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17/Oct/2023

Setor varejista brasileiro é bastante concentrado

O varejo brasileiro é regional. Quase a metade (46%) das 300 maiores empresas em faturamento do País (ou 139 companhias) operam em apenas um Estado. São redes varejistas muito fortes localmente e que têm como um dos seus grandes ativos conhecer as preferências do consumidor. Muitas vendem mais de R$ 1 bilhão por ano. O Grupo Supernosso, por exemplo, com lojas de supermercado e atacarejo, faturou R$ 3,6 bilhões no ano passado com lojas apenas na região metropolitana de Belo Horizonte (MG). A Redemac, 9ª maior varejista de materiais de construção do País, é outra que conseguiu alcançar esse posto com lojas apenas no Rio Grande do Sul. O Grupo Ramiro Campelo, da Bahia, dono das redes Guaibim, de eletromóveis, e Casa+Fácil, de materiais de construção, faturou R$ 584 milhões em 2022 só com pontos na Bahia. E quer voltar às origens, ser mais regional ainda para escapar da concorrência das gigantes.

O elevado custo de logística por causa da grande extensão territorial do País, a falta de uniformidade tributária entre as unidades da federação e, especialmente, a grande diversidade de hábitos de consumo da população explicam o perfil local do varejo brasileiro. A regionalização, revelada pelo estudo da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), é reforçada por outros recortes da pesquisa. Das 300 maiores varejistas em faturamento no ano passado, 65% atuam em até cinco Estados e apenas 13% estão presentes em todas as Unidades da Federação. Um dos desdobramentos positivos da forte regionalização é a baixa concentração do varejo. De acordo com o estudo, as dez maiores empresas em receita detêm somente 19% das vendas; as 50 maiores, um terço do mercado; e as 100 maiores, apenas 40%.

Ter um varejo não concentrado é importante: há mais competição, mais oferta de produtos para o consumidor, o que é sempre positivo para a economia como um todo. Não surpreende o fato de que 46% das varejistas atuam em único Estado. Esse resultado revela que o setor está em processo de amadurecimento. Mas, a forte regionalização do varejo é puxada pelos supermercados. Eles são mais da metade (153) das 300 varejistas analisadas no ranking. Por causa dos grandes volumes transacionados, da logística e do sortimento de produtos, é difícil uma rede nacional se consolidar no varejo de autosserviço. Por isso, os supermercados regionais acabam crescendo e se tornando grandes localmente. Esse movimento se repete com drogarias e lojas de materiais de construção.

Nesses dois segmentos, a pulverização do varejo também é grande e há importantes redes regionais. A regionalidade do varejo brasileiro tem sido uma barreira à entrada de gigantes multinacionais do setor. Atraídas pelo potencial de consumo, companhias como a norte-americana Walmart e a holandesa Makro, por exemplo, atuaram no País por um longo período. Recentemente, alegando vários motivos, o Walmart deixou o Brasil e o Makro está de saída. Certamente, o fortalecimento e a concorrência do varejo regional verificado nos últimos tempos pesaram na decisão. Quando essas grandes varejistas internacionais chegaram ao País, surgiu a dúvida se os pequenos e médios comércios resistiriam. Se a tese de grandes companhias com atuação nacional funcionasse, essas varejistas teriam engolido todo mundo e tomado conta do varejo. Porém, não foi isso que aconteceu.

A lição que fica é que conhecer as preferências do consumidor local é muito mais importante para conquistar o mercado brasileiro do que ser uma grande companhia internacional ou uma gigante nacional. E, nisso, o varejo regional é craque. A rede Supermercados BH, de Minas Gerais, faturou mais de R$ 14 bilhões no ano passado. Longe dos holofotes dos grandes centros, as redes regionais bem administradas conhecem os hábitos de consumo da população local. Por isso, viraram alvo de aquisições de gestoras de investimento. Elas têm optado pela compra desses ativos em detrimento de grandes redes, como GPA (Grupo Pão de Açúcar) e Natural da Terra, da Americanas, por exemplo, que estão à venda. A gestora de investimentos Pátria acaba de comprar o controle da rede Atakarejo. A empresa, que, como o nome indica, atua no segmento de atacarejo, faturou R$ 3,7 bilhões no ano passado só com lojas na Bahia e é uma das líderes no Estado.

Pela transação, deve ter desembolsado entre R$ 700 milhões e R$ 850 milhões, calculam pessoas com conhecimento nesse mercado (o valor não foi revelado). Desde 2021, a gestora começou a investir no varejo de supermercados, com uma plataforma chamada Plurix, que adquiriu participações em várias redes regionais no Sul e Sudeste. Com as aquisições feitas, o faturamento dessa plataforma no ano passado somou R$ 3,9 bilhões. Se fosse uma única empresa, ocuparia a 21ª posição entre as maiores redes do País no ranking da Associação Brasileira de Supermercados (Abras). A ambição do Pátria é estar entre as grandes, com faturamento acima de R$10 bilhões. Há um universo muito grande de companhias regionais que podem ser alvo de futuras compras da gestora.

O grande diferencial das redes regionais é o olhar do empreendedor local, que conhece os hábitos dos clientes. Além disso, a força do agronegócio em cidades do interior das Regiões Sul e Sudeste do País tem propiciado boas condições de consumo à população local e de desempenho dessas redes. Neste ano, segundo dados da consultoria Nielsen IQ, o faturamento do atacarejo no total de lojas aumentou 15%, enquanto os supermercados, com mais de quatro caixas registradoras, avançaram 9%. No início do mês, a gestora de investimentos Pátria comprou o controle da rede regional Atakarejo, com 28 lojas na Bahia. Com isso, estreia no setor de atacarejo e na Região Nordeste.

A companhia cresceu 24% no ano passado, em relação ao ano anterior, segundo o ranking da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC). A meta é ter mais 50 lojas com a bandeira Atakarejo nos próximos 4 a 5 anos, triplicando o tamanho da rede nesse período. A expansão tanto poderá ocorrer por meio da abertura de lojas (em novas cidades ou nas já existentes) como por meio de aquisições de outras redes. Hoje, das 28 lojas em operação do Atakarejo, 22 estão em Salvador (BA). O foco das novas lojas será cidades com mais de 200 mil habitantes. A aquisição ainda precisa do aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.