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17/Out/2022

Camil divulga os resultados do 2º trimestre fiscal

A Camil Alimentos, multinacional de origem brasileira, obteve lucro líquido de R$ 93,9 milhões no segundo trimestre fiscal de 2022, encerrado em agosto deste ano. O resultado representa queda de 11,8% ante igual período do ano passado, quando a companhia registrou lucro de R$ 106,5 milhões. O lucro por ação diminuiu 9,4% na comparação anual, para R$ 0,26. A companhia atua em arroz, feijão, café, açúcar, massas, pescados e biscoitos. A receita líquida aumentou 21,5%, de R$ 2,219 bilhões para R$ 2,697 bilhões no segundo trimestre fiscal deste ano. No segmento alimentício Brasil, a receita aumentou 12,2%, para R$ 1,874 bilhão. O segmento alimentício internacional obteve receita líquida 49,9% maior, de R$ 822,4 milhões. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) avançou 9,1% na mesma comparação, de R$ 191,1 milhões para R$ 208,5 milhões. A margem Ebitda cedeu 0,9% do segundo trimestre fiscal de 2021 para o segundo trimestre fiscal deste ano, encerrando o período em 7,7%. Os resultados ocorrem em meio a cenários desafiadores na América Latina. Entre eles, a retração de compras do varejo no Brasil em agosto e o cenário político-econômico desafiador no Peru e Chile. No Brasil, diante de um cenário de patamares elevados de preços de matérias-primas e maiores despesas para as indústrias, a Camil minimizou o efeito de cenários desafiadores com a tendência de repasse de preços ao consumidor e uma das mais completas plataformas de produtos e marcas líderes no mercado de alimentos na América Latina, que atendem todos os nichos de consumo.

A alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda) terminou o segundo trimestre fiscal deste ano em 2,6 vezes ante 1,5 vez obtido em igual período do ano fiscal anterior. No período, a companhia investiu (Capex) R$ 42,3 milhões, 3,6% menos que no segundo trimestre fiscal de 2021. Foi destacado como fato relevante do trimestre a aquisição da fabricante de biscoitos Mabel e o licenciamento da marca Toddy para cookies, anunciados em agosto, o que marcou a entrada da Camil em biscoitos. A aquisição traz complementaridade geográfica com potencial de cross-selling e expansão da presença da Camil nas Regiões Centro-Oeste, Nordeste e Sudeste do Brasil, além de sinergias de suprimentos, comercial e despesas gerais e administrativas. Esse é mais um importante passo para a diversificação da companhia, com categorias que detêm relevante potencial de crescimento e maior valor agregado, consolidando a Camil como plataforma de alimentos na América Latina. Até a conclusão do negócio, de R$ 152,8 milhões, a Camil continuará operando de forma independente da Mabel. A Camil reportou crescimento de 13,8% no volume total vendido de seus produtos no segundo trimestre fiscal deste ano, encerrado em agosto, em relação a igual período do ano passado, para 629,6 mil toneladas. O crescimento de 49% no volume vendido no segmento internacional, para 240,8 mil toneladas, compensou o leve recuo de 0,7% no volume de vendas do Brasil, de 388,8 mil toneladas. O Brasil representou 61,8% do volume vendido pela companhia no trimestre. No Brasil, o arroz lidera o volume de vendas da companhia, contribuindo com 51% do total do trimestre.

As vendas do grão em volume recuaram 4,1% na comparação anual, para 199,2 mil toneladas no segundo trimestre fiscal de 2022, enquanto o preço líquido do produto avançou 0,3%, para R$ 3,38 por Kg. O resultado foi impulsionado pela queda do volume da marca líder Camil e das outras marcas no trimestre. As vendas de feijão da Camil totalizaram 31,4 mil toneladas no período, avanço anual de 1,1%, enquanto o preço líquido subiu 7,5% para R$ 6,23 por Kg. Observou-se uma diminuição dos preços de feijão de um patamar de R$ 320,00 por saca de 60 Kg no trimestre para R$ 270,00 por saca de 60 Kg em outubro 2022, reflexo do desempenho com melhores condições climáticas para a atual safra. Em açúcar, o preço líquido obtido foi 10% maior na comparação anual, para R$ 3,37 por Kg, enquanto o volume vendido da categoria recuou 13,9%, a 124,5 mil toneladas. O impacto da safra no exercício demonstra um incremento dos preços de mercado a partir do começo de 2022, mantendo os preços de mercado de açúcar em patamares elevados. O segmento de pescados mostrou aumento de 37,6% no preço líquido e queda de 8,1% no volume vendido, respectivamente para R$ 29,50 por Kg e 7,3 mil toneladas. Os resultados do trimestre e do semestre foram influenciados pela redução de vendas da marca líder e da marca de ocupação de sardinha, parcialmente compensado pelo crescimento de vendas de ambas as marcas em atum. Ressalta-se o esforço de vendas da categoria de atum e a retomada recente de originação de sardinha, após ruptura observada no último exercício e no primeiro trimestre de 2022. O segmento de massas contribuiu com 23 mil toneladas vendidas com preço líquido de R$ 6,28 por Kg, resultados classificados pela Camil como sólidos.

O setor de café apresentou preço líquido de R$ 22,26 por Kg e 3,4 mil toneladas vendidas no trimestre. Ambos não possuem base comparativa em relação ao segundo trimestre fiscal do ano passado, porque são segmentos nos quais a empresa passou a atuar em outubro de 2021 e março deste ano, respectivamente. A empresa observou que os preços do trigo recuaram em meio à expectativa de uma produção recorde no Brasil e pelo início da entrada da safra, enquanto o retorno das chuvas nas regiões produtoras sustenta as cotações do café. No mercado internacional, o destaque foi o aumento de 52,6% no volume vendido no Uruguai, que representou 77% do volume internacional total, na comparação do segundo trimestre deste ano fiscal com o segundo trimestre do ano fiscal passado, para 184,8 mil toneladas, que compensou a redução de volume vendido de 4,1% no Chile (22,4 mil toneladas) e 4,8% no Peru (16,4 mil toneladas). O Equador contribuiu com 17,3 mil toneladas vendidas, mas sem base comparativa pelo fato de que a operação da companhia no País se iniciou após o primeiro trimestre fiscal do ano passado. O resultado do trimestre foi afetado pelo crescimento semestral e trimestral das vendas no Uruguai e entrada no Equador, parcialmente compensado pela redução trimestral e semestral de vendas no Chile e Peru, decorrente do impacto do cenário político e econômico em ambos os países. A Camil não viu no segundo trimestre fiscal de 2022, encerrado em agosto deste ano, efeito nas vendas de seus produtos vindo dos benefícios concedidos pelo governo federal. Ao fim do primeiro trimestre fiscal deste ano, encerrado em maio, os diretores da Camil disseram esperar impacto positivo do Auxílio Brasil de R$ 600,00 concedido pelo governo federal e dos benefícios a caminhoneiros e taxistas nas vendas dos alimentos produzidos pela empresa.

O impacto, contudo, não foi observado no volume vendido pela empresa no segundo trimestre no País, que recuou 0,7%, para 388,8 mil toneladas. Isso decorre da necessidade dos consumidores de utilizar os recursos para pagamento de dívidas, por exemplo. Era esperado um impacto positivo. No primeiro pagamento do auxílio, que ocorreu enquanto o brasileiro estava dentro de casa, o uso foi quase 100% destinado para alimentação. No entanto, após alguns meses, percebe-se que o brasileiro tem utilizado esse recurso para outras frentes, como pagamento de dívidas ou serviços, por exemplo. Os resultados obtidos pela Camil Alimentos no segundo trimestre fiscal de 2022, encerrado em agosto deste ano, foram significativos em meio ao contexto desafiador. O resultado mostra que um portfólio diversificado, operando em mais de uma categoria e país, ajudou neste contexto com um segmento contribuindo com outro. Houve queda de volume no Brasil, mas o segmento internacional ajudou tanto em volume quanto em receita nominal. O aumento da alavancagem e maior despesa para investimentos tiveram impacto direto no lucro líquido. Sobre os volumes, o leve recuo de 0,7% no Brasil, para 388,8 mil toneladas no segundo trimestre do ano fiscal de 2022, é atribuído ao ajuste feito por varejistas com menor ritmo de compras. Não foi identificada mudança no ritmo de venda do sell-out do varejista (venda para o consumidor final). O consumidor continua buscando itens básicos com a mesma intensidade, mas nota-se ajuste no capital de giro do supermercado em meio a taxa alta de juro e isso afeta diretamente o volume adquirido da indústria, o que foi significativo em grãos.

O volume vendido de grãos pela Camil no País recuou 3,5% na comparação anual do segundo trimestre, para 230,6 mil toneladas. Foi apontado também uma dinâmica mais competitiva no mercado de açúcar, com a indústria em geral estimulando maior produção de açúcar refinado que etanol. Em açúcar, a Camil abriu mão de receita para preservar rentabilidade por maior competitividade. O volume vendido de açúcar pela empresa no segundo trimestre do ano fiscal de 2022 cedeu 13,9% em relação a igual período de 2021, para 124,5 mil toneladas. Quanto ao incremento de 49% no volume vendido no segmento Internacional, para 240,8 mil toneladas, a dinâmica é diferente do mercado brasileiro. A plataforma é puxada pelo Uruguai, que representa 50% do resultado e influencia diretamente no desempenho internacional geral. O Uruguai ainda é uma plataforma de exportação de arroz para o mundo. É uma dinâmica diferente, do ponto de vista de volume, porque se é deixado embarcar algum volume em um trimestre é direcionado para outro. Dessa forma, o resultado do Uruguai precisa ser olhado anualmente. No trimestre, o país reportou volume muito forte de vendas e resultado nominal positivo. Nesse trimestre, o Uruguai compensou a falta de volume do Brasil e ajudou muito a performance internacional, mas não dá para projetar determinado crescimento porque está limitado a arroz e ao período. Segundo a Camil, a indústria de alimentos deve observar uma menor pressão de custos, tanto de matéria-prima quanto de mão de obra no último trimestre deste ano. Não há perspectiva de mudança grande em feijão, arroz e açúcar. Em massa, há instabilidade por conta do cenário internacional do trigo.

Em fretes e mão de obra, o cenário está um pouco mais estável. Entretanto, ainda há necessidade de repasse pela empresa ao preço final dos produtos a fim de recuperar a rentabilidade almejada de margem Ebitda de 10% (encerrou o 2º trimestre fiscal do ano de 2022 em 7,7%). Para atingir esse objetivo, é um mix de gastar menos e melhorar a rentabilidade. Para o restante do ano, há menor probabilidade de mudança na base de custo, portanto, qualquer reajuste em preço pode influenciar a rentabilidade. Por isso, há necessidade de reajuste para recuperar as margens. Apesar do leve recuo de 0,7% no volume vendido no Brasil no segundo trimestre do ano fiscal de 2022, a Camil ainda vê demanda "normal" de seus itens. A companhia não identificou mudança no ritmo de venda do varejista ao consumidor final, mas sim um ajuste de estoques pelo varejo que levou à redução nas vendas pela indústria. No momento, há normalidade e não há muita alteração de demanda. Os produtos da companhia possuem característica de baixa elasticidade, por serem básicos. Sazonalmente, no trimestre pode haver mudança no volume, mas o hábito do consumidor não mudou. São produtos que, tradicionalmente, não têm substitutos de igual valor agregado ao consumidor. A Camil está mais cautelosa quanto as suas expectativas para o ano fiscal de 2022. Até o fim do primeiro trimestre do ano fiscal de 2022, a companhia previa crescimento em todas as suas categorias: arroz, feijão, café, açúcar, massas, biscoitos e pescados. Mas, a percepção é de um mercado mais difícil do que no início do ano fiscal. No médio prazo, a expectativa continua positiva. Para o acumulado do ano fiscal, há cautela.

Talvez o crescimento em todas as categorias não se confirme. A maior cautela é atribuída ao ajuste do inventário pelo varejo, que gerou leve recuo de 0,7% no volume vendido no País no segundo trimestre do atual ano fiscal. Conforme a Camil, supermercadistas vêm ajustando a compra de itens para alongamento de estoques, dado o elevado custo do capital de giro em meio a alta taxa de juros. O ajuste do inventário do varejo tem efeito relevante. Dez a quinze dias de compras menores do varejo, representam meio mês para a indústria, que ao todo no ano podem significar diferenças de 4% a 5%, o que pode ser significativo para haver ou não crescimento em determinada categoria. Nos novos segmentos em que a companhia atua, como café e massas, o desempenho tem sido muito significativo e acima das áreas anteriores. Em massas, a marca Santa Amália está operando melhor do que operava tanto em volume quanto em rentabilidade do que operava antes da aquisição. Em café, o segmento ainda está aquém do objetivo, mas em ordem de grandeza é significativo, com volume anual de R$ 300 milhões. O segundo trimestre marcou um ponto de transição para a companhia com foco em produtos com maior valor agregado a fim de recuperar o patamar de rentabilidade que almeja. O segundo trimestre marca o início dessa fase nova da companhia de portfólio bem amplo e com negócios de maior valor, o que tende a sustentar resultados maiores daqui para frente. A recuperação da margem Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de 10% e o alcance de receita líquida superior a R$ 10 bilhões permanecem nos objetivos da empresa.

No segmento internacional, a companhia vê um mercado difícil no Peru e no Chile em virtude do cenário econômico. No Equador, continua operando dentro do esperado quando houve a aquisição da Dajahu, de arroz. O Uruguai possui uma dinâmica própria de acordo com conjuntura de exportação de arroz. Após anunciar a aquisição da Mabel, de biscoitos, em agosto e de concluir outras quatro transações no último semestre, a Camil Alimentos tende a moderar seu apetite por novos negócios ao longo deste ano. A situação atual é mais complexa do ponto de vista de integrar negócios e, por isso, o apetite é menor. A Camil continua olhando oportunidades, mas tem consciência de que é preciso olhar para dentro para capturar sinergias, explorar mercado e a melhor capacidade de venda. É preciso organizar e extrair maior valor da companhia e maior entrega do portfólio que está mais amplo. Entretanto, a chamada expansão inorgânica, por meio de fusões e aquisições de outras empresas, segue no radar da Camil, mesmo com o ritmo mais moderado. A empresa continuará ativa e perseguindo aquisições que façam sentido. São classificas como "aquisições que façam sentido" marcas de maior rentabilidade, de maior valor agregado, que mirem a internacionalização e a diversificação de segmentos da multinacional brasileira. Do ponto de vista geográfico, há oportunidades para serem exploradas em países da América do Sul e da América do Norte. Em segmentos, pode-se citar, por exemplo, que a empresa vê espaço para ampliação na cadeia de trigo, na qual opera em massas e biscoitos e ainda não atua na vertical de farinha do cereal. Ainda não está atuando em farinha, que é um negócio tanto para autossuficiência quanto para varejo. É um negócio que está sendo estudado.

No segmento de café, no qual a empresa passou a atuar em março deste ano com a aquisição das marcas Seleto, Bom Dia e Sul de Minas, a Camil espera encerrar os investimentos na expansão da fábrica em meados de fevereiro e março de 2023. A previsão é atingir capacidade instalada de produção de aproximadamente 5 mil toneladas por mês de café torrado e moído na planta de Varginha (MG), onde o grão é empacotado e distribuído. Isso permitirá maior capacidade de entrega e maior pulverização da marca. Atualmente, a capacidade instalada da planta é de moagem e torra de 3 mil toneladas por mês, sendo utilizada de 1,1 mil a 1,2 mil toneladas por mês. Há capacidade instalada para duplicar a produção e até fevereiro devemos ter capacidade quatro vezes maior. O aporte para ampliação da planta é em torno de R$ 20 milhões. A Camil também está investindo na expansão geográfica do segmento de café, hoje com as vendas concentradas em São Paulo e no Rio de Janeiro. A companhia já possui iniciativas para comercialização nas Regiões Sul e Nordeste, focadas em produtos específicos. Do ponto de vista de Estados, a Camil começou a ter maior amplitude e está testando alguns Estados para fazer uma entrada mais expressiva. No segundo trimestre do ano fiscal de 2022, a companhia comercializou 3,4 mil toneladas de café, 79% a mais que no trimestre anterior. Além do M&A, a Camil também mantém o projeto de construção de uma nova fábrica de arroz em Cambaí, na região de Itaqui (RS). A obra, contudo, ainda depende de licenciamento ambiental para ser iniciada. O plano de investimento continua. Talvez não haja a mesma ansiedade para realizar o investimento em virtude do cenário de alta dos juros. Mas, do ponto de vista operacional e de retorno de negócio, o investimento faz sentido e será realizado, embora com mais cautela e rigor. A planta exigirá aporte de R$ 250 a R$ 300 milhões, com execução estimada de 18 a 24 meses. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.