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17/Aug/2023

Preços globais do arroz seguem com fortes altas

Em julho e no início de agosto, os preços mundiais do arroz atingiram níveis nunca vistos em 15 anos. A decisão da Índia de proibir as exportações de arroz não-basmati desencadeou uma onda de pânico e gera incertezas sobre a capacidade de oferta global de arroz nos próximos meses. Alguns analistas até falam de um possível caos comparável à crise de 2008, dado o papel importante que a Índia desempenha hoje no mercado mundial. O ponto de inflexão pode ser uma situação em que os preços mundiais fossem tão voláteis que os importadores procurassem arroz massivamente, enquanto os exportadores podem limitar os contratos por receio de ter que se abastecer nos mercados domésticos a preços mais altos do que os preços acordados com seus clientes. Esse foi o clima especulativo que ocorreu em 2008.

Além disso, há o risco de El Niño em 2023, que pode desestabilizar e agravar ainda mais o esquema atual. Três fatores poderiam evitar ou atenuar esse cenário sombrio. Os estoques globais de arroz são abundantes, 150% maiores do que em 2008 (excluindo os estoques da China), e os estoques dos países exportadores são duas vezes maiores, embora o comércio mundial tenha aumentado 80% desde 2008. Para Tailândia e Vietnã, o segundo e o terceiro maiores exportadores do mundo, respectivamente, seria uma grande oportunidade. Eles já estão planejando aumentar suas exportações em 2023, compensando boa parte das restrições da Índia. Por sua vez, o Paquistão voltará este ano aos níveis normais de produção e espera aumentar sua oferta de exportação. Por fim, a Índia já anunciou que poderá relaxar suas medidas restritivas em favor de países cuja segurança alimentar depende em grande parte do arroz indiano.

Essa é uma opção que poderia se repetir, seguindo a flexibilização nas restrições às exportações de arroz quebrado indiano, adotadas em setembro de 2022, atingindo assim um novo recorde de exportações em 2022. Em última análise, a amplitude da crise atual dependerá da postura adotada pelos países exportadores e importadores nas próximas semanas. Após das reações preventivas iniciais, os atores podem se lembrar de que as crises no mercado do arroz raramente duram muito tempo e que ajustes de preços (para baixo) podem ser igualmente brutais. Entretanto, é provável que os preços de exportação permaneçam firmes nas próximas semanas, até que as novas safras da Ásia comecem a chegar, no último trimestre de 2023.

Na Índia, os preços do arroz subiram 7% em julho em relação a junho. A maior parte desse aumento ocorreu antes do anúncio da proibição das exportações de arroz indiano. As cotações de preços na Índia estão suspensas desde o final de julho. O objetivo do governo indiano é estabilizar os preços internos e garantir o suprimento interno a preços razoáveis. Mas, este esquema deveria se referir a limitações e não a proibições de exportação. De fato, é provável que as medidas serão relaxadas quando os governos dos países importadores invocarem a cláusula de segurança alimentar e as autoridades indianas recomeçarem a exportar seletivamente, na expectativa de um retorno à normalidade em 2024. Em julho, o arroz indiano 5% esteve cotado a US$ 494,00 por tonelada FOB contra US$ 460,00 por tonelada em junho. O arroz 25% subiu para US$ 472,00 por tonelada em julho contra US$ 438,00 por tonelada em junho.

Na Tailândia, os preços subiram 10% nos últimos e 30% em comparação com o ano passado, na mesma época. Os importadores estão se voltando para a Tailândia desde o anúncio de interrupção das exportações indianas. Esse aumento na demanda externa também está impactando os preços domésticos. Entretanto, as autoridades tailandesas asseguram que há suprimentos suficientes para atender às necessidades de consumo interno e à demanda externa adicional. Nos primeiros sete meses do ano, as exportações da Tailândia totalizaram 4,8 milhões de toneladas, 20% a mais em relação a 2022. Atualmente, estima-se que as exportações cheguem a 8,5 milhões de toneladas em 2023.

Mas, essas estimativas podem ser revisadas para cima, dependendo de quanto tempo e como a Índia implementará suas medidas restritivas. A Tailândia espera recuperar alguns mercados da África perdidos por causa da política comercial agressiva da Índia. O preço do arroz Thai 100%B subiu para US$ 561,00 por tonelada em julho contra US$ 513,00 por tonelada em junho. O arroz parboilizado subiu para US$ 546,00 por tonelada contra US$ 510,00 por tonelada em junho. O arroz quebrado A1 Super subiu para US$ 470,00 por tonelada em julho contra US$ 434,00 por tonelada. No início de agosto, os preços continuam firmes, marcando o nível mais alto em 15 anos.

No Vietnã, os preços de exportação também foram afetados pelas restrições indianas, aumentando em média 6% em relação a junho. Entre meados de julho e início de agosto, os preços vietnamitas subiram US$ 100,00 por tonelada, atingindo o nível mais alto desde 2008. Os mercados domésticos estão sob pressão com aumentos de preços. Entretanto, as autoridades vietnamitas argumentam que essa é uma oportunidade de aumentar significativamente as exportações, além dos mercados tradicionais das Filipinas e da China. Nos primeiros sete meses do ano, as exportações do Vietnã atingiram 4,85 por tonelada, 20% a mais, e espera-se que se exporte pelo menos 8 milhões de toneladas, aproximando-se do recorde de 2014 (8,4 milhões de toneladas). O Veit 5% esteve cotado a US$ 535,00 por tonelada em julho contra US$ 504,00 por tonelada em junho. O Viet 25% foi cotado a US$ 515,00 por tonelada em julho contra US$ 484,00 por tonelada em junho. No início de agosto, os preços permanecem firmes.

No Paquistão, os preços do arroz também aumentaram significativamente em 6%, com a forte demanda externa desde finais de junho. A maior parte desse aumento aconteceu antes do anúncio da Índia. No início de agosto, o Paquistão também suspendeu as cotações devido à escassez de disponibilidades exportáveis, esperando a nova safra que começará a chegar nas próximas semanas, estimada em 30% a mais em relação à safra de 2022. Em julho, o Pak 25% atingiu US$ 487,00 por tonelada contra US$ 458,00 por tonelada em junho.

Nos Estados Unidos, os preços do arroz parecem estar desconectados dos mercados asiáticos, registrando até uma leve queda em relação a junho. Em julho, as exportações caíram significativamente para 120.000 toneladas, contra 245.000 toneladas em junho. No entanto, as vendas externas apresentam um atraso de apenas 1% em relação ao ano anterior na mesma época. As perspectivas de safras são positivas, estimadas em 20% acima de 2022. No entanto, a maior parte desse aumento será refletida nas exportações durante o ano 2024. O preço indicativo do arroz Long Grain 2/4 esteve cotado a US$ 725,00 por tonelada em julho, contra US$ 729,00 por tonelada em junho. No início de agosto, os preços estão com tendência de alta. Fonte: Informativo Mensal do Mercado Mundial de Arroz - CIRAD. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.