojas são mais caras. O esforço para desfazer a fama de supermercado “de gente rica” passa pela incorporação de itens básicos às promoções, como arroz, sal, óleo. Essa “virada pop”, que permite que a loja tenha um mix de ofertas mais balanceadas no dia a dia e atraia mais consumidores, está visível na entrada de lojas do St.Marche. Dois carrinhos com a mesma cesta de produtos, um com itens oferecidos pelo próprio St.Marche e outro com a indicação de preços da loja do Pão de Açúcar mais próxima, costumam ficar expostos com o tíquete de compra para o consumidor comparar. Na loja do St.Marche do bairro de Perdizes, por exemplo, a cesta escolhida nesta semana custava R$ 627,65, valor que chegaria a R$ 630,33 se os mesmos produtos fossem adquiridos em unidade do Pão de Açúcar do mesmo bairro, uma diferença de R$ 2,68.
A entrada no Mambo promete esquentar ainda mais essa disputa. A Associação Paulista de Supermercados (Apas) lembra que não é de hoje que o Mambo quer entrar no segmento premium. O Mambo sempre teve a ambição de ser um Pão de Açúcar. No começo, o Mambo não sabia operar nesse segmento, mas isso parece ter ficado no passado. Com a venda do atacarejo Giga (que fazia parte do mesmo grupo) para o Cencosud, em 2022, o grupo se capitalizou, e o foco passou a ser o supermercado premium. A partir daí, o Mambo teve forte expansão e começou a abrir lojas. A rede tem atualmente 13 unidades. Faturou em 2022, antes da venda do Giga, R$ 721 milhões, segundo o ranking da SBVC. Procurada, a varejista não se manifestou. (M.C.). Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.