06/Jul/2022
Dado o contexto de receio de recessão global e os dados de inflação prolongada e juros altos no País, analistas ainda têm entre suas ações preferidas do setor de varejo o papel defensivo do Assaí, que vende alimentos a preços atrativos e, por isso, tende a se sair bem em momentos de crise. Apesar de também enxergarem oportunidades de alta para outras ações do segmento alimentar, como o Carrefour, o atacarejo puro parece oferecer mais conforto para os investidores. Inicialmente, a compra dos cerca de 70 pontos comerciais da bandeira de hipermercados do Extra pelo Assaí causou desconforto entre muitos analistas. Eram duas questões principais: o preço pago e o vendedor dos ativos. Os pontos custaram R$ 5,2 bilhões à rede de atacarejo e o vendedor, o GPA, pertence ao mesmo controlador que o Assaí. Apesar de as empresas terem declarado que o controlador se absteve de votos na aprovação da transação, o mercado viu um possível problema de governança na história.
Os papéis do Assaí chegaram a cair 30% neste contexto. Depois, a matemática dos pontos adquiridos prevaleceu. O Citi, por exemplo, escreveu ainda em março que, apesar do desconforto do mercado com algumas características da transação, havia oportunidades claras no papel. A queda de 30% no valor das ações, à época, refletiu o ceticismo dos investidores sobre o negócio dado o valor pago (nas lojas do Extra Hiper), maior alavancagem em um momento de alta das taxas de juros e preocupações com governança corporativa. Dito isso, há uma assimetria no valor atribuído ao em Assaí: supondo que, uma vez convertidas, as lojas do Hiper atingem produtividade em linha com a atual, de aproximadamente R$ 4,5 por km² por mês, e margem Ebitda de 7,5%, estima-se que o lucro líquido da companhia pode chegar a R$ 2,9 bilhões até 2024. Nos últimos 12 meses, o papel ainda acumula queda de 16%, enquanto em 2022 já tem alta de 10%.
Contribuem para a visão mais positiva o atual o contexto macroeconômico de medo de uma recessão global, no qual a venda de alimentos é um dos setores de resiliência, e o fato de a companhia estar 100% dentro do segmento de atacarejo, ainda está em franco crescimento. O Carrefour Brasil, por exemplo, tem a bandeira de atacarejo Atacadão no portfólio, mas quem compra esse papel também investe nas bandeiras de hipermercado da companhia. Segundo a XP, as pessoas tendem a ser mais conservadoras nesse contexto. Dentro do varejo, a casa tem preferência pelas ações do Assaí e de empresas ligadas ao consumo das classes de alta renda, como o Grupo Soma, Arezzo e Vivara. O princípio é o mesmo: apostar em segmentos que mantêm vendas mesmo em situações econômicas difíceis. Ainda assim, o Assaí parece um lugar mais seguro que os demais para alguns investidores. A tendência é que os investidores busquem papéis nos quais há conforto para o momento. O Assaí é mais resiliente nas vendas, tem boa execução e ainda tem a expansão de lojas, que gera crescimento.
Tanto o Carrefour Brasil, com o Atacadão, também captura esses fundamentos, mas como a empresa também está exposta aos hipermercados, que têm o modelo questionado, a atratividade diminui. O Citi pontuou recentemente algumas questões relativas à compra do Grupo Big pelo Carrefour. O preço indicado para a conversão de lojas do Big para as bandeiras do Carrefour e Atacadão (R$ 2,1 bilhões) e a decisão da empresa de manter algumas bandeiras da rede adquirida pesaram contra a avaliação do papel. Por fim, o Grupo Pão de Açúcar, que vendeu os pontos comerciais para o Assaí e continuou com bandeiras de supermercados e mercados de proximidade, sofre com a falta de visibilidade que os analistas têm do que será o "novo GPA". A companhia perdeu receita com o encerramento das lojas de hipermercado, mas aposta na maior rentabilidade do negócio que restou. Para o Citi, porém, a empresa só começará a receber recursos em caixa no segundo semestre de 2022; como tal, suas despesas financeiras líquidas só cairão a partir de 2023. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.