ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

17/Jul/2023

Camil: expectativa é positiva para o 2º semestre

Após um primeiro trimestre do ano fiscal de 2023 com resultados mais fracos que o esperado, a Camil mantém o otimismo quanto à demanda por seus produtos no acumulado do ano e vê a possibilidade de volumes mais expressivos no segundo semestre deste ano. Há alguns sinais de recuperação tanto no mercado acionário quanto com a maior confiança do consumidor. A própria deflação dos alimentos, que tem ocorrido recentemente, traz impacto positivo no poder aquisitivo da população, que pode gerar impacto positivo na demanda. A visão para o segundo semestre é mais positiva em relação ao início do ano. A companhia atua em arroz, feijão, café, açúcar, massas, pescados e biscoitos. A perspectiva é baseada na melhora sequencial dos volumes vendidos. Apesar da queda de 2,7% no volume vendido no 1º trimestre de 2023 ante igual período do ano passado, para 547,9 mil toneladas, o volume foi 17,5% superior ao reportado no trimestre anterior (quarto trimestre do ano fiscal de 2022).

A economia, como um todo, neste trimestre, foi bastante difícil. Os juros continuam altos, o poder aquisitivo continuou baixo e a demanda dos supermercados não aqueceu. O resultado da Camil ficou aquém da expectativa e do potencial, mas mostra a retomada do crescimento do volume sequencial comparado com o trimestre anterior, quase 23% no Brasil e 7% no internacional. No primeiro trimestre do ano fiscal do ano, encerrado em maio, a Camil reportou lucro líquido 33,9% menor na comparação anual, a R$ 64 milhões, o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) recuou 18,8%, para R$ 198,5 milhões. Já a receita líquida aumentou 10,7% na mesma comparação, de R$ 2,397 bilhões para R$ 2,654 bilhões. No segmento alimentício Brasil, a receita aumentou 6,6%, para R$ 1,867 bilhão. O segmento alimentício internacional teve receita líquida de R$ 529,3 milhões no primeiro trimestre fiscal, 25,3% maior na comparação anual. O resultado veio abaixo da expectativa. A previsão era de resultados superiores em volume, receita e margem operacional.

O ano se iniciou com dificuldades, mas a Camil consolidou a nova maneira de se posicionar no mercado com segmento de alto giro e alto valor agregado. Além disso, a receita bruta foi recorde para o trimestre, de R$ 3,1 bilhões. A empresa espera crescimento maior nos segmentos de maior valor agregado, o que engloba as categorias de pescados, massas, café e biscoitos. A empresa mantém a perspectiva de crescimento no ano e continuará buscando retomar a margem de rentabilidade histórica de 10%, mas em um prazo maior. A expectativa segue mantida, mas a visão é mais de médio prazo. O atingimento desse nível não deve ocorrer no curto prazo. A companhia encerrou o primeiro trimestre do ano com margem Ebitda de 7,5%, 2,7% abaixo do registrado em igual período do ano anterior. A pressão sobre o lucro deve se manter ao longo do ano, em virtude do aumento da despesa financeira da companhia, dado o maior nível da taxa de juros em relação ao ano fiscal de 2022 e a maior alavancagem média da Camil (após movimentos de aquisições no ano passado).

A expectativa é de um lucro mais pressionado no ano. As aquisições e investimentos concluídos em 2022 agregaram quase R$ 1 bilhão na dívida líquida, em cenário de juros mais altos, o que traz impacto adicional no nível da despesa financeira. A expectativa é de impacto maior da despesa financeira neste ano em relação ao ano passado, sendo ofensor no lucro líquido. Do lado dos custos, o comportamento muda de acordo com a categoria mas, de forma geral, a empresa não vê deflação de custos no curto prazo. No arroz, os preços devem seguir firmes, assim como, no açúcar que as cotações continuam fortes. Em feijão, houve queda expressiva. No trigo, houve recuo grande e aparentemente deve seguir esta tendência. Fora dos custos com aquisição de matéria-prima, há preocupação da Camil com as despesas de distribuição. A questão do frete preocupa, pois ainda há crescimento acima da inflação.

A Camil ainda está tentando entender o impacto na operação do julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o piso mínimo do frete (a Corte julgou alguns dispositivos da lei inconstitucional como jornada e período de descanso), mas deve haver incremento no custo de frete para as indústrias. Diante desse cenário de manutenção dos custos, uma das estratégias adotadas pela companhia tem sido a revisão dos custos internos em detrimento de atualizações dos preços finais. Obviamente um preço menor do produto gera maior volume e maior volume dilui custo, mas recuperar o preço de venda é mais difícil. A recuperação da rentabilidade acaba sendo pela via contrária. Este ano temos olhado muito para dentro, revisitando custos importantes detalhe a detalhe para tentar fazer a otimização financeira. No segmento internacional, a empresa espera maior estabilidade do que a vista no Brasil. Dos quatro países em que atua, as expectativas são positivas. No Uruguai, observa-se bastante estabilidade. No Chile, apesar do cenário mais adverso, a previsão é de recuperação, tanto de volume quanto em rentabilidade.

No Equador, o cenário é bastante otimista neste ano e deve superar as expectativas. No Peru, ainda não há sinal de reversão e a expectativa é baixa em relação ao mercado peruano para este ano. No primeiro trimestre deste ano, a Camil reportou vendas de 163,8 mil toneladas no segmento internacional, queda de 4,9% na comparação anual do período, mas alta de 7% ante o quarto trimestre do ano anterior. Para investimentos, a conjuntura continua exigindo cautela. A empresa vê que este ano representará um período maior de consolidação do que de investimento, após grandes aportes feitos em aquisições nos últimos 12 a 18 meses, quando adquiriu companhias no exterior e entrou nos segmentos de massas, café e biscoitos e cookies por meio de compra de outras empresas nacionais. A agenda interna é ‘colocar a casa em ordem’, conseguir colocar a nova Camil trabalhando de forma integrada. Isso é maior no momento do que buscar expansão ativa de aquisições. A cautela continua, apesar do mercado aparentemente melhor.

A Camil Alimentos vê a reforma tributária aprovada na Câmara dos Deputados como positiva para o setor. O principal ponto favorável é a desoneração de impostos sobre os alimentos da cesta básica. Para a companhia, o viés da reforma é positivo porque as principais categorias (feijão, arroz e massas) devem entrar na cesta básica com isenção de impostos. Do ponto de vista econômico, isso traz benefícios porque em base relativa esses alimentos tendem a ficar mais baratos que outros, o que gera estímulo para demanda maior para estes alimentos. A companhia atua também em café, massas, pescados e biscoitos, produtos também considerados como básicos. Outro impacto positivo é a maior competitividade para as empresas organizadas. Se existe alguma informalidade no mercado, quanto menor a alíquota, menor a vantagem para quem é informal e, com isso, traz maior competitividade para as empresas organizadas. A mudança do modelo tributário federativo com fim de alguns regimes de benefícios fiscais aplicados a Estados e regiões pode exigir alterações na distribuição fabril da companhia.

As mudanças, contudo, deverão ocorrer apenas com a vigência da reforma, a partir de 2032. Ainda há dúvidas em relação ao local ideal para operar cada categoria em relação à originação, ao mercado. Algumas plantas que operam hoje fazem sentido por conta do benefício tributário e tendo tributação mais isonômica devem deixar de fazer sentido e tendem a se transformar em centros de distribuição. A Camil está refletindo e ainda tem dez anos para discutir como será feito. A operação não depende tanto dessas plantas em locais incentivados, o que traz impacto menor que o visto por outras empresas. Em relação ao arroz, principal produto da empresa, o Rio Grande do Sul, que concentra a produção nacional do grão, deve virar referência de preço e de distribuição do cereal no País. Como a Camil tem posição muito relevante industrial e com capacidade de originação e distribuição, isso ajuda também. Ainda vai demorar um pouco para sentir os impactos que possam afetar o dia a dia, mas, como regra geral, olhando para o contexto do Brasil, a reforma tributária é considerada boa. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.